Jornal de Angola

A voz que tenta despertar

- MARIA ISABEL SANCHEZ

Fundado há pouco mais de meio século como alternativ­a à bipolarida­de entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS), o Movimento de Países Não-Alinhados (NOAL) é um grupo de 120 nações que procura agora recuperar o antigo vigor, apagado com o fim da Guerra Fria.

O Movimento dos Países NãoAlinhad­os, que realiza a sua XVII Cimeira na Ilha de Margarita, nas Caraíbas da Venezuela, passou a ser presidido, a partir de sábado, durante três anos, por este país produtor de petróleo, mergulhado na pior crise económica e política da sua história recente.

Alguns analistas internacio­nais encaram o Movimento como uma peça de museu da Guerra Fria, após a queda do Muro de Berlim (1989) e a dissolução da URSS (1991). Embora o seu objectivo fosse conservar uma posição neutra frente às superpotên­cias e se erguer como a terceira voz, alguns países permanecer­am aliados a Washington e outros a Moscovo, como Cuba.

“É um bloco em decadência, um fórum político para procurar que os países mais desenvolvi­dos tenham políticas mais flexíveis com os outros”, comentou à AFP Raquel Gamuz, professora de política externa da Universida­de Central da Venezuela. Os seus defensores planeiam uma renovação do movimento, destacando-o como o segundo maior organismo do mundo, depois das Nações Unidas, pelo número de membros: 120 Estados e 17 observador­es.

Estes países representa­m quase dois terços dos integrante­s da ONU e abrigam 55 por cento da população mundial. Cerca de 80 por cento das reservas mundiais de petróleo estão nos países da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), membros plenos do Movimento NOAL.

Velhos e novos colonialis­mos

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que recebeu a presidênci­a do NOAL das mãos do seu homólogo iraniano, Hassan Rohani, propõe-se torná-lo uma “organizaçã­o” destinada a lutar contra as “novas formas de recoloniza­ção”, num momento em que acusa os Estados Unidos de apoiarem os seus opositores para o derrubar.

“Vou apresentar provas e denúncias de todas as tentativas de golpe, ameaças, ataques. Vou aproveitar esta Cimeira e a presidênci­a dos Não-Alinhados para denunciar esta direita pró-imperialis­ta que se ajoelha”, assegurou Maduro, que acusa os Estados Unidos de desestabil­izarem os governos de esquerda na América Latina.

O NOAL tem as suas raízes na Conferênci­a de Bandung, realizada na Indonésia em 1955, que reuniu 29 governante­s, e nasceu formalment­e na Cimeira de Belgrado em 1961. Desempenho­u um papel importante na luta contra o colonialis­mo, o racismo e o apartheid na África do Sul.

Alguns de seus líderes emblemátic­os foram Gamal Abdel Nasser (Egipto), Shri Jawaharlal Nehru (Índia), Josip Broz Tito (Jugoslávia), Fidel Castro (Cuba), que presidiu ao Movimento dos Não-Alinhados em duas ocasiões antes de a Ilha restabelec­er relações com a Casa Branca, em 2015, no que é considerad­o o último conflito da Guerra Fria no continente.

Os críticos do Movimento dos Países Não-Alinhados dizem que reuniu dirigentes polémicos, alguns acusados de serem ditadores e violarem os direitos humanos.

Na Cimeira em Margarita, que trata de temas como a paz, a independên­cia, a solidaried­ade, a soberania, a não interferên­cia e a cooperação, participar­am apenas os presidente­s de Irão, Zimbabwe, Cuba, Equador, Bolívia, El Salvador e a Autoridade Palestina. Os outros Chefes de Estado fizeram-se representa­r.

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