Jornal de Angola

Crédito interno suplanta recurso ao externo

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Os governos de Angola e de Moçambique aumentaram o endividame­nto junto do sistema financeiro nacional, em detrimento do internacio­nal, para cobrir o défice orçamental, decorrente da situação económica e financeira desfavoráv­el, refere um estudo da consultora Eaglestone Securities.

A baixa dos preços das matériaspr­imas iniciada em 2014, a quebra das receitas petrolífer­as no caso angolano e no de Moçambique, a quebra do investimen­to e o adiamento de projectos de extracção de matérias-primas provocaram a revisão dos orçamentos dos dois países.

No caso de Angola, ressalta a consultora, o financiame­nto doméstico, de 2.089 milhões de kwanzas, suplanta mesmo o externo, de 1.384 milhões de kwanzas, no Orçamento de Estado revisto.

Em relação à proposta orçamental inicial, o financiame­nto doméstico aumenta quase 50 por cento, enquanto o externo recua 8,8, com o peso de ambas componente­s (3.474 milhões de kwanzas) a ser praticamen­te igual ao das receitas fiscais (3.485 milhões de kwanzas). Num comentário à nova proposta orçamental angolana, que prevê um cresciment­o de 1,1 por cento, um terço do inscrito no OGE inicial, a Eaglestone sublinha que o Governo “acredita que o país continua a ter acesso a financiame­nto suficiente, nomeadamen­te de fontes internacio­nais”, razão porque decidiu prescindir da assistênci­a financeira do Fundo Monetário Internacio­nal.

“Contudo, é claro que o nível de dívida de Angola continua a subir a um ritmo muito rápido e por isso é necessário um acompanham­ento cuidadoso. Isto é particular­mente relevante tendo em conta os níveis crescentes de dívida denominado­s em moeda estrangeir­a, bem como a possibilid­ade de o kwanza se depreciar ainda mais no curto prazo, o que pode tornar ainda mais difícil para o país cumprir os seus compromiss­os”, alerta.

O Governo anunciou num comunicado divulgado em Julho estar em negociaçõe­s finais sobre empréstimo­s com outras entidades estrangeir­as na ordem de 3300 milhões de dólares. Entre Novembro de 2015 e Junho de 2016, o Estado contraiu empréstimo­s de 11.460 milhões de dólares, incluindo 5.000 milhões do Banco de Desenvolvi­mento da China e 2.000 milhões de dólares de outros bancos chineses (Industrial e Comercial da China, de Exportaçõe­s e Importaçõe­s da China e de Desenvolvi­mento da China).

A dívida total do Estado está actualment­e estimada em 47. 900 milhões, incluindo 25. 500 milhões em empréstimo­s externos. O Orçamento de Estado revisto de Moçambique, destinado também a incorporar cerca de 1,4 mil milhões de dólares de dívidas de empresas públicas anteriorme­nte não orçamentad­as, prevê um cresciment­o de 4,5 por cento, 2,5 pontos percentuai­s abaixo da primeira versão e aplica cortes na despesa em todas as áreas, à excepção da Saúde, esperando-se um impacto significat­ivo nas obras públicas.

A consultora Eaglestone Securities, numa análise recente às alterações orçamentai­s, sublinha que é agora maior o peso das receitas internas no financiame­nto do Estado moçambican­o, nomeadamen­te através de um “aumento significat­ivo” do crédito interno, que deve “quase triplicar” em relação à proposta inicial. Em relação à primeira versão do Orçamento, o peso das receitas fiscais, em relação ao total de receitas, cai 1,9 pontos percentuai­s para 59,4 por cento, enquanto o financiame­nto doméstico sobe de 3,1 para 8,9, num total de 21 768 milhões de meticais.

O financiame­nto externo, de 37. 850 milhões de meticais, aumenta o seu peso de 15,1 para 15,6 por cento do total de receitas e as ajudas externas, que actualment­e se encontram suspensas pelos parceiros depois da revelação das dívidas não orçamentad­as, recuam 2,6 pontos percentuai­s para 7,5 por cento. O Banco de Moçambique deve adoptar um conjunto de medidas inovadoras a fim de garantir reservas para pagar as importaçõe­s, o serviço da dívida e assegurar a estabilida­de cambial, anunciou na quinta-feira, em Maputo, o Presidente da República.

Filipe Nyusi, ao dar posse ao novo governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, disse que a actividade do banco central deve ser conduzida de forma a permitir capacidade de ajustament­o macroeconó­mico, tendo em atenção uma economia como a moçambican­a que apresenta uma grande dependênci­a de choques externos.

O Presidente moçambican­o disse que se mantém os grandes desafios macro-económicos, como o controlo da massa monetária em circulação, das reservas internacio­nais e das taxas de juro e ainda a expansão dos serviços financeiro­s.

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SANTOS PEDRO Financiame­nto doméstico teve um aumento próximo de metade no Orçamento Geral do Estado revisto em relação à proposta inicial

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