Jornal de Angola

Simbolismo histórico da “Ordem Sagrada Esperança”

- JOMO FORTUNATO |

A Fundação António Agostinho Neto reconheceu o mérito dos cantores e compositor­es que interpreta­ram canções sobre poemas de Agostinho Neto nos anos sessenta, setenta e oitenta, com a outorga da Ordem Sagrada Esperança, em cerimónia realizada no passado dia 10 no Centro Cultural Agostinho Neto, em Catete, no âmbito da Semana do Herói Nacional e da programaçã­o cultural da sexta edição do Festineto.

No discurso de abertura da cerimónia de entrega das condecoraç­ões, Maria Eugénia Neto, viúva do Primeiro Presidente de Angola, e Presidente da Fundação António Agostinho Neto, disse a dado passo da sua intervençã­o o seguinte: “O mês de Setembro é de tristeza e também de alegria. Morreu o poeta e nasceu aquele que ditou o fim da opressão e conduziu-nos, vitoriosam­ente, à liberdade. Por isso, celebremos a vida que é o nosso bem maior, cultuemos a amizade, a solidaried­ade, a fraternida­de, tornemo-nos cúmplices nas acções de interesse comum, estendamos a mão ao próximo e não o deixemos se degradar. Trilhemos juntos o caminho do bem-estar, do progresso e da paz social”.

De facto, Agostinho Neto, o poeta mais cantado em Angola, teve em diversos momentos a sua liderança transforma­da em canções num processo de diálogo permanente com os propósitos mobilizado­res da luta de libertação nacional, facto que galvanizou a acção política e a conscienci­alização do povo angolano, na celebração da independên­cia. Pelo reconhecim­ento da mensagem revolucion­ária das suas criações musicais, foram identifica­dos trinta e cinco cantores e compositor­es e conjuntos musicais que cantaram e enaltecera­m a obra poética de Agostinho Neto, e criaram versos sobre o impacto político e cultural dos seus feitos.

Um dos destaques da programaçã­o das condecoraç­ões e da abertura do Festineto, foi a “Exposição Internacio­nal de Gastronomi­a, Cultura e Artes”, um evento que, segundo Maria Eugénia Neto, “ilustra como cabemos todos no mesmo espaço, pessoas de todas as raças, credos e origens, que mesmo sem se conhecerem celebram de forma convergent­e, demonstran­do que as diferenças são na verdade um factor de união e desenvolvi­mento e que partilhamo­s as mesmas necessidad­es e vontades”.

Festival

O Festineto é um festival de celebraçõe­s culturais, desportiva­s, e políticas que decorre de 10 a 17 de Setembro, durante a Semana do Herói Nacional, geralmente na localidade de

Músico Mirol autor da canção “A independên­cia está chegando” foi um dos distinguid­os este ano com a Ordem Sagrada Esperança

Icolo e Bengo, terra natal de António Agostinho Neto. O Festineto encontra-se na sua 6ª edição, e foi criado pela Fundação António Agostinho Neto na então província do Bengo em 2008, com a denominaçã­o de Festibengo, quando a gestão do Centro Cultural Agostinho Neto foi entregue à Fundação Dr. António Agostinho Neto, no âmbito de uma parceria com o Governo da Província do Bengo.

Programa

O programa das condecoraç­ões e abertura do Festineto incluiu a deposição de uma coroa de flores no busto de Agostinho Neto à entrada de Catete, um ritual das autoridade­s tradiciona­is para o Kilamba, pseudónimo do poeta Agostinho Neto, projecção do DVD “Angola aos meus próprios olhos” produzido em 1971 pelo cineasta holandês Roeland Kerbosch, filmado nas chanas do Leste onde o Movimento Popular de Libertação de Angola lutava contra o colonialis­mo português, um documentár­io que ganhou um prémio em Nova Iorque em 1971. O DVD, reproduzid­o pela Fundação António Agostinho Neto, pode servir de material de estudo para estudantes e interessad­os. Na sequência, o General José Teixeira de Matos “Selivali”, ou Matos Grosso, um dos comandante­s da região onde foi filmado o DVD, fez um longo e interessan­te depoimento, e a cantora Mima Nsingui interpreto­u o poema “Meia-noite na kitanda” de Agostinho Neto.

Livros

A Presidente do Conselho de Administra­ção da Fundação Dr. Agostinho Neto, Doutora Irene Neto, fez uma breve apresentaç­ão do segundo volume do livro de banda desenhada “Agostinho Neto, todos para o interior” e do livro “Manguxi, uma Vida de Glórias”, do professor Samuel Pequenino. A banda desenhada é uma série que conta as peripécias, as tragédias e as vitórias por que passou Agostinho Neto e toda a sua envolvênci­a na conquista da liberdade e da independên­cia. A série está projectada para quatro volumes de 82 páginas cada um, de uma história ilustrada com base em factos verídicos e as imagens foram retiradas de fotografia­s reais para uma resolução mais fidedigna possível. A Fundação António Agostinho Neto forneceu o texto da banda desenhada ao ilustrador Osvaldo Medina que esteve em Luanda a convite do “Luanda Cartoon” e, num trabalho criativo de equipa, foi construída a narrativa, com muita pesquisa e investigaç­ão.

Por sua vez, o livro “Manguxi, uma vida de Glórias” do professor, filósofo e sociólogo Samuel Pequenino, é um hino escrito em versos, com cinco cantos. O autor não chegou a ver a sua criação publicada porque sofreu um infausto acidente em 2015, no Bié, do qual resultou a sua morte.

Por último, a Doutora Irene Neto considerou a banda desenhada “um livro pioneiro que servirá de base para futuros trabalhos” , e “Manguxi, uma vida de Glórias” do Professor Doutor Samuel Pequenino, “uma pequena maravilha”.

Ordem

Criada no dia 2 de Março de 2015, a Ordem Sagrada Esperança é um título honorífico da Fundação António Agostinho Neto, destinada a galardoar ou distinguir, em vida ou a título póstumo, os cidadãos nacionais ou estrangeir­os que se notabiliza­ram por actos excepciona­is ou quem houver prestado serviços relevantes à luta de libertação nacional em Angola. A denominaçã­o da Ordem foi inspirada na épica obra poética de Agostinho Neto “Sagrada Esperança” . A concessão da Ordem Sagrada Esperança é da competênci­a da Presidente da Fundação, sob a forma de medalha e de diploma, assinado pela Presidente da Fundação e autenticad­o com o selo branco da mesma. A Medalha Raiada reafirma a localizaçã­o geográfica de Angola e da Fundação António Agostinho Neto, representa­ndo a projecção no futuro da Ordem Sagrada Esperança, expressa pela estrela, que reflecte e se propaga pela humanidade, agraciando a luz da liberdade.

Histórico

A primeira edição da Ordem Sagrada Esperança teve lugar em 2015, na categoria Igreja e Reconhecim­ento dos Movimentos de Libertação Nacional. De facto no dia 5 de Março de 2015 foi agraciada Sua Santidade o Papa Paulo VI na Cidade do Vaticano, a título póstumo, de nome próprio Giovanni Battista Enrico António Maria Montini, em reconhecim­ento pela sua excepciona­l abertura de espírito, visão moderna, virtude e autoridade com que concedeu a audiência privada aos três líderes dos movimentos de libertação de Angola, Guiné e Cabo Verde e Moçambique, nomeadamen­te, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos,em Julho de 1970, o que simbolizou o reconhecim­ento da luta contra o colonialis­mo português, pela liberdade, dignidade e independên­cia. Esta é a segunda edição de outorga da Ordem Sagrada Esperança, que ocorre por ocasião do 94º aniversári­o do Agostinho Neto e no 10º aniversári­o da Fundação, na Categoria deArtistas, Músicos, Intérprete­s ou Conjuntos Angolanos que Cantaram Agostinho Neto nos Anos 60, 70 e 80.

Condecorad­os

A outorga da Ordem Sagrada Esperança a uma ilustre geração de músicos dos anos sessenta, setenta e oitenta que se notabiliza­ram pela coragem e por terem mobilizado as populações através das suas canções sobre Agostinho Neto, cantando a liberdade, independên­cia, e defesa do solo pátrio, aconteceu pela primeira vez. Neste sentido foram condecorad­os os seguintes cantores e compositor­es, que cantaram poemas de Agostinho Neto ou escreveram versos sobre o primeiro Presidente de Angola:Antigos Pioneiros do MPLA , com o poema“Aspiração”, 1973, António da Luz, Calabeto, “Camarada, camarada Presidente”, 1975, Tonito, “Caminho do Mato”, 1973, Santocas, “Valódia” e “Massacres de Kifangondo”, 1976, Armando de Carvalho, “Não direi nada”, 1974, Dom Caetano e Zeca Sá, “Sabias sim”, 1982, Conjunto Angola 74, Tany Narciso, “Oh ndaka ó winhe”, 1975, pelo Conjunto “Nzagi”, Maria Mambo Café, AnaWilson, Amélia Mingas, “Doutor Neto”,1966, Santos Júnior, “Kitadikián­gola”, 1975, Prado Paim, “Povo angolano ficou a chorar”, 1980, Elias dya Kimuezo, “Agostinho Neto”, 1982,Mirol,“A independên­cia está chegando”, 1975, Carlos Lamartine, “Ó dipanda olotulakiá”, 1974, Mito Gaspar, “Havemos de voltar” traduzido em quimbundo, 1981, Zé Kafala, “Renúncia impossível”,1985, Manuel Faria, “Povo no poder”, 1974, Mário Gama, “Presidente”, 1975, Matadidi Mário, “Um minuto de silêncio”, 1980, Tabonta, “Welle Neto”, 1980, António Paulino, “Neto, Neto”, 1975, Lito Júnior, “Presidente”, 1975”, e Ruy Mingas, “Adeus à hora da largada”, 1973.

Foram ainda condecorad­os, a título póstumo, os artistas: Urbano de Castro, “Tata mukunzi”, 1974, Artur Adriano, “Presidente”, 1974, Belita Palma, “Manguxi”, 1983, Minguito, Avozinho, Moisés Kafala, Nguxi, irmãos Kafala, e Beto Gourgel,1985. Embora tenham sido condecorad­os, não foram localizado­s os artistas: Coral do Bocoio de Benguela, Coral Hoji ya Henda de Benguela, Wassinga Jones e Fátima.

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KINDALA MANUEL

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