Conselho a jovens para lerem livros
A África vive hoje um período de democratização e desenvolve esforços para ser parte decisiva do sistema económico e político mundial. Digno de estudo é o período revolucionário, quando, inspirados pelo pan-africanismo, pela negritude e pelo nacionalismo, os países africanos alcançaram a independência, a que se seguiu a etapa do partido único, durante a Guerra Fria.
O continente africano marcha, porém, ainda vergado ao peso dos graves problemas herdados desse passado e que ficaram por solucionar. Nesta etapa do curso da História, os sinais visíveis nas grandes cidades indicam que o futuro da África depende da criatividade dos jovens.
Por mais que se invista na escolarização, o país carece de indústrias e de infra-estruturas técnicocientíficas, nos mais diversos domínios, para absorver a mão-deobra que termina a formação académica, seja ela de nível médio ou superior. Este é o grande dilema da África. Enquanto a Europa foi disseminando o acesso à educação, tendo uma base tecnológica herdada dos tempos da Época Clássica, com o uso da roda metálica, dos guindastes, das embarcações marítimas e fluviais e da siderurgia, a África cria esse acesso à educação sem aquela base progressiva cuja evolução se repercutia nas inovações e estudos científicos, sociais e humanos dos académicos e estudiosos. Daí, a zunga ser o destino de muitos jovens em toda a África.
Ora, neste contexto, o que podemos fazer para encorajar o nascimento e o desenvolvimento de um pensamento, de uma cultura que contemple as especificidades e necessidades do desenvolvimento africano, capaz de absorver as vantagens oferecidas pela modernidade e pela renovação científica e tecnológica do Ocidente? Como encorajar a juventude estudantil a promover o contributo que a civilização africana pode dar à civilização universal?
O Presidente Nelson Mandela, na 50ª conferência nacional do Congresso Nacional Africano (ANC), realizada em Mafikeng a 16 de Dezembro de 1997, apresentou a sua versão dos elementos-chave do renascimento africano são:
1. O desenvolvimento económico do continente;
2. A afirmação de sistemas políticos democráticos;
3. A ruptura dos laços de dependência económica neocolonialista;
4. A mobilização dos africanos para que se tornem obreiros da sua história;
5. O rápido desenvolvimento de uma economia centrada nas pessoas. Entre os cinco elementos-chave indicados, três são nitidamente económicos, e mesmo nos outros dois se encontram resquícios económicos. O desenvolvimento económico, por si só, sem a componente ético-cultural, e alicerçado no chamado liberalismo, cria um sistema social onde tudo e todos podem ser comprados, basta saber a que preço.
O Renascimento do jovem angolano incide numa re-apropriação cultural e no resgate da tradição, configurando, assim, a tentativa de evitar a repetição dos paradigmas ocidentais, ou mesmo, sem partir da tradição, tentar elaborar uma obra inovadora que o leve a situar o seu próprio ser enquanto homem angolano integrado no mundo globalizado.
O grande desafio do jovem angolano actual é tornar-se potencialmente apto para enfrentar o efeito migratório da massa cinzenta (know-how) ocidental (Europa e América) e asiática (China, Índia, Coreia, Japão).
É o desafio de desenvolver a sua personalidade, os seus talentos bem como as suas capacidades físicas e mentais, no seu máximo potencial, conforme sugere a Carta Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança.
Ora, para alcançar o máximo potencial, o jovem angolano tem de ultrapassar a presente apatia académica. Ele deve:
a) Ser um intelectual ética e moralmente comprometido com a sociedade em que vive e com os problemas da sua época, quer dizer, ser uma espécie de reserva moral da sociedade.
b) Organizar o TEMPO (ser dono do tempo e não escravo do tempo). Agendas (de bolso, de mesa e ajudas-memória). Expurgar tudo o que é inútil e supérfluo (novelas baratas; Big Brother, jogos não instrutivos, chats na internet).
c) Ser um AUTO-DIDACTA (em consequência da organização do tempo)
d) Usar parte fundamental do tempo na leitura de livros instrutivos.
Para se tornar um grande intelectual há que ler, no mínimo, um ou dois livros por mês. Consultar um dicionário de língua portuguesa sempre que tiver dúvidas sobre alguma palavra e estudar a gramática da língua. Óscar Ribas não andou na Universidade, mas tinha estudado muito, tinha lido muito, mesmo sendo cego. Então, se você, jovem angolano, tem os dois olhos sãos, não poderá estudar mais do que Óscar Ribas? No tempo colonial, muitos de nós, que vivíamos no musseque, não tínhamos luz nem água corrente em casa. Mas estudámos à luz de candeeiros a petróleo. E apanhávamos o autocarro que nos deixava cinco a dez quilómetros longe de casa. Portanto, muitas das desculpas que alguns jovens avançam hoje, não colhem.
Quem quiser ser alguém na vida tem de gastar dinheiro e tempo com livros. Tem de constituir uma biblioteca. Não só de literatura. Deve ler livros sobre Geografia, História, Botânica, Ciências, Arte e outras matérias. José Saramago, que não andou na Universidade (era carpinteiro) e foi Prémio Nobel da Literatura, porque passou vinte anos a estudar e ler como autodidacta, antes de se lançar no mundo difícil da Literatura.
Angola precisa de novos talentos da craveira de Óscar Ribas e até maiores que o próprio Nobel Saramago. E também precisa de técnicos médios e profissionais que saibam construir obras e manusear máquinas e equipamentos capazes de transformar a paisagem urbana e rural. Uma saída para os jovens zungueiros e fugidos do lar, seria o modelo cubano de escolas rurais, ligadas ao desenvolvimento agrícola. Um país não se faz só com engenheiros e doutores. Mas, seja qual for o domínio do saber, é preciso muito esforço e sacrifício, estudo e aprendizagem.