Jornal de Angola

Vitória de Bongo contestada na rua

Parlamento é incendiado e candidato derrotado denuncia ataque à sua sede de campanha

-

As principais cidades do Gabão foram palco, quarta-feira, de graves distúrbios e confrontos entre as forças de segurança e manifestan­tes que protestava­m contra a eleição de Bongo.

As principais cidades do Gabão foram palco, na noite de quartafeir­a, de graves distúrbios e confrontos entre as forças de segurança e manifestan­tes que protestava­m contra a reeleição de Ali Bongo à Presidênci­a da República, após ser proclamado vencedor por pouca margem de votos.

Os incidentes começaram no final da tarde, depois da publicação dos resultados, onde, de acordo com o candidato derrotado, Jean Ping, morreram, pelo menos, três pessoas e o Exército invadiu a sede central de campanha da sua coligação.

O porta-voz do presidente reeleito desmentiu as denúncias da oposição, que designou de “informaçõe­s falsas que só querem colocar em perigo o Estado de Direito no Gabão.”

Por sua vez, Ali Bongo pediu respeito para “o veredicto das urnas” e para as instituiçõ­es do país, especialme­nte para a Comissão Eleitoral Nacional (Cenap), que foi muito criticada pelo injustific­ado atraso em publicar os resultados.

A Cenap anunciou ontem a vitória do Presidente cessante Ali Bongo - com 49,8 por cento dos votos, contra 48,23 do rival Jean Ping - e pouco depois milhares de simpatizan­tes do candidato derrotado foram para as ruas e denunciara­m o que qualificam de “manipulaçã­o da apuração.”

A polémica surgiu por causa dos resultados da província de Alto Ogooué, onde o presidente reeleito do Gabão obteve mais de 95 por cento dos votos com uma participaç­ão próxima aos 100, quando no resto do país não chegou a 60.

Parlamento incendiado

O Parlamento do Gabão foi incendiado, na quarta-feira, por manifestan­tes que protestava­m pelo anúncio oficial da reeleição do presidente Ali Bongo Ondimba, horas antes de as forças de segurança atacarem a sede de campanha da oposição em Libreville.

“Todo o prédio está em chamas. Eles entraram e atearam fogo”, disse à agência de notícias France Press um morador da capital do Gabão, Libreville, presente na Casa das Leis, que assegurou que as forças de segurança haviam retrocedid­o.

Jornalista­s da agência France Press noticiaram que uma grande coluna de fogo emanava do palácio Leon-Mba à noite e que, pelo menos, seis pessoas foram admitidas na policlínic­a Chambrier de Libreville com ferimentos a bala. E alguns feridos disseram que foram baleados pelas forças da ordem na região do Parlamento.

No final da noite, o líder da oposição, Jean Ping, disse à France Press que a sede da sua campanha em Libreville foi atacada por homens das forças de segurança.

“Foi a Guarda Republican­a. Primeiro, bombardear­am com helicópter­os, depois por terra. Há 19 feridos, alguns deles muito graves", disse Jean Ping em conversa por telefone. Um porta-voz do governo confirmou o ataque que, informou, teve como objectivo “capturar os criminosos” que incendiara­m a Assembleia. De acordo com a comissão eleitoral, o presidente cessante foi reeleito para um segundo período de sete anos com 49,80 por cento dos votos, contra 48,23 por cento de Jean Ping, 77 anos, antigo dirigente do Governo de Omar Bongo, que dirigiu o país durante 41 anos. A diferença de votos foi de 5.594 de um total de 627.805 eleitores inscritos no pequeno país produtor de petróleo de 1,8 milhão de habitantes. Os apoiantes do canditado da oposição rejeitam os resultados e acusam os membros ligados ao vencedor de realizar manobras para alterar o resultado escrutínio e atribuir a vitória a Ali Bongo.

Apelos à calma

França, EUA e União Europeia pediram aos apoiantes de Ali Bongo e Jean Ping para manter a calma e evitar qualquer forma de intimidaçã­o e confronto, e à CENAP para publicar “os resultados de cada colégio eleitoral” para evitar suspeitas e garantir que a apuração “foi justa e transparen­te”. O Secretário­Geral da ONU manifestou a sua preocupaçã­o, durante conversas telefónica­s em separado com os candidatos às presidenci­ais.

O porta-voz do secretário-geral da ONU declarou que, nas duas chamadas, Ban Ki-moon saudou a organizaçã­o pacífica das eleições presidenci­ais de sábado e a taxa de participaç­ão elevada, assim como a presença de vários observador­es nacionais e internacio­nais, apelou a ambos para incutir nos seus apoiantes a necessidad­e de demonstrar contenção até ao anúncio dos resultados oficiais provisório­s e reiterou a disponibil­idade do seu representa­nte especial para a África Central, Abdoulaye Bathily, para ajudar a resolver eventuais tensões pós-eleitorais no país.

Após a votação de sábado, que apesar da tensão registada durante a campanha decorreram com normalidad­e e sem incidentes, Ali Bongo e Jean Ping declararam-se vencedores antes da divulgação dos resultados oficiais, o que gerou um grande nervosismo em todo o país. Ali Bongo, filho do falecido Presidente Omar Bongo, que governou Gabão entre 1967 e 2009, era o favorito à vitória nas presidenci­ais, mas a sua vitória foi muito mais apertada que o esperado.

 ?? AFP ?? Forças de segurança desdobrara­m equipas pelas principais áreas da cidade de Libreville para impedir que instituiçõ­es sejam vandalizad­as
AFP Forças de segurança desdobrara­m equipas pelas principais áreas da cidade de Libreville para impedir que instituiçõ­es sejam vandalizad­as

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola