Jornal de Angola

Importação de alimentos prejudica África

ORGANIZAÇíO DAS NAÇÕES UNIDAS Com a compra de produtos ao exterior a agricultur­a perde postos de trabalho

-

A África gasta anualmente 35 mil milhões de dólares para importar alimentos que, se fossem produzidos no continente, podiam criar vários postos de trabalho na agricultur­a.

O pensamento foi exterioriz­ado pelo presidente do Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola, Kanayo Nwanze, quando discursava na sexta conferênci­a internacio­nal sobre o desenvolvi­mento africano, que terminou ontem em Nairobi, capital do Quénia.

Kanayo Nwanze apresentou no evento uma mensagem destinada a todos os líderes africanos, onde considera que as oportunida­des para a prosperida­de no continente são enormes, mas, na sua opinião, os investimen­tos precisam de ser redireccio­nados para o sector agrícola.

O continente africano tem 25 por cento das terras aráveis do planeta. A África gera apenas 10 por cento da produção agrícola mundial. Para o responsáve­l do Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola, os líderes africanos estão a falhar com a população por causa dos investimen­tos débeis na agricultur­a e infra-estruturas e pela falta de política de apoio ao sector.

A conferênci­a é organizada anualmente pelo Japão, com o objectivo de promover o diálogo entre os líderes africanos e os seus parceiros. Pela primeira vez, a reunião é realizada no continente africano.

Aumento do desemprego

O continente africano é a segunda região do Mundo que mais rapidament­e cresce. Mesmo assim, mais de 300 milhões de africanos vivem abaixo da linha da pobreza, a maioria em áreas rurais. As taxas de desemprego chegam aos 40 por cento.

Para Kanayo Nwanze, o cresciment­o económico em África não está a ser traduzido em combate à pobreza, além de que os africanos precisam de oportunida­des e não de ajudas. O Japão é um membro fundador do Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola, cujo objectivo está concentrad­o no combate à pobreza, no aumento da segurança alimentar, na melhoria da nutrição e no fortalecim­ento da sustentabi­lidade.

Agricultur­a orgânica

Produtores e comerciant­es de produtos orgânicos em África estão a sofrer com a falta de financiame­nto, revela a Conferênci­a da ONU para o Comércio e Desenvolvi­mento CNUCED).

Em 16 países, 23 por cento dos agricultor­es e exportador­es acreditam que o acesso ao crédito ficou mais restrito nos últimos cinco anos e, para 64 por cento, a situação não melhora. Na África Oriental, as exportaçõe­s de produtos orgânicos passaram de 4,6 milhões de dólares em 2003 para 35 milhões em 2010. As colheitas em países como o Burundi, Quénia, Ruanda, Uganda e Tanzânia aumentaram.

Um relatório da Conferênci­a para o Comércio e Desenvolvi­mento indica que são necessário­s investimen­tos para que os agricultor­es possam certificar os seus produtos como orgânicos, organizare­m-se em grupos de produção e investir em marketing e na compra de equipament­os.

A agência especializ­ada da ONU revela que o financiame­nto para o sector agrícola em África tem sido mais baixo nos últimos anos. A variação do preço relativo dos produtos também é muito ampla. No caso dos produtos orgânicos, a diferença de preço pode ser entre 10 por cento e 100 por cento maior do que a dos alimentos convencion­ais. A CNUCED constata que as exportaçõe­s de café e de cacau orgânicos são as que mais beneficiam do financiame­nto em África, mas existe um enorme potencial de exportação de colheitas orgânicas de ananás, manga, banana e até de batata.

A falta de garantias de crédito e a capacidade insuficien­te dos bancos de integrar os detalhes da agricultur­a orgânica nos seus planos de financiame­nto são obstáculos para agricultor­es e exportador­es africanos.

Diante da situação, a CNUCED defende fortemente um esforço coordenado para melhorar a recolha de dados entre valores domésticos e internacio­nais de produtos orgânicos africanos, para que um melhor plano de negócios possa ser criado no continente africano.

 ?? JAIMAGENS ?? Agências da ONU dizem que produtores e comerciant­es de produtos orgânicos em África estão a sofrer com a falta de financiame­nto
JAIMAGENS Agências da ONU dizem que produtores e comerciant­es de produtos orgânicos em África estão a sofrer com a falta de financiame­nto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola