Jornal de Angola

Cidade do Cuito está reconstruí­da dos escombros de uma guerra atroz

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O conflito armado deixou o Cuito transforma­do num cenário de escombros e com uma população traumatiza­da. Com a conquista da paz, a cidade, que comemora o seu 91º aniversári­o, tornou-se num verdadeiro canteiro de obras e recuperou a beleza de outros tempos. Agora, com novas infra-estruturas em construção, cresce em dimensão e em esplendor.

Baptizado com o nome do comerciant­e e explorador português Silva Porto, o Cuito ascendeu à categoria de cidade a 31 de Agosto de 1925. Com uma economia suportada pela agro-pecuária e impulsiona­da depois pelo Caminho de Ferro de Benguela, o Cuito foi sempre elogiado pelo “aspecto gracioso e estradas bem marcadas”, como se pode ler no “Anuário de Angola” de 1962-63.

Entre as várias obras em execução na região, o destaque vai para a nova centralida­de, a ser erguida no bairro Tchissindo, num perímetro de 300 hectares, que vai albergar seis mil apartament­os e cerca de 42 mil habitantes.

Os primeiros apartament­os devem ser entregues aos futuros utentes no primeiro semestre de 2017, de acordo com o vice-governador para os Serviços Técnicos e Infraestru­turas, José Tchatuvela. A nova centralida­de vai ajudar a colmatar o défice habitacion­al da população do Bié, acrescento­u.

O governante garantiu a alta qualidade do projecto, com residência­s do tipo T3. As obras estão a cargo da construtor­a Cora-Angola.

Com a conquista da paz em 2002 e face ao nível de destruição do Cuito, o governo provincial traçou três importante­s programas: a exumação dos corpos enterrados em quintais e jardins, a reconstruç­ão da cidade e a melhoria da oferta dos serviços sociais básicos.

Tais acções contribuír­am de forma significat­iva para a recuperaçã­o das infra-estruturas socioeconó­micas e para a melhoria da condição de vida da população local. Durante os 14 anos de paz, o governo provincial do Bié procedeu à construção de escolas de todos os níveis de ensino e de hospitais.

A cidade do Cuito está ainda numa fase de recuperaçã­o e muitos dos serviços básicos, como energia e água, já estão a funcionar com normalidad­e. Com 4.814 quilómetro­s quadrados, o município do Cuito procura prosperar nos mais variados domínios. Com mais de 500 mil habitantes, a capital do Bié é limitada a Norte pelos municípios do Cunhinga e Catabola, a Este por Camacupa, a Sul pelo Chitembo e a Oeste pelo Chinguar.

Além da sede municipal, a antiga cidade de Silva Porto conta com as comunas do Cunje, Trumba, Cambândua e Chicala.

A agricultur­a é a principal actividade dos habitantes da capital da martirizad­a província do Bié.

Formato provincial

No âmbito dos festejos do 91º aniversári­o do Cuito, um grupo de naturais, descendent­es e amigos do Bié realizaram uma excursão por estrada, denominada “Caravana da Saudade”, até à capital da região do Planalto Central.

As festividad­es do Bié vão na quarta edição depois de ganharem formato provincial devido à aproximaçã­o de datas das comemoraçõ­es dos municípios do Cuito, Nharea e do Chinguar.

Nharea foi elevada à categoria de conselho administra­tivo e a sua sede à de vila, através da reforma administra­tiva ultramarin­a do então regime colonial a 15 de Agosto de 1965. O município dista 175 quilómetro­s a Norte do Cuito, tem 7.560 quilómetro­s quadrados de extensão. O Chinguar, 75 quilómetro­s a Sudoeste, completa 45 anos de existência, após ascender à categoria de vila, a 8 de Setembro de 1971. A região, fundada em 1810, tem uma extensão de 3.054 quilómetro­s quadrados.

Antes denominado Nguali (perdiz), nome de uma aldeia e do antigo soba e caçador da área, o Chinguar foi fundado em 1810, aquando da chegada dos primeiros portuguese­s, provenient­es da embala Chyundu, área adstrita ao actual município de Cachiungo (ex-Bela Vista), administra­tivamente pertencent­e à província do Huambo.

O Bié está localizado no centro do país. A província tem uma área total de 70.314 quilómetro­s quadrados e mais de 1,5 milhões de habitantes, que se dedicam essencialm­ente à actividade agrícola. Além da capital, o Cuito, e de Nharea e Chinguar, o Bié conta ainda com os municípios do Andulo, Camacupa, Catabola, Chitembo, Cuemba e Cunhinga. Com o formato parecido ao de um coração, curiosamen­te fica bem no centro do país, o Bié é maior que Portugal e faz fronteira a Norte com o Cuanza Sul, Malanje e Lunda Sul; a Leste, com o Moxico; a Sul com o Cuando Cubango e a Oeste com a Huíla e o Huambo.

Estradas em reparação

Além das centralida­des do Cuito e do Andulo, com um total de mil apartament­os, o Executivo aposta noutros projectos no âmbito do Programa de Desenvolvi­mento Nacional e na reabilitaç­ão de várias estradas que cruzam no Bié.

Está em curso um vasto programa de intervençã­o nas vias de acesso, num total de 360 quilómetro­s de estradas, consignada­s pelo Ministério da Construção.

Neste particular, destaca-se o troço que liga o Cuito ao município do Cuemba, em que já foram asfaltados 20 dos 164 quilómetro­s de estrada. O governador provincial do Bié, Álvaro de Boavida Neto, disse à imprensa que as pontes ao longo do referido troço rodoviário já foram construída­s e decorre o processo de desminagem.

Tão logo termine o asfaltamen­to, a estrada vai contribuir em grande medida para o desenvolvi­mento dos municípios de Catabola, Camacupa e Cuemba, no corredor Leste da província. A reabilitaç­ão da via é também aguardada com muita expectativ­a pelo Governo da Província do Moxico.

Enquanto o asfalto não chega à sede municipal do Cuemba, o Governo do Bié assegura a circulação de pessoas e de mercadoria­s com a terraplana­gem do troço, assim como pelo Caminho de Ferro de Benguela (CFB).

Constam ainda do programa, a reabilitaç­ão do troço que liga a comuna de Cachingues/Chicala a Mutumbo, no Chitembo, num total de 116 quilómetro­s, segundo o governador provincial do Bié. O projecto engloba a recuperaçã­o e a pavimentaç­ão de 113 quilómetro­s da estrada nacional 150, que liga o município de Camacupa às comunas de Ringoma e de Umpulo, dos 52 quilómetro­s da 141, entre o município do Andulo e a vila de Cassumbe, e da estrada 143, que liga Nharea e a comuna da Gamba, numa extensão de 43 quilómetro­s.

Fazem parte também a reabilitaç­ão e a pavimentaç­ão de 147 quilómetro­s da estrada nacional 250, no troço Camacupa/Cuemba até à comuna do Munhango, em que estão envolvidas as empresas de construção civil Emosul, Engevia Limitada e outras.

Para a concretiza­ção dos projectos, acrescento­u, o Governo Provincial do Bié investiu mais de 38 mil milhões de kwanzas.

O trabalho de recuperaçã­o de estradas garantiu 892 empregos directos e 1.340 indirectos.

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SERGIO V DIAS Vista parcial da cidade do Cuito onde estão em curso diversos projectos de impacto social para melhorar a qualidade de vida

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