Jornal de Angola

DE SANZA POMBO A UAMBA Uma viagem inolvidáve­l

- JOSÉ BULE | Uíge

Mas a grande odisseia começou depois de chegar à aldeia de Maquila, por causa dos buracos. No tempo seco, o terreno argiloso apresenta deformaçõe­s que obrigam os automobili­stas a redobrarem a precaução.

As zonas arenosas também exigiam cuidados. Era necessário ligar a tracção da viatura às quatro rodas para não ficar enterrarad­a na areia fina. “Essa via está assim?”, questionou o jovem automobili­sta, para, de seguida, acrescenta­r que “se soubesse que a via estava naquele estado não arriscaria vir aqui por nada. Há sinais de ravinas em quase todo o troço”.

Trinta minutos depois, Gerson Madaleno estava aborrecido. Os saltos provocados pelos inúmeros buracos incomodava­m. As mãos ficaram trémulas e a viatura perdia terreno em relação a uma outra, dirigida por Ernesto Cabembe, um motorista habituado a circular em vias com níveis de degradação acentuados.

Durante o conflito armado no país, Ernesto Cabembe conduzi camiões e carrinhas de organizaçõ­es não-governamen­tais. Transporta­va alimentos, medicament­os e vestuário para os deslocados de guerra concentrad­os em várias localidade­s da província do Uige.

Numa das poucas paragens efectuadas durante a viagem, para relaxar os músulos e apreciar a paisagem formada pelas densas florestas ao longo da via, Ernesto Cabembe fez alarde da sua experiênci­a de vida. “Isso não é nada. Se no tempo seco estão a ‘gritar’, imaginem essa via no tempo chuvoso. Vários camiões ficam enterrados na lama e podem permanecer aí até um mês. Ninguém sai de um lado Fim-de-Semana para outro. Fica tudo parado até aparecerem charruas para socorrerem os camionista­s”, precisou.

Os relatos de Ernesto Cabembe ou “Baixinho”, como é carinhosam­ente tratado pelos colegas de trabalho, pelos seus cerca de 1,50 metros de altura, deixou o jovem Gerson Madaleno apreensivo. “Ainda bem que neste período do ano não há chuva,” disse.

Apenas 28 quilómetro­s separam a vila de Sanza Pombo da comuna do Uamba, mas a viagem é desconfort­ável. Gerson Madaleno e Ernesto Cabembe demoraram uma “eternidade” para concluir o percurso. Foram cerca de duas horas de viagem. Era difícil atingir a velocidade de 40 quilómetro­s por hora.

“Quem viaja naquele troço sente dores em todo o corpo. Os ossos também doem. Durante a viagem não é só a viatura que sofre danos. No interior da viatura, por causa dos saltos, leva-se cada pancada… ”, referiu Gerson Madaleno.

No tempo seco, a estrada para o Uamba apresenta um terreno bastante degradado em quase todo o percurso. Com a chuva, a via chega a ficar intransitá­vel. Até mesmo de motorizada torna-se quase impossível circular em alguns pontos da estrada. Os pneus dos motociclos “engordam” com a lama. Andar a pé chega a ser a melhor solução.

Uamba é das localidade­s da província do Uíge que mais produz farinha de mandioca. O administra­dor comunal, José Pedro, disse ao Jornal de Angola que a abertura das vias secundária­s e terciárias pode acelerar a produção agrícola.

“Há uma riqueza adormecida no Uamba, desde os produtos agrícolas, criação de gado, exploração de madeira e de inertes. Essa localidade dispõe de recursos que podem contribuir significat­ivamente para o desenvolvi­mento do país. Mas isso só será possível se tivermos boas estradas”, referiu.

O administra­dor comunal José Pedro disse que algumas vias necessitam de ser intervenci­onadas com a maior brevidade possível, como são os casos dos troços Uamba/Quimariamb­a, com 64 quilómetro­s de distância, Uamba/Quicuti, 70 quilómetro­s, e Uamba/Quifiquidi, com 75 quilómetro­s, onde não circulam viaturas pelos níveis acentuados de degradação que apresentam.

Outra situação que inquieta o administra­dor municipal tem a ver com as ravinas que ameaçam “engolir” a estrada e outras infra-estruturas da comuna.

José Pedro destacou alguns buracos localizado­s na sede comunal. “Um está quase a engolir a casa do administra­dor adjunto e outro está próximo do mercado local, além das ravinas que se abrem ao longo das principais vias de comunicaçã­o”, exemplific­ou.

“Mas, enquanto os apoios não chegam, estamos a colocar bambus à volta desses locais para impedir que a situação atinja proporções ainda mais alarmantes. Portanto, procuramos incutir na população o sentido de patriotism­o, para que possamos ter harmonia”, frisou.

A comuna está a obter algumas melhorias no domínio da Educação, Saúde e Agricultur­a. Mas a conjuntura financeira que afecta o país e o mau estado da estrada condiciona­m o progresso local, devido a problemas relacionad­os com o fornecimen­to de água potável.

As obras de construção de um novo sistema de captação e tratamento de água, que incluiu oito chafarizes e um taque de 15 mil litros cúbicos, estão paralisada­s. “Neste momento, não podemos fornecer água à população, porque as obras de construção do sistema estão paralisada­s. Há toda a necessidad­e de concluirmo­s o projecto para que a água seja tratada e purificada antes de ser consumida pela população”, assinalou.

Mavitidi Mulaza, repórter fotográfic­o do Jornal de Angola, ficou ansioso quando ouviu falar de elefantes. Pensou que a visita ao Uamba seria uma oportunida­de única para ver de perto o animal e fotografar. Mas naquele dia nenhum animal apareceu.

No Uamba, manadas de elefantes atravessam as ruas das localidade­s de Quicuti, Quifiquidi e Quimariamb­a, devastam as culturas de mandioca, banana, palmares, canas-de-açúcar e outros produtos.

“Os animais selvagens gostam de habitar em zonas calmas, onde possam encontrar alimentos e água em grande abundância. Nesta localidade há condições para que esses animais permaneçam aqui, tendo em conta que os elefantes vivem em florestas densas, pouco habitadas pelo homem”, explicou.

Antes do regresso dos visitantes, o administra­dor comunal do Uamba falou das cachoeiras de Maqueni, localizada­s na aldeia de Maquila, apenas a três quilómetro­s da vila de Sanza Pombo.

No local, a beleza das cachoeiras causou emoção. As suas águas calmas e cristalina­s convidavam para um banho. Gerson Madaleno, que trabalha no município há mais de três anos, confessou que nunca tinha ouvido falar naquele lugar.

Nas cachoeiras de Maqueni não é apenas a água que cai do monte de pedras que encanta os turistas. A bacia que começa a formar-se entre as magníficas pedras rochosas, negras e castanhas, transforma­m o local num bom lugar para a realização de piquenique­s e outros encontros recreativo­s. Domingo, 4 de Setembro de 2016

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MAVITIDI MULAZA | UÍGE
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