Médicos trabalham em condições difíceis
Teresa Cohen afirma que os profissionais de saúde estão bem preparados
Teresa Cohen, professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, refutou quarta-feira, em Luanda, a ideia de que os médicos no exercício da sua profissão têm cometido os chamados “erros médicos” no tratamento dos doentes.
Teresa Cohen, que falava à margem da I bienal do Direito da Saúde, que terminou ontem, lembrou que o erro médico não está no Código de Ética e Deontologia e no Código Disciplinar. “Nós não falamos em erro médico, porque o médico, em princípio, não erra intencionalmente. Entendemos, que o profissional comete infracção disciplinar, porque o médico ao fazer o juramento de Hipócrates promete dar tudo para salvar a vida do seu paciente”, disse.
Teresa Cohen lamentou o facto de não se analisar as condições em que muitas vezes os profissionais de saúde trabalham no sentido de prestar assistência aos doentes. “Temos colegas que atendem mais de 200 pessoas em hospitais sem equipamentos suficientes”, disse a médica, que já foi vice-ministra da Saúde.
A docente universitária defendeu que o médico só pode ser responsabilizado pela morte do paciente 48 horas depois de o ter atendido. “Se eu receber um doente e cinco minutos depois ele morrer, significa que o paciente já chegou muito mal ao hospital e já não havia mais nada a fazer”, explicou, frisando que não excluía a possibilidade de haver também alguma negligência no atendimento ao doente.
Teresa Cohen reafirmou ser fundamental a melhoria das condições em que os médicos trabalham, na medida em que, desde os anos 80, os profissionais de saúde têm reclamado das condições em que os pacientes são atendidos.
“Não estamos a pedir aumento de salário. Precisamos de instituições públicas de saúde com serviços de qualidade, para as pessoas deixarem de viajar para o exterior para se tratarem”, disse a médica Teresa Cohen, garantindo que os médicos angolanos estão suficientemente bem preparados para prestar um bom serviço à população.
“Temos muitos médicos nacionais que são chefes de serviço em grandes hospitais no exterior e outros foram fazer especialidade e voltaram com grandes distinções”, afirmou.Para a docente universitária, a falta de exames complementares deontológicos, como a ecografia e a tomografia, faz com que o médico não tenha uma apreciação correcta do quadro clínico do paciente. A coordenador científica da I bienal do Direito da Saúde, Luzia Sebastião, que apresentou o tema “A responsabilidade penal dos médicos em Angola: o Código Penal actual e o projecto de Código Penal”, defendeu que o Direito da Medicina deve ser tratado no âmbito das outras disciplinas jurídicas, como o Direito Civil.
“Erro médico e tratamentos errados não são uma questão recente, nem um monopólio do Direito Civil, antes pelo contrário, foi no campo do Direito Penal que se trouxe à discussão jurídica a questão sobre os tratamentos médicos e os interesses de protecção dos doentes”, esclareceu .