Jornal de Angola

Uma grande heroína

-

Xeme Cassemuniq­ue é uma “heroína”. Carrega sobre os ombros um percurso de 50 anos de vida e um fardo de 22 filhos, sete dos quais biológicos. Mas, em momento algum, deixa fugir a esperança numa vida melhor para os seus entes queridos.

No seu quotidiano, fica a imagem de uma mulher que nunca deixa cair a bacia em que transporta os bens que vende pelas ruas da cidade de Saurimo e arredores, na Lunda Sul.

Como muitas outras mulheres, por esta Angola fora, ela calcorreia, diariament­e, as ruas da cidade, a vender peixe, fruta, legumes, tubérculos, roupa, calçado, livros escolares e produtos higiénicos, entre outros bens.

Assim é a vida dela, como de outras vendedeira­s que pululam pelas ruas das cidades angolanas. Caminham vários quilómetro­s por dia, faça sol ou chuva, algumas com os filhos às costas, ao mesmo tempo que suportam o peso da mercadoria. É incrível a sua capacidade em equilibrar sobre a cabeça bacias, sacos e sacolas onde transporta­m as mercadoria­s.

Perante vários obstáculos, elas não desistem, por quererem alimentar e garantir a saúde e educação dos seus filhos.

Xeme Cassemuqui­ne, a heroína desta história, exibe um semblante triste e um olhar profundo. Ela quase que lacrimeja, ao falar do seu dia-a-dia e da maneira como cuida da educação, saúde e da alimentaçã­o dos 22 filhos. A mulher vive com os seus entes queridos numa casa de apenas dois quartos, uma sala e uma cozinha.

Se Cassemuqui­ne significa, na língua regional tchokwe, “não nasceu”, Xeme está bem viva e tem um sem número de tarefas, todas elas focadas na preservaçã­o da vida.

A sua jornada laboral tem início às cinco da manhã. Prepara os seus cinco filhos menores que estudam. Deixa-os na escola às 7h30 e parte para o mercado Candembe, à procura de mercadoria.

Das 9 horas em diante, calcorreia as ruas da cidade a vender os seus produtos. A jornada dura prolongada­s e difíceis oito horas.

Ela caminha e quase não se alimenta, ao longo do dia. “Só de pensar que os meus filhos estão com fome em casa, sem nada para comer, fico sem apetite”, lamenta.

Os outros 17 filhos não estudam. “Mana Xeme”, como é carinhosam­ente conhecida no bairro, diz, com lágrimas nos olhos, que não tem como sustentar a formação de todos. “O pouco que ganho apenas chega para nos alimentarm­os”, explica. Os cinco filhos estudantes frequentam uma escola pública do ensino primário. A única dificuldad­e tem a ver com a aquisção de material didático. A sua primeira filha biológica, de 23 anos, desistiu da escola para ajudar a mãe a cuidar da casa e dos irmãos mais novos.

 ?? ANGOP ??
ANGOP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola