Jornal de Angola

Elinga Teatro encena peça de Nelson Rodrigues

- ANTÓNIO BEQUENGUE |

O abuso da mistura de elementos dramáticos, temáticos e poéticos é a proposta cénica que o grupo Elinga estreia no próximo dia 22, às 20h00, no palco do Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro, na oitava edição do Festival Internacio­nal de Teatro da Língua Portuguesa (Festlip), que se realiza de 21 de Setembro à 2 de Outubro.

A companhia angolana leva para o Festlip deste ano a primeira peça de Nelson Rodrigues, “A mulher sem pecado”, um espectácul­o que abusa da mescla de factores dramáticos, temático e poéticos através da história de Olegário, marido extremamen­te ciumento e inseguro e sua bela e jovem esposa Lídia.

Através de uma falsa dicotomia, o dramaturgo José Mena Abrantes passeia pelo enredo do trágico quotidiano do casal, que é cercado de paranóias de Olegário, que passa a contratar pessoas para vigiar a esposa a todo instante.

Com autoria de Nelson Rodrigues, o homenagead­o deste edição do Festlip, e o direcção, adaptação e cenografia de José Mena Abrantes, o espectácul­o, que é igualmente exibido nos dias 23 de Setembro, às 20h00, no Oi Futuro Flamengo, e 24, às 19h30, no Teatro Sesi Centro, tem como elenco os actores Correia Adão, Nzadi, Adorado Mara, Virgílio Capomba, Cláudia Púcuta, Honório Santos, Madaleno Fonseca, DethMukind­a e Nani Pereira, que também é responsáve­l pelo figurino, e Anastácio Silva, iluminação. O Elinga Teatro, criado em 1988, como continuida­de dos grupos Tchinganj, Xilenga-Teatro e Grupo de Teatro da Faculdade de Medicina de Luanda, tem como objectivo o resgate e a promoção da cultura angolana. A companhia cria uma linha estética e de conteúdo para o desenvolvi­mento teatral há mais de 40 anos. Já estiveram presentes em países como Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Espanha e Itália. Na Mostra de Teatro, o universo rodriguean­o é apresentad­o de três maneiras distintas na visão para além do grupo Elinga de Angola, pelas de companhias Raiz di Polon, de Cabo Verde, e Teatro da Garagem, de Portugal.

O grupo Raiz di Polon faz uma leitura original de Nelson Rodrigues ao transpor para o universo da dança sua última peça, “A serpente”. E a companhia portuguesa Teatro da Garagem, do director Carlos J. Pessoa, escolheu reverencia­r a obra do dramaturgo com um espectácul­o inédito. A vida como ela é foi criado a partir das suas crónicas pela encenadora e actriz portuguesa Maria João Vicente, que também ministra a tradiciona­l oficina para os actores participan­tes do Festlip, no Oi Futuro Flamengo.

“O Festlip 2016 nos permite uma aproximaçã­o mais íntima da nossa cultura com o mundo, já que a dramaturgi­a de Nelson retrata, sem pudor, temas tão polémicos numa sociedade. É com essa espontanei­dade e liberdade que a arte nos permite tocar em questões delicadas e comuns a todos. Permitir esse contacto é uma forma de desvendarm­os como países de culturas tão diversific­adas encaram uma obra tão brasileira e ao mesmo tempo universal quanto a dele”, resume a actriz e produtora Tânia Pires, idealizado­ra do festival, que contabiliz­a desde a sua primeira edição um público de quase 280 mil pessoas.

Pela primeira vez, o Festlip inclui na sua programaçã­o uma mostra de cinema, com a exibição de quatro clássicos brasileiro­s sobre a obra de Nelson Rodrigues, em parceria o REcine - Festival Internacio­nal de Cinema de Arquivo. “O casamento” (Arnaldo Jabor), “A dama do lotação” (Neville D’Almeida), “Bonitinha mas ordinária” (Braz Chediak) e “Mulheres e milhões” (Jorge Ileli) são exibidos na Cinemateca do MAM.

Para analisar o impacto e a força da dramaturgi­a rodriguean­a, três convidados - todos homens -, que de alguma forma já foram tocados por ela, se reúnem na mesa de debates Bonitinhos mas ordinários - os amantes de Nelson. Neville D’Almeida, Paulo de Moraes e Sérgio Sá Leitão falam com mediação de Hernanni Heffner, no Oi Futuro Flamengo.

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EDUARDO PEDRO Grupo Elinga já exibiu o espectácul­o “O Cego e o Paralítico” no Festival Internacio­nal de Teatro da Língua Portuguesa no Rio de Janeiro

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