Controlo financeiro pode gerar lucros
A notificação judicial da Polícia Federal brasileira, para afastamento do presidente da Federação de Taekwondo, logo após o término dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, é oportunidade para cogitarmos, como vai, em casa nossa, a gestão financeira do desporto e tentar apurar que diferença existe, entre as dotações encaminhadas para a actividade desportiva e o valor líquido que chega ao consumidor final, em Angola.
Sendo verdade que a analogia é difícil de se fazer, por serem realidades diferentes, não deixa de ser óbvio que o elevado capital financeiro, que normalmente sustenta o desporto, é denominador comum, gerando apetência para a fraude.
O controlo das verbas disponibilizadas é tão importante, como a cedência do próprio valor monetário em si. Só assim é possível assegurar que, de facto, o capital injectado é dirigido à cumprir os fins para os quais está destinado. Neste particular, as reclamações dos desportistas devem ser sempre um indicador importante, para aquilatar o real estado das coisas.
As motivações para a prática de crimes, na hora de gerir os meios financeiros do desporto, também fazem morada no nosso país. Suspeitas e denúncias têm sido lançadas, frequentemente, com alguma frequência e credibilidade. É, pois, previsível haver no mínimo, alguns deslizes.
Tal como funcionam as coisas, nesta altura, a gestão desportiva é uma espécie de “El Dorado”, onde a despesa apresentada para justificar a compra de uma bola, pode estar dez vezes acima do valor real, sem que isso signifique, necessariamente, problemas para os gestores. Não é pois de espantar que, em alguns casos, as nossas selecções tiveram orçamentos superiores aos da média, mesmo comparando com países mais desenvolvidos e com objectivos desportivos acima dos nossos.
Porém, na prática, é frequente ouvirmos a voz dissonante dos atletas, reclamando, legitimamente, na maior parte dos casos, por condições básicas.
Para garantir a transparência, numa área que se perfilha como escola de valores, é necessário que elementos conhecedores do quotidiano desportivo auxiliem as autoridades a identificar cenários de crime. Os próprios jogadores são capazes de identificar material sem qualidade, presumivelmente comprado a preço de ouro.
Embora tenha a sua especificidade, o desporto não pode estar isento do senso comum de justiça, sobretudo no cenário actual, onde refrear a apetência para o desvio do erário público significa nada mais, nada menos, do que ganhar dinheiro para o próprio desporto.
Falta, além de tudo, cultura de tratar as situações em foro próprio. Fernando de Carvalho, porta-voz da Investigação Criminal de Luanda, confirmou haver pouca rotina de averiguação de eventuais crimes, no âmbito das actividades desportivas, sobretudo porque as federações respondem directamente ao Ministério da Juventude e Desportos e, na generalidade, há poucas denúncias de irregularidades, embora as revelações feitas à imprensa sejam também fontes de pesquisa para a polícia tentar apurar crimes.
A denúncia dos cidadãos é sempre um meio mais confiável para as autoridades policiais.
Basicamente, numa altura em que o desporto vai (sobre)viver com menos dinheiro, a importância de garantir que este chegue ao desportista, pode fazer toda a diferença, na qualidade do desempenho das nossas equipas e selecções nacionais.