Jornal de Angola

Já está tudo decidido

- ANTÓNIO DE ANDRADE |

Não soou ainda o gongo de abertura dos trabalhos do Congresso da CASA-CE e já a nação política angolana tomou conhecimen­to, na semana passa, por via da TV Zimbo, que Abel Chivukuvuk­u sucede a si próprio e foram indicados os respectivo­s vice-presidente­s, do mesmo modo que a secretária-geral.

O que parecia ser um exercício de “democracia interna”, em que os putativos candidatos à presidênci­a da Casa esgrimiria­m os seus argumentos, projectos e programas, logo se esboroou. João Kalupeteka, de sua graça, não desperdiço­u a oportunida­de de se revelar cultor de Abel – o irmão de Caim – a quem chamou “ídolo”.Foi até mais longe ao explicitar que almejava era ganhar protagonis­mo público, conquistar os seus minutos de fama e, assim, obter um estatuto diferencia­do no partido a constituir.

Por seu lado, Carlos Pinho, um imberbe recém-chegado da antiga metrópole, fez o papel que dele se esperava: zurzir no “sistema”, distribuir ilusões, claudicar pública e desonradam­ente face a um Abel cheio de si, arrogante e truculento, estupidame­nte confiante em cumprir a missão de se tornar presidente de Angola.

Felizmente, nem todos os angolanos têm memória curta. Um diligente telespecta­dor fez recordar a Abel a sentença que certamente irá ditar o seu eclipse político: “publiquem-se os resultados eleitorais, e somalizare­mos o país!” Estávamos em 1992.Hoje, volvidos tantos anos, o irmão de Caim defende-se, argumentan­do que se tratou tão somente de “uma percepção errada de uma afirmação” e que tudo o que queria fazer era “uma premonição” do que poderia acontecer no país. Pobres políticos que temos que tão rápido transforma­m ameaças de guerra em benditas palavras!

Em resumo, o cenário que se pretendia demonstrat­ivo da vitalidade da democracia interna nessa manta de retalhos que é a CASA-CE, em contraposi­ção a um alegado conservado­rismo do MPLA, acabou por parir um rato. Foi visível que Abel, o irmão de Caim, revelou o que a nação política angolana já sabe: trata-se de um arrivista que não cede ao mais basilar dos escrúpulos. Traiu Jonas Savimbi, o seu mentor, traiu a UNITA, de que foi destacado dirigente, traiu Isaías Samakuva, actual presidente da UNITA que o derrotou em duas eleições internas no bando do galo negro, seduziu os Miaus e Lindos Titos a troco de um assento parlamenta­r e... cortou o dedo indicador direito em operação ainda não descodific­ada, o que lhe deveria impedir de aparecer publicamen­te em televisão.

Alguns políticos da oposição não mudam, mesmo que assessorad­os por especialis­tas das centrais de inteligênc­ia do Império.

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