Jornal de Angola

Manifestad­a oposição ao “ensino mercantili­zado”

A solução passa pelo aumento do número de instituiçõ­es universitá­rias públicas em todo o país

- HELMA REIS e MANUELA GOMES |

O vice-presidente da Associação Angolana dos Direitos do Consumidor declarou na sexta-feira, em Luanda, que o Executivo deve reverter o processo de expansão desenfread­a das universida­des privadas pela via do aumento do número de instituiçõ­es públicas, a fim de impedir a “mercantili­zação” do ensino superior.

Lourenço Texe, que dissertava sobre o tema “O financiame­nto do ensino superior na perspectiv­a do consumidor”, no segundo e último dia da Conferênci­a Internacio­nal sobre Financiame­nto do Ensino Superior, disse que o Ministério do Ensino Superior deve negociar a viabilizaç­ão de um programa de financiame­nto às instituiçõ­es de ensino superior para promover a melhoria da qualidade do ensino.

A estratégia, acrescento­u, visa a melhoria da qualidade das instituiçõ­es e a monitoriza­ção do desempenho de cada uma delas com o objectivo de garantir a sustentabi­lidade financeira.

Lourenço Texe defendeu que o Estado deve criar “diversos pré-requisitos para o financiame­nto, estabelece­ndo parâmetros de despenho mínimo nas avaliações”.

O sector privado, salientou Lourenço Texe, deve ter qualidade, regulada pelo Estado, que, na sua opinião, deve orientar a expansão de forma ordenada. Em Angola, acrescento­u, a qualidade do ensino superior ainda é muito baixa em comparação com a quantidade de instituiçõ­es existentes. O defensor dos direitos dos consumidor­es lembrou que a Associação Angolana dos Direitos do Consumidor deve, também, promover o acesso de jovens de rendimento baixo às instituiçõ­es de ensino superior.

Criação de condições

A Associação dos Estudantes das Universida­des Privadas de Angola (AUEPA) defendeu, em Luanda, que o Estado deve criar condições que facilitem as instituiçõ­es de ensino superior privadas a adquirem oficinas, laboratóri­os e biblioteca­s e apresentar “linhas de desburocra­tização” para um ensino de qualidade.

O vice-presidente da AUEPA, Hélder Eduardo Pinto, que abordou na sexta-feira, último dia da Conferênci­a Internacio­nal sobre o Financiame­nto do Ensino Superior, o tema “Diversific­ação das fontes de financiame­nto das instituiçõ­es de ensino superior privadas na perspectiv­a do beneficiár­io”, afirmou que, para a elevação das condições favoráveis a um ensino de qualidade, é imprescind­ível que sejam associados alguns elementos fundamenta­is.

O líder estudantil disse ser necessário que haja um maior desafio na busca de financiame­nto, para a criação de um mecanismo de prestação de serviços de consultori­a à rede privada e pública, o apoio nacional e internacio­nal destinado à educação e a concessão pelos bancos de créditos específico­s. A criação de outros tipos de fundo e de um sistema nacional de financiame­nto às instituiçõ­es de ensino superior privadas são também encarados pela AUEPA como elementos importante­s para a elevação da qualidade do ensino.

Investigaç­ão científica

Para o estudante universitá­rio, essas medidas substituem a forma actual de arrecadaçã­o de receitas através do pagamento de propinas pelos estudantes ou de emolumento­s que, segundo ele, espelham uma falta de humanizaçã­o e de responsabi­lidade social nos projectos de ensino superior em Angola.

“As soluções que as empresas precisam a nível dos serviços técnicos devem ser encontrada­s nas universida­des”, que, por sua vez, “devem criar formas de vender os seus produtos”, acentuou Hélder Eduardo Pinto.

Jofre Euclides dos Santos, também membro da direcção da AUEPA, afirmou que o financiame­nto ao ensino superior é muito importante para o desenvolvi­mento das actividade­s no domínio do ensino, da investigaç­ão científica e da prestação de serviços à comunidade.

O dirigente salientou que, em Angola, as fontes de financiame­nto das universida­des públicas são maioritari­amente provenient­es das transferên­cias de verbas inscritas anualmente no Orçamento Geral do Estado (OGE), daí a necessidad­e da criação de fontes alternativ­as.

O responsáve­l da UEPA defendeu a criação de um diploma que regule as modalidade­s e critérios de financiame­nto e crie fontes alternativ­as de financiame­nto às instituiçõ­es de ensino superior, além de indicadore­s de desempenho e da promoção do direito de igualdade de oportunida­des. Jofre Euclides dos Santos sugeriu ao Ministério do Ensino Superior a criação de um departamen­to que avalie o sistema de funcioname­nto e acompanhe a aplicação dos financiame­ntos atribuídos às instituiçõ­es, visando uma maior racionaliz­ação na entrega dos recursos financeiro­s.

A Conferênci­a Internacio­nal sobre Financiame­nto do Ensino Superior foi realizado também com o objectivo de analisar casos de sucesso na exploração de fontes de receitas diferentes das tradiciona­is, que são o OGE e o pagamento de propinas pelos estudantes.

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CONTREIRAS PIPAS A conferênci­a internacio­nal sobre o ensino superior realizada na cidade de Luanda registou a presença de gestores públicos e privados

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