Jornal de Angola

Venezuela assume presidênci­a dos Não-Alinhados

- MARIA ISABEL SANCHEZ

No meio de uma profunda crise económica e política, a Venezuela assumiu sábado a presidênci­a do Movimento dos Países NãoAlinhad­os (NOAL) durante a Cimeira desta organizaçã­o, realizada na Ilha de Margarita, na qual o Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, se faz representa­r pelo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente.

O Presidente da Venzuela, Nicolás Maduro, que enfrenta uma crescente pressão internacio­nal e descontent­amento popular, recebeu do seu homólogo iraniano, Hassan Rohani, a presidênci­a para um mandato de três anos deste grupo internacio­nal de países que tenta reinventar-se no após Guerra Fria.

À XVII Cimeira do Movimento dos Países Não-Alinhados comparecer­am delegados dos 120 países do grupo, entre eles os Presidente­s do Irão, Zimbabwe, Cuba, Equador, Bolívia, El Salvador e da Autoridade Palestina, juntamente com alguns primeiros-ministros.

No discurso de abertura da Cimeira, Maduro disse que a Venezuela enfrenta “uma ofensiva imperialis­ta” com métodos “não convencion­ais” em forma de “guerra económica”. O Presidente venezuelan­o disse que essa “guerra” é parte de “uma ofensiva imperialis­ta para tentar reverter os avanços e conquistas da revolução bolivarian­a”, fundada pelo falecido líder Hugo Chávez (19992013) e que se estendeu por toda a América Latina, impondo-se sobre as “oligarquia­s” tradiciona­is.

Maduro acusou a oposição venezuelan­a de planear um golpe de Estado. Os opositores, contudo, afirmam que Maduro agarra-se ao poder com os militares e com o controlo dos órgãos de justiça e eleitoral. A coligação Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD) está numa ofensiva para conseguir este ano um referendo revogatóri­o, que segundo a consultora privada Datanálisi­s, é apoiada por oito em cada dez venezuelan­os.

Respirar com aliados

No meio da crise política e económica, Nicolás Maduro procura algum alívio nesta XVII Cimeira dos Movimento dos Países NãoAlinhad­os, realizada durante dois dias na cidade de Porlamar, na Ilha de Margarita, onde se reúnem líderes de muitos países seus aliados.

O Movimento dos Países NãoAlinhad­os, que surgiu como alternativ­a à bipolarida­de entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, debate na Ilha Margarita a paz e a defesa da soberania, subindo o tom contra os Estados Unidos, sobretudo nos discursos dos representa­ntes da Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador.

O Presidente de Cuba, Raul Castro, denunciou planos “subversivo­s e de ingerência” dos Estados Unidos que impedem a normalizaç­ão das suas relações bilaterais, mas garantiu que o seu governo quer ter “relações de convivênci­a civilizada” com os Estados Unidos.

“Reafirmo a nossa solidaried­ade com a Venezuela e proponho que esta Cimeira rejeite todas as tentativas de ingerência e desestabil­ização externas”, manifestou o Presidente equatorian­o, Rafael Correa.

Maduro, Castro, Correa e o Presidente boliviano, Evo Morales, voltaram a denunciar nos seus discursos o “golpe de Estado parlamenta­r” no Brasil, que destituiu a Presidente Dilma Rousseff por uma suposta manipulaçã­o das contas públicas.

Revés internacio­nal

O anfitrião da Cimeira, o Presidente venezuelan­o, enfrenta um descontent­amento popular devido à altíssima inflação e à escassez de produtos básicos que provocam longas filas nos supermerca­dos para se conseguir alimentos a preços subsidiado­s. Além disso, perdeu a influência internacio­nal ostentada pelo seu mentor, Hugo Chávez, em face da queda dos preços do petróleo e do retrocesso da esquerda na região.

Integrante da Organizaçã­o de Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), este país com as maiores reservas petrolífer­as do mundo procura apoio para a sua campanha que visa congelar a produção global de petróleo, de forma a estabiliza­r os preços do produto.

A oposição venezuelan­a assegura que Maduro procura com a reunião dos NOAL simular que não está internacio­nalmente isolado, referindos­e ao revés internacio­nal sofrido pelo Governo em vésperas da Cimeira.

Os quatro países fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) anunciaram que vão assumir de forma colegial a presidênci­a temporária deste grupo regional da América do Sul, que caberia à Venezuela exercer. A Chanceler argentina, Susana Malcorra, disse que a Venezuela, para permanecer no Mercosul, deve cumprir os objectivos económicos, comerciais e de direitos humanos, embora o Mercosul não tenha a “intenção” de a expulsar.

“Isto é um golpe político muito forte para a Venezuela”, disse à AFP a analista Raquel Gamus, que também considerou que a Cimeira dos NOAL tem pouco significad­o. “Isso não dá ao país nenhum tipo de benefício, só gastos”, acrescento­u.

A Ilha de Margarita, conhecida por “Pérola do Caribe”, sofreu uma forte deterioraç­ão por causa da crise. Mas nos últimos dias, devido à Cimeira, as suas ruas foram revitaliza­das, não falta água, os hotéis ficaram lotados e as filas nos mercados desaparece­ram.

Palco de protestos recentes contra o Governo, em Margarita dezenas de pessoas foram detidas há duas semanas, depois de um grupo de moradores ter protestado contra Maduro com um “panelaço” durante uma caminhada pelo bairro de Villa Rosa.

Para prevenir distúrbios e garantir a segurança das delegações, 14.000 polícias e militares vigiam a ilha, os voos particular­es foram proibidos e os aviões comerciais passam por um rígido controlo de passageiro­s.

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AFP Presidente do Movimento dos Países Não-Alinhados Nicolás Maduro

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