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O primeiro-ministro mais novo da História da Tunísia, Youssef Chahed, com apenas 40 anos, marcou a diferença com a sua coragem ao anunciar uma agenda marcada pela austeridade, numa altura em que os tunisinos quase já não têm forças para aguentar sacrifícios nem disputas políticas.
Youssef Chahed disse com frontalidade que achou necessário que o envolvimento de todas as forças vivas da nação era fundamental para evitar uma onda de despedimentos na função pública, encerramento de empresas, corte de financiamento a programas de grande pendor social e baixa substancial nos indicadores de crescimento do país.
O novo primeiro-ministro da Tunísia deixou nas entrelinhas que está a ser empurrado por esse caminho pelos grupos de especuladores que dominam o mercado internacional. “Temos que fazer sacrifícios, se queremos evitar uma austeridade gritante, como a que assistimos em outros país”, apelou o primeiro-ministro aos tunisinos.
O novo governo da Tunísia foi aprovado no Parlamento com a expectativa de tirar o país do caminho da austeridade e das jogadas políticas baixas, como argumentou um deputado que apoia o partido no poder.
A Tunísia já vai no sétimo Governo desde a chamada “Primavera árabe” que derrubou o presidente Zine al-Abdine Ben Ali. Apesar de círculos na imprensa internacional apregoarem que o país foi o único do mundo árabe a concretizar a transição para a democracia, o certo é que para muitos tunisinos as condições de vida pioraram e a economia regista um nível mais baixo. O actual primeiro-ministro enfrenta uma crise económica e social de grande dimensão, que dura desde 2011. “Este é o Executivo mais jovem e com mais participação de mulheres que, pela primeira vez, assumem ministérios estratégicos”, afirmou o chefe do Governo.
Na chefia do aparelho de Estado estão cinco integrantes com idades abaixo dos 40 anos e oito mulheres, entre as quais, Lamia Zirbi, responsável pela pasta das Finanças. A escolha de Youssef Chahed como chefe do Governo põe fim a um caminho delicado, iniciado a 2 de Junho, depois de Beji Caïd Essebsi, presidente tunisino, ter apresentado a proposta para que fosse formado um Executivo de unidade nacional.
No final de Julho, o Parlamento retirou a confiança a Habib Essid, o ex-primeiro-ministro, abrindo desse modo a possibilidade de formação de um novo Governo. A situação política na Tunísia está longe de encontrar uma estabilidade, a julgar pelas disputas que surgiram imediatamente ao afastamento de Ben Ali. O primeiro Governo de unidade nacional da Tunísia desmoronou-se poucas horas após ter assumido funções, no meio de uma vaga de protestos contra a inclusão de figuras ligadas ao ex-Presidente.
Trajectória forçada
Os tunisinos, cujos protestos forçaram a fuga do Presidente, não parecem dispostos a aceitar que 12 dos 20 ministros sejam membros da União Constitucional Democrática (RDC), o partido do líder deposto. A União Geral dos Trabalhadores Tunisinos (UGTT) anunciou a saída do Governo dos seus três representantes. Desde então, acabaram-se as desculpas de falta de entendimento devido à presença de membros do governo de Ben Ali em novos cargos políticos. Sadok Chouru, de 63 anos, foi líder do movimento islâmico tunisino proibido Ennahda (Renascimento) e libertado a 30 de Outubro, depois de 20 anos na prisão pelas suas actividades políticas. Um portavoz do Ennahda, Houcine Jaziri, afirmou à agência AFP, na altura, que o movimento “não vai apresentar um candidato à presidência nas eleições previstas para dentro de seis meses, mas que pretende participar nas legislativas”, considerando que não havia transição democrática na Tunísia sem o seu movimento.
Passados cinco anos, a Tunísia continua na mesma. Ou seja, as forças políticas estão a mostrar incapacidade para dar um rumo ao país, permitindo o surgimento de políticos e partidos sem ambição e clareza para concretizarem os seus programas. A situação agravou-se com a incapacidade das forças de defesa e segurança em lidar com as manifestações e o terrorismo. O país sofreu actos de sabotagem, assassinatos indiscriminados e ataques terroristas sem precedentes. O turismo, o sector que gera o maior número de receitas do Estado, está praticamente inoperante. Youssef Chahed, actual primeiroministro, assumiu a responsabilidade de colocar a Tunísia no caminho do crescimento. A imprensa tunisiana, apesar de dar o benefício da dúvida, aponta uma série de entraves no caminho da governação como a falta de sentido de Estado e patriotismo na maior parte das figuras de grande influência, o que pode dificultar o programa do novo Governo e impedir a aplicação das mudanças necessárias, para evitar a austeridade.