João Ntyamba pede mudanças
Com seis presenças consecutivas nos Jogos Olímpicos, nas edições de Seul, Barcelona, Atlanta, Sidney, Atenas e Pequim, o antigo fundista João Ntyamba é o atleta que mais vezes representou o país na maior montra do desporto mundial. O antigo atleta defende mudanças na gestão do desporto.
Com seis presenças consecutivas nos Jogos Olímpicos, Seul'1988, Barcelona'1992, Atlanta'1996, Sidney'2000, Atenas'2004 e Pequim'2008, o antigo fundista João Ntyamba é o atleta angolano que mais vezes representou o país na maior montra do desporto mundial. Em entrevista ao Jornal de Angola, Ntyamba falou da participação na prova mais emblemática e do significado a nível pessoal, lamentando o facto de nunca ter sido convidado a integrar uma Missão Angolana. Apontou as estratégias a serem adoptadas para que Angola passe a competir e, por último, abordou a possibilidade de se candidatar à presidência da Federação Angolana de Atletismo (FAA).
Jornal de Angola: Todo o atleta almeja estar nos Jogos Olímpicos, pelo menos uma vez. João Ntyamba esteve em seis edições consecutivas. O que isso representa para si?
João Ntyamba:
É motivo de orgulho pessoal, satisfação e sentimento de dever cumprido. Todas as edições foram motivo de alegria. Apesar de participar em seis edições, é sempre uma novidade. É importante que haja sempre motivação para alcançar os sonhos traçados".
Jornal de Angola: Das seis edições em que participou, qual foi a mais marcante e por quê?
João Ntyamba:
Todas foram marcantes. Mas Seul'1988 teve um significado especial. Por ser a estreia. Eu não quis acreditar que estava ali a representar o país. As coisas aconteceram muito rapidamente. Foi um momento único. Seul marcou muito a minha carreira desportista. Ainda era muito jovem, com 20 anos. Vivi experiências incríveis.
Jornal de Angola: A última edição dos Jogos Olímpicos decorreu na cidade brasileira do Rio de Janeiro. Por quê razão não integrou a lista de convidados da Missão Angolana?
João Ntyamba:
Prefiro não cantar a música do Bonga "tenho uma lágrima no canto do olho". Nunca fui convidado. O Comité Olímpico e o Ministério da Juventude e Desportos têm cometido muitos erros, ao colocarem na lista pessoas que nada têm a ver com o desporto. Por causa disso, têm surgido muitas falhas. O pugilista angolano nos Jogos de Londres'2012 falhou a pesagem. Até hoje ninguém foi responsabilizado e muitos pensam que o erro foi do atleta. Era responsabilidade dos dirigentes orientarem o pugilista. Muitos convidados fazem o papel de figura decorativa e vão sempre. É preciso mudar este quadro.
Jornal de Angola: Que deve ser feito para inverter o quadro?
João Ntyamba:
É preciso colocar as pessoas certas nos lugares certos. As pessoas devem ser chamadas em função do mérito. Temos o péssimo hábito de não imitar o que os outros fazem bem. Não é a primeira vez que não sou tido nem achado. Se existe um motivo, devem explicar. A minha maneira de ser e estar não deve ser impedimento. Não podemos ter todos a mesma opinião. A judoca Antónia de Fátima "Faia" viajou sem o treinador. Creio que era mais importante levar o técnico e não um convidado. A organização dos Jogos convidou-me para dar uma palestra na cidade de Minas Gerais. Depois seguiria para o Rio de Janeiro. Apresentei
Antigo fundista destaca apoio do Estado e questiona o destino dado aos investimentos
a documentação ao Comité Olímpico e recebi garantias de que tratariam da viagem. Mas, no final, as coisas não aconteceram. Já houve situações em que o meu passaporte desapareceu.
Jornal de Angola: Angola já marcou presença em muitas edições, mas os resultados ainda estão aquém do pretendido. Que precisa ser feito para que os atletas deixem de participar e passem a competir? João Ntyamba:
O principal problema está na estrutura. Alguns dirigentes não percebem o que é Alta Competição. Nalguns casos, associações e clubes estão de costas viradas. É nos clubes onde se vai buscar os melhores, que depois vão representar o país. O Estado deve arcar com as despesas relacionadas com os estágios. Jogos Olímpicos é o momento mais alto da vida do atleta. É preciso que se invista mais. Não pode ser com pessoas erradas. O Estado tem feito muito. As federações e o Ministério reclamam sempre. É preciso saber para onde vai o dinheiro.
Jornal de Angola: Que avaliação faz do desempenho dos atletas angolanos nos Jogos do Rio de Janeiro?
João Ntyamba:
Aproveito o momento para felicitar a Selecção Nacional de andebol, que alcançou os objectivos, apesar de não ter saído para estágio. As atletas conseguiram uma classificação inédita e melhoraram a prestação passada. Ainda assim, é preciso continuar a investir, porque elas deram mostras de que podem chegar longe. No atletismo, o atleta que representou o país correu menos rápido, comparado aos que disputaram o nacional. O atletismo depende de marcas. Ainda que for por convite, é importante convocar o atleta com o melhor tempo.
Jornal de Angola: Que análise faz dos Jogos disputados pela primeira vez na América do Sul, face às criticas que surgiram no início da prova?
João Ntyamba:
Quando pensamos em mudança, há sempre resistência e as críticas não podem faltar. As pessoas ficam receosas. O Brasil deu uma resposta à altura das críticas que recebeu. A organização fez o que lhe cabia. A cerimónia de abertura foi a melhor de todo os tempos.
Jornal de Angola: Existe a possibilidade de candidatar-se à presidência da Federação, para o novo Ciclo Olímpico, depois da tentativa de 2012?
João Ntyamba:
É prematuro apresentar uma candidatura. Dependo de outras pessoas. Por norma, é um grupo com os mesmos objectivos que se junta. Também não sei se existe outro candidato. Ser presidente da Federação é um sonho, mas pode nunca se realizar. Ainda assim, gostaria de contribuir para o crescimento e mudanças no atletismo.