Principais partidos guineenses ainda distantes do entendimento
Os dois principais partidos guineenses mantêm as divergências quanto à fórmula para tirar o país da crise política em que se encontra há mais de um ano, um dia depois de se multiplicarem no Conselho de Segurança da ONU os apelos ao diálogo e ao apoio internacional e os alertas para as consequências do impasse político na Guiné-Bissau.
À saída de um encontro entre representantes das duas forças políticas, Manuel dos Santos, do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e Carlitos Barai, do Partido de Renovação Social (PRS), divergiram quanto às conclusões do encontro.
Manuel dos Santos apontou avanços nas negociações, para a formação de “um governo sério” liderado por um outro primeiroministro, mas Carlitos Barai disse persistirem as divergências sobre os pontos em agenda.
Cada partido continua a ter a sua interpretação sobre a crise, de modo que não é por agora que vamos ter um acordo”, sublinhou, antes de acrescentar que o PAIGC indicou três pontos para as conversações: princípios e regras para uma sã convivência democrática entre os dois partidos, causas do bloqueio no Parlamento e como salvar a actual legislatura. O dirigente do PRS disse serem divergentes as opiniões dos dois partidos sobre os três pontos, pelo que a comissão, que toma parte nas conversações, vai ter que pedir a anuência da direcção do partido sobre a necessidade de continuar com as conversações com o PAIGC.
Manuel dos Santos, por seu lado, afirmou que as negociações com o PRS se destinam à formação de um novo governo de consenso entre os dois partidos.
Admitiu “avanços significativos” nas negociações com o PRS, mas alertou que “ainda não se pode falar em entendimento que conduza à assinatura de um acordo para a criação de um governo a sério para dirigir o país.”
Manuel dos Santos afastou qualquer possibilidade de o próximo governo ser formado, a partir do entendimento entre dois partidos, por um dos 15 deputados expulsos do PAIGC. O actual é chefiado por Baciro Djá, precisamente um dos 15 deputados expulsos do PAIGC.
Os partidos devem voltar a encontrar-se amanhã. O PRS condiciona o encontro à decisão da comissão política do partido.
No mesmo dia, em Nova Iorque, ao apresentar o mais recente relatório do Secretário-Geral da ONU sobre a situação neste país da África Ocidental, o novo enviado especial da organização àquele país afirmou que o bloqueio político trava a resolução dos problemas profundos da Guiné-Bissau e a ausência de um programa aprovado pelos deputados eleitos pelo povo “impedem o Governo de levar a cabo as reformas necessárias para a estabilidade institucional.”
Modibo Touré sublinhou a importância de promover-se políticas para o crescimento económico e de luta contra a pobreza e as más condições de vida da população e pediu aos líderes políticos guineenses para porem de lado os interesses partidários e focarem no interesse nacional e no bem-estar da população.
O Conselho de Segurança ouviu a encarregada de negócios da Guiné-Bissau junto à ONU, que apelou à ajuda internacional “para aliviar as imediatas dificuldades socioeconómicas” dos guineenses. “Sabemos que a concretização dos compromissos da mesa internacional de doadores pode estar à espera de um ambiente político facilitador no país, mas a população em sofrimento não pode esperar”, disse Maria-Antonieta Lopes d'Alva.
A Guiné-Bissau, acrescentou, está preocupada com a eventual saída da missão da ONU do país em Fevereiro de 2017, e espera, nessa altura, encontrar uma forma de caminhar sozinha “para garantir a paz e que os militares, que se têm mantido fora da cena política, assim se mantenham.”