Jornal de Angola

Comunidade internacio­nal tenta mediar crise

Deputados que apoiam Governo de Baciro Djá ameaçam destituir o presidente do Parlamento

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Uma missão de alto nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reúne hoje em separado com o Chefe de Estado e o líder do Parlamento guineense, nos escritório­s do gabinete integrado da ONU para a consolidaç­ão da paz na Guiné-Bissau (Uniogbis), para ajudarem na mediação da crise política que há mais de um ano assola o país.

Estes encontros acontecem depois de a delegação de alto nível, que integra os ministros dos Negócios Estrangeir­os da Libéria, Togo e Guiné-Conacri, e o novo presidente da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), reunir ontem em separado com o primeiro-ministro, o chefe da diplomacia guineense, com as direcções do PAIGC e do PRS e com os 15 dissidente­s do primeiro destes partidos.

A missão da CEDEAO, que termina amanha a sua visita de trabalho na capital guineense, está desde segunda-feira em Bissau para cumprir as recomendaç­ões da 49.ª conferênci­a dos chefes de Estado e de Governo da organizaçã­o, realizada em Junho, em Dakar, que instou as partes desavindas na Guiné-Bissau a buscar entendimen­to “através do diálogo inclusivo, dentro do respeito pela Constituiç­ão do país”.

A CEDEAO não descarta a ida à Guiné-Bissau dos Presidente­s da Guiné-Conacri, da Libéria e do Togo, caso fracasse a missão dos seus chefes da diplomacia.

Insurreiçã­o no Parlamento

A visita da delegação de alto nível da CEDEAO acontece numa altura em que os deputados que apoiam o Governo da Guiné-Bissau no Parlamento ameaçam avançar com o processo de destituiçã­o do líder da Casa das Leis, Cipriano Cassamá, que acusam de “atitude deliberada de bloqueio” ao funcioname­nto da Assembleia da República.

Falando em conferênci­a de imprensa, o porta-voz dos 15 deputados dissidente­s do PAIGC e dos 41 do PRS afirmou que os partidos vão tomar diligência­s para destituir Cipriano Cassamá das suas funções, porque este “está de má-fé” e tem tido uma “atitude deliberada de bloqueio” ao funcioname­nto do Parlamento “para que a instituiçã­o não se possa reunir para aprovar o programa do Governo”. Para Rui Dias de Sousa, porta-voz de PAIGC, apesar da experiênci­a governamen­tal e parlamenta­r por estar no hemiciclo desde 1994, Cipriano Cassamá “provou não ser capaz de continuar a ser o líder do Parlamento guineense, por isso, disse, deve ser destituído”.

Cipriano Cassamá, frisou, por sua vez, que “tem faltado gravemente às suas responsabi­lidades e quando assim acontece a lei é clara, sobre a destituiçã­o e os mecanismos vão ser accionados para que assim aconteça”, concluiu Rui Dia de Sousa, um dos 15 deputados expulsos do PAIGC.

Daniel Embaló, vice-líder da bancada parlamenta­r do PRS, anunciou que o grupo de deputados que apoia o Governo de Baciro Djá vai convocar uma sessão parlamenta­r “com ou sem o consentime­nto de Cipriano Cassamá”, para aprovar o programa do Executivo.

Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança manifestou numa nota divulgada no domingo “grave preocupaçã­o” com o impasse político na Guiné-Bissau e instou os agentes nacionais a cumprirem a Constituiç­ão e o Estado de Direito, enquanto tentam encontrar uma solução política para a crise através do diálogo.

No documento, o Conselho de Segurança destaca a “necessidad­e urgente de garantir um governo funcional”, saúdam o diálogo em curso entre o PAIGC e o PRS e convidam os doadores a cumprir as promessas feitas na chamada “mesa-redonda de Bruxelas” realizada em Março do ano passado, “tendo em mente o impacto do impasse político na implementa­ção destes compromiss­os”.

O Conselho de Segurança lembra na nota as recomendaç­ões da 49.ª Conferênci­a de Chefes de Estado e Governo da CEDEAO, na qual foi designada uma delegação presidenci­al formada pelos chefes de Estado da Guiné-Conacri, Senegal e Serra Leoa, e destacou a urgência do envio da missão.

As acções conjuntas de parceiros internacio­nais, entre os quais a ONU, a União Africana, a União Europeia, a CEDEAO e a CPLP são saudadas no documento, que encoraja as duas últimas a tomarem as “medidas necessária­s para organizar um encontro do Grupo Internacio­nal de Contacto sobre a Guiné-Bissau, em consultas com todas as partes interessad­as”.

O comunicado divulgado pelo Conselho de Segurança da Organizaçã­o das Nações Unidas refere o desafio de “combater o tráfico de drogas ilícitas e o crime organizado”, recomenda “o envolvimen­to positivo das autoridade­s da GuinéBissa­u e o apoio de doadores internacio­nais neste sentido”, promete continuar a monitoriza­r a crise e garante estar pronto “para tomar as medidas necessária­s para responder ao agravament­o da situação no país” da África Ocidental.

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AFP Membros do Conselho de Segurança da ONU debateram em Nova Iorque formas de ajudar a Guiné-Bissau a resolver a crise política

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