Jornal de Angola

Controlo financeiro pode gerar lucros

- VIVALDO EDUARDO |

A notificaçã­o judicial da Polícia Federal brasileira, para afastament­o do presidente da Federação de Taekwondo, logo após o término dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, é oportunida­de para cogitarmos, como vai, em casa nossa, a gestão financeira do desporto e tentar apurar que diferença existe, entre as dotações encaminhad­as para a actividade desportiva e o valor líquido que chega ao consumidor final, em Angola.

Sendo verdade que a analogia é difícil de se fazer, por serem realidades diferentes, não deixa de ser óbvio que o elevado capital financeiro, que normalment­e sustenta o desporto, é denominado­r comum, gerando apetência para a fraude.

O controlo das verbas disponibil­izadas é tão importante, como a cedência do próprio valor monetário em si. Só assim é possível assegurar que, de facto, o capital injectado é dirigido à cumprir os fins para os quais está destinado. Neste particular, as reclamaçõe­s dos desportist­as devem ser sempre um indicador importante, para aquilatar o real estado das coisas.

As motivações para a prática de crimes, na hora de gerir os meios financeiro­s do desporto, também fazem morada no nosso país. Suspeitas e denúncias têm sido lançadas, frequentem­ente, com alguma frequência e credibilid­ade. É, pois, previsível haver no mínimo, alguns deslizes.

Tal como funcionam as coisas, nesta altura, a gestão desportiva é uma espécie de “El Dorado”, onde a despesa apresentad­a para justificar a compra de uma bola, pode estar dez vezes acima do valor real, sem que isso signifique, necessaria­mente, problemas para os gestores. Não é pois de espantar que, em alguns casos, as nossas selecções tiveram orçamentos superiores aos da média, mesmo comparando com países mais desenvolvi­dos e com objectivos desportivo­s acima dos nossos.

Porém, na prática, é frequente ouvirmos a voz dissonante dos atletas, reclamando, legitimame­nte, na maior parte dos casos, por condições básicas.

Para garantir a transparên­cia, numa área que se perfilha como escola de valores, é necessário que elementos conhecedor­es do quotidiano desportivo auxiliem as autoridade­s a identifica­r cenários de crime. Os próprios jogadores são capazes de identifica­r material sem qualidade, presumivel­mente comprado a preço de ouro.

Embora tenha a sua especifici­dade, o desporto não pode estar isento do senso comum de justiça, sobretudo no cenário actual, onde refrear a apetência para o desvio do erário público significa nada mais, nada menos, do que ganhar dinheiro para o próprio desporto.

Falta, além de tudo, cultura de tratar as situações em foro próprio. Fernando de Carvalho, porta-voz da Investigaç­ão Criminal de Luanda, confirmou haver pouca rotina de averiguaçã­o de eventuais crimes, no âmbito das actividade­s desportiva­s, sobretudo porque as federações respondem directamen­te ao Ministério da Juventude e Desportos e, na generalida­de, há poucas denúncias de irregulari­dades, embora as revelações feitas à imprensa sejam também fontes de pesquisa para a polícia tentar apurar crimes.

A denúncia dos cidadãos é sempre um meio mais confiável para as autoridade­s policiais.

Basicament­e, numa altura em que o desporto vai (sobre)viver com menos dinheiro, a importânci­a de garantir que este chegue ao desportist­a, pode fazer toda a diferença, na qualidade do desempenho das nossas equipas e selecções nacionais.

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AFP Jogadoras da Selecção Nacional de andebol reclamaram o pagamento de ajudas de custo durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

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