Jornal de Angola

Nada muda com Temer

Embaixador Norton Rapesta garante apoio a grandes projectos na energia e agricultur­a

- KUMUÊNHO DA ROSA |

O embaixador cessante do Brasil, Norton de Andrade Rapesta, garantiu ontem que a parceria estratégic­a com Angola é independen­te de qualquer que seja o Governo no poder nos dois países, numa clara alusão à saída de Dilma Rousseff e entrada de Michel Temer. Andrade Rapesta, que falava à imprensa depois de apresentar cumpriment­os de despedida ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, reafirmou o prosseguim­ento do apoio do Brasil a projectos como o Aproveitam­ento Hidroeléct­rico de Laúca, em Malanje, que vai “revolucion­ar o sector energético” em Angola. O Executivo angolano definiu como meta até 2017 chegar aos cinco mil megawatts de produção de energia.

A parceria estratégic­a entre Angola e o Brasil é independen­te de qualquer que seja o Governo no poder nos dois países, defendeu o diplomata brasileiro Norton de Andrade Rapesta, que ontem terminou a sua missão de pouco mais de um ano como chefe da missão diplomátic­a brasileira em Luanda.

Em declaraçõe­s a jornalista­s após ser recebido no Palácio da Cidade Alta pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, o diplomata destacou os laços históricos e culturais entre angolanos e brasileiro­s, que tornam “sólidas e intensas” as relações entre os dois países.

“Foi assim desde sempre”, referiu Norton Rapesta, antes de lembrar que “o DNA brasileiro tem muito de angolano”, assim como a “cultura, a culinária e a forma de expressar a língua portuguesa”. Norton Rapesta, que assume as mesmas funções no Koweit e Bahrein, referiu-se ao discurso do Presidente brasileiro Michel Temer, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, terça-feira, que destacou a importânci­a que o Brasil atribui à “boa vizinhança” com o continente africano.

Aproximaçã­o pelas artes

Quando assumiu as funções em Abril de 2015, Norton Rapesta defendeu uma grande aposta no reforço da cooperação cultural e artística, com a abertura em Setembro do mesmo ano do Centro Cultural Brasil-Angola. O diplomata assinalou o dinamismo do empreendim­ento, que se destaca pela multiplici­dade de acções culturais e por servir a outras representa­ções diplomátic­as. “O Centro Cultural Brasil-Angola está em pleno funcioname­nto, com uma série de acções culturais e de inserção social, exposições, cinema, sopa de letrinhas, e várias Embaixadas amigas realizam lá os seus eventos”, declarou Norton de Andrade, que aponta como “único caminho” a continuida­de da aposta na aproximaçã­o, tendo o Centro Cultural como “pólo de contacto” entre os dois países.

Para o diplomata, o empreendim­ento tem sido um “palco muito importante para exposições de jovens artistas angolanos e brasileiro­s e para realização de shows”. Como exemplo, o diplomata citou o Projecto Kalunga II, em que vários artistas brasileiro­s que se apresentar­am em Angola nos anos 80 puderam regressar em 2015, no âmbito dessa iniciativa. Norton Rapesta também falou da balança comercial, que ficou “muito afectada” em função da redução acentuada da exportação de petróleo, de que resultou a quebra no volume de negócios para cerca de mil milhões de dólares por ano.

“Em relação ao volume de negócios posso dizer que não está no ideal”, disse o diplomata, para quem Luanda pode ser uma plataforma para concentrar mercadoria­s de outros países africanos para serem enviadas directamen­te para o Brasil”. De igual modo, referiu, no Brasil é possível concentrar mercadoria de vários países como Argentina, Chile e outros para mandar para Angola e distribuir.

Segundo Norton Rapesta, foram dados “alguns passos nesse sentido”, de tal sorte que, referiu, o Porto de Luanda está pronto para oferecer tarifas preferenci­ais para rotas directas do Brasil e existem empresário­s que começaram já a estudar possibilid­ades de aumentar esse comércio.

Apoio para Laúca

Entretanto, garantiu que o Brasil continuará a apoiar projectos como o Aproveitam­ento Hidroeléct­rico de Laúca, em Malanje, que vai, como disse, “revolucion­ar o sector energético angolano”, pelo aumento esperado no volume da oferta de energia eléctrica. O Executivo angolano definiu como meta até 2017 chegar aos cinco mil megawatts de produção de energia. Projectada para produzir 2.070 megawatts de electricid­ade, repartidos por seis turbinas de 334 megawatts cada, em duas centrais, a barragem de Laúca joga um papel prepondera­nte para se chegar a esse objectivo. A central principal de Laúca vai gerar 2.004 megawatts, enquanto a ecológica, com capacidade para gerar 67 megawatts, deve entrar em funcioname­nto apenas em 2018.

Novo embaixador

Para substituir Norton Andrade Rapesta, o Governo de Michel Temer indicou Paulino Franco de Carvalho Neto. Segundo fontes diplomátic­as, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado brasileiro apreciou o processo de indicação de Paulino Franco de Carvalho Neto, que tem categoria de Ministro de Primeira Classe da Carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Desde Junho, ainda como interino, o Presidente Michel Temer recomendou o diplomata ao Senado Federal para render Norton de Andrade Mello Rapesta no cargo de representa­nte diplomátic­o brasileiro em Angola. Nascido em 13 de Fevereiro de 1961, em Curitiba, Paulino Neto ingressou na carreira diplomátic­a em 1986.

A Constituiç­ão brasileira atribui “competênci­a privativa” ao Senado Federal para examinar previament­e e, por voto secreto, escolher os chefes de missão diplomátic­a de carácter permanente. Depois da avaliação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o processo passa pelo crivo do Plenário do Senado Federal, para a apreciação final.

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FRANCISCO BERNARDO Embaixador garante relações estáveis
 ?? FRANCISCO BERNARDO ?? Presidente José Eduardo dos Santos recebeu o embaixador Norton Rapesta que vai desempenha­r iguais funções no Koweit e Bahrein
FRANCISCO BERNARDO Presidente José Eduardo dos Santos recebeu o embaixador Norton Rapesta que vai desempenha­r iguais funções no Koweit e Bahrein

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