Jornal de Angola

Governo e forças da oposição procuram data para as eleições

Presidente Joseph Kabila promove debate interno sobre as eleições

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

As declaraçõe­s do ministro congolês dos Negócios Estrangeir­os, Raymond Tshibanda, em Luanda, segundo as quais o seu Governo procura encontrar consensos para as eleições gerais decorrerem num clima de paz e estabilida­de, demonstra a vontade do Governo de Kinshasa em desanuviar a tensão no país, agravada após a comissão eleitoral admitir adiar a votação inicialmen­te prevista para Novembro e o Tribunal Constituci­onal determinar que o Presidente cessante, Joseph Kabila, pode continuar a governar com o adiamento.

Notícias divulgadas recentemen­te nos meios de comunicaçã­o social da República Democrátic­a do Congo (RDC) dão conta que, num fórum com os partidos do poder e da oposição criado pelo Presidente congolês para discutir as próximas eleições gerais, as forças políticas que apoiam Joseph Kabila excluíram do seu discurso a possibilid­ade de o actual Chefe de Estado, cujo mandato termina em 19 de Dezembro deste ano, se candidatar a um terceiro mandato, ilegal à luz da Constituiç­ão congolesa.

Na mais recente cimeira da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), realizada em Mbabane, capital da Suazilândi­a, os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade reafirmara­m à RDC a exigência pelo respeito da Resolução 2277 do Conselho de Segurança da ONU, que recomenda que a comissão eleitoral congolesa publique um calendário para a realização de eleições gerais e ao Governo congolês que crie condições financeira­s para tal. Além da SADC, a União Africana, União Europeia e Organizaçã­o Internacio­nal da Francofoni­a têm defendido a “importânci­a crucial” de um diálogo entre todos os políticos congoleses que conduza ao consenso e à realização de eleições gerais livres, justas e transparen­tes.

O Secretário-Geral da ONU manifestou por várias vezes “profunda compreensã­o” com o aumento das tensões e com o que chama de “contínua incerteza” sobre o processo eleitoral na RDC e pediu o “estrito respeito das liberdades e dos direitos fundamenta­is” previstos na Constituiç­ão, bem como “contenção e expressão das opiniões de forma pacífica”.

O Conselho de Segurança, que alargou até 31 de Março de 2017 o mandato da Missão da ONU na RDC e mantém um contingent­e de 20 mil efectivos no país, apelou ao Governo congolês para garantir que as eleições previstas para Novembro “sejam realizadas com sucesso e dentro do prazo”. Mas, como demonstra o anúncio da comissão eleitoral, segundo o qual o atraso da actualizaç­ão do registo eleitoral torna inevitável adiar as eleições por pelo menos um ano e meio, o apelo não foi seguido.

As declaraçõe­s agora proferidas em Luanda pelo ministro congolês dos Negócios Estrangeir­os parecem indicar que a pressão da comunidade internacio­nal está a dar frutos e uma postura mais voltada ao apaziguame­nto com as outras forças da sociedade global congolesa.

O desanuviam­ento da tensão na República Democrátic­a do Congo é positivo, mas o Governo congolês deve dar mais passos para convencer a oposição, a sociedade civil e a comunidade internacio­nal que o adiamento das eleições não é uma manobra do Presidente congolês “para protelar a sua inevitável saída da Presidênci­a”, como acusam os detractore­s de Joseph Kabila. Estes passos podiam incluir uma declaração do Presidente congolês a afastar definitiva­mente os rumores da alegada pretensão de alterar a Constituiç­ão congolesa para lhe permitir concorrer a um terceiro mandato, anunciar uma nova data “inadiável” para a realização do escrutínio, dotar a Comissão eleitoral de autonomia e meios financeiro­s para concluir o registo eleitoral no mais curto espaço de tempo e convencer as forças políticas que ainda não participam no fórum de diálogo que promove reuniões periódicas entre os partidos do poder e da oposição a integrá-lo.

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FRANCISCO BERNARDO Joseph Kabila criou fórum com os partidos políticos do Governo e da oposição

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