Número de cidadãos aumenta nos postos
Autoridades tradicionais e igrejas trabalham na mobilização da população para o acto cívico
O município de Icolo e Bengo cadastra em média, desde o início do processo de actualização do registo eleitoral, 500 cidadãos por dia. Durante a manhã de ontem, os postos de actualização presencial, localizados na Administração Municipal e no Centro Cultural Dr. Agostinho Neto, já tinham registado quase cem cidadãos.
Num dia de pouco sol, Antónia Diogo mantém o olhar no tablet que manuseia com esmero para passar o talão a Manuel Figueira. Neste talão estão os principais pontos de referência onde Manuel vai exercer o seu direito de voto, nas eleições gerais do próximo ano.
De calças de ganga azul, camisola e chapéu laranja com os dizeres ligados ao processo, Antónia levanta-se cada vez que recebe um eleitor, para dirigi-lo junto à parede e fazer a fotografia, como prova de vida. As demais informações são retiradas cuidadosamente do bilhete de identidade e cartão de eleitor.
Mas Manuel Figueira não está somente nas vestes de um cidadão que pretende actualizar os seus dados. O jovem de 29 anos é também o coordenador dos fiscais do processo de registo eleitoral do partido UNITA naquela circunscrição. “Como se previa, o processo está a decorrer com normalidade”, diz Manuel Figueira, sublinhando que a relação com o pessoal da brigada e fiscais de outros partidos políticos é boa e estão satisfeitos com a adesão dos populares.
Mesmo com a tendência de aumento do registo eleitoral, o jovem fiscal acrescenta que os trabalhos de mobilização vão continuar, para evitar que cidadãos fiquem impossibilitados de votar ou que tenham os seus nomes em cadernos distantes das suas localidades.
Antónia Diogo diz que o trabalho com alguns fiscais de partidos políticos, sobretudo da UNITA, não tem sido fácil por permanente desconfiança do processo eleitoral. “Eles estão sempre a pensar mal. Às vezes, a fotografia tem de ser repetida e eles acusam-nos de estarmos a cadastrar o mesmo cidadão duas vezes, o que é impossível. Eles são muito complicados”, desabafa. Apesar deste constrangimento, a jovem assevera que o trabalho está a decorrer sem sobressaltos, e elogia o papel dos sobas e coordenadores das povoações que organizam os cidadãos antes da presença das brigadas de registo eleitoral.
O corredor é estreito, mas cabem duas filas de cadeiras. Lado a lado observa-se oito cidadãos em silêncio à espera da sua vez. Emília Filomena está destacada no posto de actualização presencial na Administração Municipal de Icolo e Bengo. Era a vez de Evangelista Guelengue, que em menos de quatro minutos obteve o talão que confirmava a sua presença no local de actualização.
Emília Filomena trabalha com afinco, pela forma como explica e ajuda os cidadãos a determinar melhor a sua zona de residência. “Os números estão a aumentar e estes dias estou a actualizar os dados de 50 pessoas por dia.”
Enquanto Emília fala com Evangelista, aproxima-se um jovem alto e delgado que observa todos os movimentos. Domingos Felisberto é fiscal do partido MPLA. Mostra-se satisfeito pelo processo estar a decorrer com normalidade. Felisberto explica que cidadãos sem documentos e jovens que precisam de fazer o registo pela primeira vez devem comparecer apenas em Outubro. “Continuamos a mobilizar as pessoas para fazer a actualização para não ficarem de fora nas próximas eleições. Aos poucos, temos fé de que vamos registar todos os angolanos”, afirma. Euclides Paiva, 35 anos, residente em Luanda, aproveitou a sua deslocação àquele município para também fazer a sua prova de vida. Considera que o processo é importante e necessário para depois os cidadãos escolherem os futuros líderes do país.
Manuel da Costa só se cala por pouco tempo. Sorri, fala alto e sorri com as pessoas que encontrou no Centro Cultural Dr. Agostinho Neto como se os conhecesse há bastante tempo. “Eu sou daqui mesmo de Catete, e sempre morei aqui”, diz em tom alto. Funcionário público, diz que deixou a mulher no hospital ao lado e aproveitou passar pelo posto de registo para fazer a actualização dos seus dados, para poder votar no seu partido do coração. “A minha família toda está mobilizada para fazer o registo”, afirma.
Bom ritmo no Moxico
O processo de actualização do registo eleitoral na província Moxico decorre a bom ritmo, informou ontem, no Luena, o director provincial dos Registos. Henrique Cholimba disse ao Jornal de Angola que as condições técnicas, humanas e logísticas, que constituem as principais ferramentas para o andamento de todo o processo a nível da província, estão assegurados.
Para o êxito do processo de actualização, a instituição conta com o apoio dos partidos políticos, igrejas, autoridades tradicionais e sociedade civil, tendo em conta o papel que jogam na mobilização da população para aderir aos postos de registo e actualização.
A nível da província do Moxico, estão disponíveis 40 brigadistas e 15 agentes de educação cívica e esperase que até ao final do mês de Outubro o processo esteja a 75 por cento da cifra preconizada. “Nesta primeira fase estamos apenas a actualizar os dados de residência de todos os cidadãos que obtiveram o seu cartão de eleitor no passado e proceder em simultâneo à prova de vida”, disse.
No que diz respeito ao trabalho da fiscalização dos partidos políticos, o responsável garantiu que a Direcção dos Registos no Moxico tem dentro da sua agenda de trabalho um calendário de reuniões com os partidos políticos, onde são tratadas todas as irregularidades e inquietações que venham a surgir no decurso do processo. “Temos uma boa convivência com todos os partidos políticos, não temos razões de queixa quanto aos trabalhos da fiscalização dos partidos e do asseguramento das brigadas de registo”, concluiu.