Vitória do MpD nas autárquicas
Presidente do PAICV Janira Hopffer Almada põe lugar à disposição depois de nova derrota
Os últimos resultados provisórios das autárquicas de domingo em Cabo Verde, divulgados pelo site oficial das eleições autárquicas, que indicam que o Movimento para a Democracia (MpD) conquistou 19 das 22 câmaras municipais apuradas mais de 98 por cento das mesas de voto, demonstram que o partido do Governo pulverizou a oposição e consolidou a posição de maior força política do arquipélago.
Ao comentar a vitória nas eleições autárquicas de domingo, o presidente do MpD e primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, destacou a performance do partido e garantiu trabalhar, na qualidade de chefe do Governo, com todas as 22 câmaras “de forma igual e sem qualquer discriminação” político-partidária.
Cerca de 320 mil eleitores caboverdianos votaram para as sétimas eleições autárquicas realizadas no país desde 1991, numa disputa em que 57 candidatos disputaram a presidência das 22 câmaras e assembleias municipais.
Segundo os dados provisórios do site oficial das eleições autárquicas, o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) venceu em duas das 22 câmaras municipais do país, menos seis do que tinha conseguido há quatro anos.
Na ilha da Boavista, o grupo independente BASTA, liderado pelo deputado do MpD, José Luís Santos, foi o vencedor, com 53,5 por cento dos votos. Os dados provisórios do site das eleições autárquicas referem que o MpD também venceu em 19 das 22 assembleias municipais, contra duas do PAICV e uma do BASTA. A abstenção foi de 41,7 por cento. Com estes resultados, depois de vencer com maioria absoluta as eleições legislativas de Março, 2016 pode ser um ano eleitoral perfeito para o MPD, se Jorge Carlos Fonseca, actual Chefe de Estado e quadro do partido que nos últimos quinze anos liderou a oposição, for reeleito para um novo mandato nas presidenciais marcadas para Outubro.
PAICV em queda
Janira Almada, a presidente do PAICV, pôs o cargo à disposição depois de reconhecer a derrota nas eleições autárquicas. Ao falar na sede do partido, na Praia, Janira Hopffer Almada disse tirar da mesma as devidas ilações políticas. “É inequívoco que os resultados estão aquém daquilo que nos propusemos fazer”, disse, acompanhada por parte da sua direcção.
A líder do maior partido da oposição não resistiu a duas derrotas eleitorais seguidas, nas legislativas de Março e agora nas autárquicas de domingo, em que o PAICV perdeu seis das oito câmaras municipais que detinha, ficando apenas com a liderança dos municípios de Santa Cruz e Mosteiros, em Santiago e no Fogo, respectivamente. O partido, que tinha traçado como objectivo para as autárquicas a manutenção das oito câmaras e a conquista de “mais outras”, perdeu mesmo duas das câmaras do Fogo – Santa Catarina e São Filipe – um bastião. O “desgaste do Governo de José Maria Neves” e o facto de, para a população, a liderança de Janira Hopffer Almada “não permitir a construção de uma alternativa” foram apontadas no “Outlook” para 2015-16 do “Economist Intteligence Unit” como factores determinantes para a ascensão do MpD.
As eleições presidenciais em Cabo Verde, marcadas para 2 de Outubro, não vão ter um candidato oficial do PAICV, que entretanto já manifestou “alguma simpatia” pela candidatura de Albertino Graça, reitor da Universidade do Mindelo.
Jorge Fonseca favorito
O antigo primeiro-ministro caboverdiano, José Maria Neves, foi dos nomes mais falados para uma candidatura às presidenciais pelo PAICV e o próprio chegou a admitir como “provável” a hipótese, que acabou por não acontecer.
É a segunda vez na história do agora maior partido da oposição de Cabo Verde, depois de em 1996 o PAICV não ter apresentado candidato do partido às eleições presidenciais, que isto acontece.
Na altura, o então candidato apoiado pelo MpD, António Mascarenhas Monteiro, concorreu sozinho a um segundo mandato.
As eleições presidenciais previstas para 2 de Outubro vão terminar o ciclo eleitoral em Cabo Verde, num ano com três eleições em menos de sete meses, depois das legislativas de 20 de Março e das autárquicas de 4 de Setembro.
O bom desempenho do Presidente cessante e claro favorito à vitória, Jorge Carlos Fonseca, quadro do MPD que soube levar a bom porto o regime de coabitação política com o anterior Governo do PAICV, liderado por José Maria Neves, parece ter contribuído para o partido não apresentar um candidato à corrida.
Também parece ser entendimento do PAICV e de muitos analistas, que os cabo-verdianos estarão mais inclinados a dar um voto de confiança ao presidente cessante, Jorge Carlos Fonseca, agora, para trabalhar com um executivo oriundo da força política de que é quadro.
Uma sondagem feita em Janeiro pela agência “2020” indicou que na altura 50,7 por cento dos eleitores cabo-verdianos votavam no actual Chefe de Estado. O mesmo estudo sublinha que Jorge Fonseca é considerado por 80 por cento dos inquiridos como o Presidente “ideal” devido ao “bom trabalho” realizado e à “competência” demonstrada nos seus cinco anos de mandato.