A responsabilidade de cada um
O acidente aparatoso que ocorreu na Via Expresso, em Luanda, na manhã de quinta-feira, em que pereceram duas pessoas, além de duas dezenas de feridos, lembra a toda a sociedade, instituições e famílias a responsabilidade no uso das estradas. É preciso criar condições para monitorizar e responsabilizar os proprietários ou motoristas, as entidades para as quais prestam serviço, entre outros intervenientes directos e indirectos, que permitem os seus veículos circular em condições que atentem contra a segurança rodoviária.
Urge reforçar os mecanismos de controlo sobre o estado das estradas para que, em casos de completa obstrução e perigosidade no trânsito, os automobilistas tomem conhecimento com suficiente previsibilidade e antecedência. A intervenção nas estradas, com pavimento escorregadio como consequência de algum derrame, deve antecipar-se aos efeitos desastrosos e não se verificar apenas depois de acidentes.
O controlo da circulação automóvel a todos os níveis por parte da Polícia Nacional e de outras entidades é vital na medida em que, relativamente ao referido acidente, muitas interrogações se levantam. Não há dúvidas de que a viatura que esteve na origem do derrame dificilmente vai ser identificada, sendo igualmente escusado avançar por hipótese a possibilidade da pessoa ou entidade responsável pela viatura ou pelo transporte de combustível naquelas condições apresentar-se e assumir as suas responsabilidades. Já há muito se fala sobre a necessidade das estradas possuírem câmaras de vídeo vigilância não apenas para monitorizar o trânsito, mas contribuir para o esclarecimento de casos como estes em que não há sinais sobre a identidade do veículo automóvel responsável pelo derrame de combustível. Não fosse a pronta intervenção da Polícia Nacional e dos serviços de bombeiros, que souberam intervir, condicionar o trânsito para efectuar limpeza do pavimento, mais danos e eventuais vítimas podiam resultar do pavimento escorregadio.
Relativamente às condições de transportação de pessoas por parte de veículos cuja parte de carga foi concebida para carregar mercadorias, precisamos de observar medidas preventivas e punitivas que desencorajem esse procedimento. A polícia reguladora do trânsito não pode continuar indiferente à insistência e violação do estipulado pelas leis angolanas, por parte de motoristas de camiões e carrinhas em transportar pessoas sobre as carroçarias. Não é exagerado apelar à Polícia Nacional para que torne efectiva a tolerância zero à circulação de camiões e carrinhas a transportar pessoas de forma indevida e ilegal.
A circulação rodoviária deve ser feita sob o signo da responsabilidade não apenas para os automobilistas, mas igualmente da parte de outros intervenientes, como os responsáveis pelas condições em que circulam numerosas viaturas e as pessoas enquanto passageiras. Estas últimas devem desempenhar igualmente um papel importante na prevenção de numerosos acidentes, a começar pela escolha da viatura em que seguir viagem e também a monitorização da condução automóvel. Não raras vezes, ao longo do trajecto, dentro e fora das localidades, muitos automobilistas são instados pelos passageiros a moderar a velocidade, atitude nem sempre recebida com a devida atenção por parte dos motoristas.
A responsabilidade deve ser partilhada, no que à transportação de pessoas diz respeito, quando estão em jogo vidas humanas, razão pela qual muitas das culpas estão igualmente partilhadas. Todos, entre automobilistas, passageiros, peões, reguladores de trânsito, bombeiros e restantes autoridades, acabamos por ser responsáveis pelo estado actual da circulação automóvel nas nossas estradas. A pressa, a necessidade de deslocação e outras razões não podem levar as famílias e pessoas singulares a minimizarem as questões de segurança, apenas para mencionar este factor.
Em todo o caso, mais do que encontrar culpados e responsáveis pelo fatídico acidente em que pereceu um bebé de oito meses, era bom que aprendêssemos todos a envidar esforços no sentido da actuação preventiva a todos os níveis. Com o controlo efectivo das vias de circulação, acreditamos que os processos através dos quais se podiam prevenir e evitar danos maiores nas estradas seriam mais eficazes, bem como as responsabilidades devidamente atribuídas. Ao lado das imposições legais para que os veículos transitem em condições técnicas, não é aceitável que circulem pelas estradas viaturas que derramem líquidos que atentam contra a segurança das pessoas ao longo do percurso e passem completamente despercebidas.
Se cada segmento da sociedade fizer a sua parte, tomar as suas responsabilidades, acreditamos que os índices de sinistralidade rodoviária e a taxa de fatalidade associada baixariam significativamente. Apenas se cada um fizer a sua parte.