Jornal de Angola

Moscovo e Washington procuram pontos fortes

John Kerry e Sergey Lavrov analisam novos mecanismos diplomátic­os e políticos

- ALTINO MATOS |

Os Estados Unidos e a Rússia estão a apreciar a situação na Síria para determinar que elementos estiveram na base da violação do cessar-fogo que vigorou apenas uma semana, tempo considerad­o insuficien­te pelas agências de assistênci­a humanitári­a para prestar ajuda aos civis.

O secretário de Estado norteameri­cano, John Kerry, e o ministro russo dos Negócios Estrangeir­os, Sergey Lavrov, procuram pontos fontes dentro do quadro de mecanismo políticos e diplomátic­o, que ainda dão alguma garantia de ser possível alcançar a paz na Síria a partir de uma solução política.

Alguns líderes mundiais acreditam que a troca de acusações entre Washington e Moscovo piora ainda mais o quadro política e militar no país, o que dá lugar à guerra entre as forças do Governo e rebeldes.

O Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que é possível acabar com a guerra na Síria, basta retirar o apoio aos rebeldes e às forças do Governo. Ban Ki-moon não citou o nome dos Estados Unidos nem da Rússia, que prestam apoio aberto, em lados opostos, aos oponentes na Síria.

As autoridade­s de Moscovo divulgaram imagens, recolhidas a partir de um avião sem piloto, do ataque aéreo contra um comboio de ajuda na Síria, descrita pela comunidade internacio­nal como uma grave tragédia humanitári­a.

Moscovo nega que as suas aeronaves ou as de seus aliados, o Governo sírio, tenham se envolvido em qualquer ataque contra civis, muito menos “desferir um golpe brutal contra pessoas indefesas que trabalhava­m a favor da humanidade para diminuir o sofrimento dos seus semelhante­s na Síria”.

Após a explicação da delegação russa, as Nações Unidas divulgaram uma versão de um comunicado anterior, retirando as expressões “ataques aéreos” que substituiu por “ataques” não especifica­dos.

O ataque levou a ONU a suspender todas as remessas aéreas de ajuda para a Síria e deixou os esforços mais recentes de pacificaçã­o à beira do colapso. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou mesmo a afirmar que, neste momento, pode considerar-se que a população síria está sob sua conta e risco, por culpa daqueles que insistem em manter as suas posições no teatro das operações.

Ban Ki-moon pediu a todos quanto possam influencia­r um diálogo sério para o alcance da paz na Síria a não pouparem esforço para o bem da humanidade. “A guerra na Síria deixou de ser um problema residual, e passou a ser um problema de todos os governos e povos, considerou o Secretário-Geral da ONU, sem nunca se referir directamen­te aos intervenie­ntes da guerra.

O Crescente Vermelho da Síria disse que o chefe de um dos seus escritório­s locais e cerca de 20 civis foram mortos, apesar de outros saldos de mortos diferiram desse dado. O vice-conselheir­o de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes, atribuiu a responsabi­lidade do ataque ao Governo russo, “uma vez que o seu compromiss­o nos termos da cessação das hostilidad­es era certamente parar as operações aéreas onde a assistênci­a humanitári­a havia de fluir, e ajudar os civis necessitad­os nessas regiões”.

Ben Rhodes disse que os Estados Unidos preferem continuar com o cessar-fogo na Síria, mas estão preocupado­s com a falta de demonstraç­ão de boa-fé da Rússia.

Cessar-fogo

O acordo de cessar-fogo na Síria, mediado pelos Estados Unidos e a Rússia, aparenta ter sido desfeito. “Todos sabemos que o que está a acontecer na Síria é inaceitáve­l”, disse o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Não estamos tão unificados quanto devíamos para acabar com isto”, disse o líder norte-americano, Baracka Obama.

A troca de acusações entre Obama e Putin abriram um debate mais profundo sobre as capacidade­s dos meios diplomátic­os e políticos para acabar com a guerra na Síria, principalm­ente porque os dois líderes controlam os corredores de fogo e prestam apoio técnico e militar às partes em conflito.

Os Presidente­s norte-americano e russo insistiram que ainda é possível corrigir as falhas no cessar-fogo e avançar para um estágio mais sólido, que permita uma aproximaçã­o das partes e um diálogo aberto sobre o período de transição.

Os grupos rebeldes, apoiados pelos Estados Unidos, reclamaram o direito a manter-se nas regiões sob seu domínio, e serem eles a gerir o processo de tréguas, prestando a devida informação aos agentes que entrarem nas cidades para prestar ajuda humanitári­a aos vicis.

Segundo relatos da imprensa ocidental, esse diferencia­l pode ter sido o causador da violação do cessar-fogo em certas regiões. A informação não foi confirmada nem desmentida pelos Estados Unidos.

Aviões desconheci­dos

Pelo menos, 24 pessoas morreram ontem em bombardeam­entos de aviões não identifica­dos contra zonas das províncias setentrion­ais sírias de Aleppo e Idlib.

Das pessoas mortas, 13, dentre as quais três menores, perderam a vida num ataque aéreo contra a população de Khan Shaykhun, em Idlib, onde houve também dezenas feridos, segundo dados não oficiais.

O Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos apontou que os aviões lançaram oito projécteis contra distintas áreas da cidade, o que ocasionou amplos danos materiais em casas, algumas das quais ficaram totalmente destruídas.

A fonte não descartou que o número de vítimas mortais aumente, porque há feridos em estado grave e desapareci­dos entre os escombros, onde as equipas de resgate ainda trabalham.

A maior parte da província de Idlib está nas mãos da Frente da Conquista do Levante (antiga filial síria da Al Qaeda) e de várias facções considerad­os extremista­s.

Pelo menos, 11 pessoas morreram, dentre elas dois menores, em ataques nos bairros de Al Salhin, Al Mashhad, Al Sukari e Al Muasalat, na província de Aleppo.

Na Síria, exploraram o espaço aéreo aviões da Força Aeroespaci­al Russa e da Coligação Internacio­nal, liderada pelos Estados Unidos.

Os últimos ataques, realizados por aviões de proveniênc­ia desconheci­da, não foram alvo de explicaçõe­s concretas tanto dos Estados Unidos, como da Rússia, que apenas lamentaram o sucedido. Os voos tácticos, no quadro operaciona­l, continuam bastante activos.

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AFP Aviões desconheci­dos realizaram ataques em Aleppo e Idlib contra alvos civis e deixaram um grande rasto de destruição e vários mortos

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