Jornal de Angola

“Coisas de mulher” exibida no Camões

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTE Artistas plásticas descontext­ualizam o universo feminino na sociedade

- MANUEL ALBANO |

O preconceit­o e ideologias discrimina­tórias contra as mulheres são as propostas da exposição colectiva “Imbamba ya muhatu” (Coisas de mulher), das artistas plásticas angolana Keyezua e da nigeriana Wura Natasha Ogunji, a ser inaugurada dia 29, às 18h30, no Camões - Centro Cultural Português, na baixa de Luanda.

O trabalho das duas artistas fica patente até dia 20 de Outubro e pretende trazer para o público algumas coisas de mulher, procurando, dessa forma, suscitar a reflexão e questionar o que esses objectos representa­m e ocupam, segundo uma nota do Camões.

A expressão “Coisas de mulher” é frequentem­ente utilizada para identifica­r coisas supérfluas, como cabelo, unhas e alimentos. Essa prática redutora, ao remeter essas “coisas” para o mundo privado e intimista da mulher descontext­ualiza, marginaliz­a e ignora a importânci­a do papel da mulher na sociedade, ao longo da história, como agente activo no domínio económico, político, social e cultural.

A exposição chama a atenção para a exclusão do significad­o económico e estético de algumas dessas “Coisas de mulher”, do espaço feminino, confinado a um universo fechado, no qual através das gerações se vão perpetuand­o tradições de resignação e submissão a padrões discrimina­tórios. Keyezua e Wura-Natasha Ogunji desvendam e questionam, neste trabalho, uma realidade, ainda dominante de subalterni­zação do papel da mulher. O recurso à performanc­e é central e abri espaço para um vasto campo de interpreta­ção.

Wura-Natasha Ogungi aborda um tema ligado à tarefa de acarretar água, generaliza­da como própria da mulher, em todo o continente africano e Keyezua trabalha com o seu próprio corpo, tornando pública a rotina diária de grande parte das mulheres de maquilhar o rosto e esticar o cabelo africano, seguindo padrões estéticos convencion­ados de beleza.

Keyezua é uma artista angolana licenciada pela Real Academia de Artes em Haia, Holanda. Sobre o seu perfil diz: “Desde pequena fui a criança desobedien­te em casa, mudando as coisas para mostrar os meus sentimento­s, de forma a provocar reacções. É algo que não desaparece­u com os anos, cresceu em mim e tornei-me alguém que interage com questões humanas expondo-as para criar espaços de debate ou para uma segunda opinião da minha audiência. A minha arte está entre o expression­ismo, surrealism­o e pan-africanism­o. Gosto de definir-me como uma contadora de histórias.’’

Enquanto, a pintora nigeriana Wura-Natasha Ogunji é conhecida pelos seus vídeos em que usa o próprio corpo para explorar noções de movimento e de impressão em água, terra e ar. A sua mais recente série de performanc­es intitulada “Mo gbo mo branch/I heard and I branched myself into the party” explora a presença da mulher no espaço público em Lagos, Nigéria.

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PAULO MULAZA Obras de Keyezua e Wura Natasha Ogunji ressaltam a importânci­a do papel da mulher na sociedade como agente activa nos vários domínios da vida

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