Violência de Hécuba na Casa das Artes
O Elinga estreou ontem, na recém-inaugurada Casa das Artes, em Talatona, a peça
do romeno Matèi Visniec. A peça repete-se hoje e amanhã no mesmo local.
Matéi Visniec nasceu em 1956, na Roménia. Começou a escrever teatro ainda jovem, mas recusou “instintivamente a regra do realismo socialista” e preferiu inspirarse nas vanguardas do início do século XX (surrealistas, dadaístas, expressionistas) e também na literatura fantástica e no realismo mágico latino-americano.
“Por quê, Hécuba? é uma peça sobre a violência, como a Hécuba, de Eurípedes, mas no trabalho de Matèi Visniec, segundo o dramaturgo, “o olhar vai além, além do sofrimento e da vingança. Eu quis ‘empurrar’ Hécuba para a revolta. Eu quis que essa mulher, fruto da mitologia grega, interpelasse os deuses e, com isso, os próprios fundamentos da nossa civilização. Pois o verdadeiro debate está aí: por que construímos tantas coisas sobre o sangue e a violência, sobre a guerra e o sofrimento?”
“Vivemos num mundo onde, há quatro mil anos ou até mais, as guerras nunca terminam, onde os crimes se encadeiam sem parar, onde a violência é banalizada ou, pior, transformada na base narrativa da indústria do entretenimento e em modelo de comportamento”, destaca Visniec. “Omnipresente, glorificada pelos jogos electrónicos e pelo cinema, a violência tornou-se um alimento quotidiano, uma droga que precisamos de consumir diariamente em doses cada vez mais altas... Existe também uma violência na imagem e na linguagem, uma agressividade na publicidade e na informação. Estamos, enfim, em guerra contra nós mesmos, filhos de uma violência milenar que se transmite pela mitologia, pela educação, pela política, pela cultura popular e pelo culto da competição.” Na peça, Visniec quer mostrar “apenas algumas pistas para a reflexão”, através do teatro, que “não pode nunca dar Elinga estreia peça na Casa das Artes respostas completas, mas é importante que ele possa trazer à superfície questões essenciais.”
Elenco e ficha técnica
O elenco é formado por Anacleta Pereira (Hécuba), Vírgula Capomba (Pastor/Zeus), Correia Adão (Velho Cego/Poseidon), Cláudia Púcuta (Ernada/Adivinha 1), Madaleno da Fonseca (Membro do Coro 1/Apresentador), Nzady António (Membro do Coro 2/Hera/ Adivinha 2), Honório dos Santos (Membro do Coro 3/Hefesto/Polidoro), Emílio Lucombo (Membro do Coro 4/Polimestor), Caetano Santos (Membro do Coro 5/Hermes), Adorado Mara (Membro do Coro 6/Apolo), Bernardete Mukinda (Atenas/Polixena/Adivinha 3). Actriz convidada: Pulquéria VanDúnem (Afrodite).
Adaptação, cenografia, selecção de imagens e direcção – José Mena Abrantes; Figurinos – Anacleta Pereira; Música David Mena (contrabaixo) e Fred (percussão); Vídeoshow (imagens recolhidas na net) – Paulo Azevedo; Desenho de luzes Rui Vidal/Anastácio Silva; Confecção de cenário e máscaras - Madaleno da Fonseca; Confecção dos figurinos – Muamby Wasaki/Cláudia Nobre; Produção – Elinga-Teatro (50ª produção).