Angolofobia e paternalismo em Portugal
Angolofobia e paternalismo, ramificações da mediocridade intelectual, continuam, em pleno século XXI, arreigados em pessoas de alguns países, especialmente de Portugal, como facilmente se comprova nos órgãos de comunicação social, em discursos políticos e até em conversas informais.
Entre um e outro, venha o diabo e escolha, que nós temos muita dificuldade em fazê-lo, pois revelam ambos complexos de inferioridade, com máscaras aparentemente diferentes a encobrir recalcamentos, como todos dolorosos, reveladores do sentido de perda do que na verdade nunca se teve, que a angolanidade jamais pertenceu a quem não a merece, como a História comprova.
A angolofobia surge quase sempre de forma desabrida, reveladora do ódio, é o termo, que o nosso país, livre e independente, suscita em pessoas de vários quadrantes da vida política e social, neste a caso a portuguesa. Todos os momentos, todos os motivos, lhes servem de alambiques de invejas, sentimentos neocoloniais, raivas por os angolanos repetidamente optarem – em eleições livres, reconhecidas por observadores e instituições internacionais como transparente –, por quem entende que melhor os representa e aposta no progresso. Que lhes constrói casas, hospitais, escolas, estradas, pontes, barragens e fontanários. Acima de tudo, lhes dá a certeza de um presente de paz e a garantia de um futuro risonho para os vindouros.
Por isso, aqueles alambiqueiros, mesmo quando trajados de fato e gravata, amiúde caem no ridículo, destorcem verdades indesmentíveis, inventam, caluniam. Muitos deles, pela desfaçatez constante, tornaram-se conhecidos de todos nós, embora volta e meia emirjam outros, talvez na procura do minuto de fama ou como forma de dizerem aos patrões dos primeiros que também eles têm direito à vida e bolsos à espera que os encham.
Os paternalistas são mais comedidos na postura e nas expressões.Escolhem falinhas mansas, que usam por princípio de forma surdinada, procuram ser afáveis, compreensivos e, naturalmente, tolerantes. Mas, cuidem-se os incautos. Quando menos esperam, podem sentir a alfinetada em forma de “conselho desinteressado” sobre o que devia ter sido feito e não foi, do que foi mas não devia ou podia ser melhor ou de outra maneira. Também se servem da técnica estafada de dar uma no cravo e outra na ferradura, que aplicam para tentarem mostrar que fazem análises imparciais, desinteressadas, solidárias.
Uns e outros, na esmagadora maioria,desconhecem a realidade angolana. Nunca vieram ao nosso país ou, se o visitaram, foi por períodos curtos e jamais o percorreram de uma ponta a outra. Limitaram-se a empanturrar-se em almoçaradas e jantaradas em restaurantes caros e bons em qualquer parte do mundo. Ao pronunciarem-se sobre Angola nem sequer fazem comparações sobre o que ela era quando a guerra acabou e o que é agora. Em alguns casos por ignorância indesculpável, mas quase sempre por má-fé. Interrogados como podem falar de realidades que desconhecem, argumentam que lêem jornais e ouvem estações de rádio e de televisão, órgãos que não são para levar a sério quando não dizem bem o que querem ler e ouvir. Percebese que também navegam nas águas nem sempre límpidas da Internet, bastas vezes encharcadas pelo lodo da angolofobia.
Uns e outros são, no fundo, ramos da mesma árvore contaminada pela xenofobia, o neocolonialismo, a demência, o despudor, a arrogância, a tacanhez, o apego à calúnia, o complexo de inferioridade. Não fosse a gravidade do que dizem, eram dignos de comiseração. Assim, o melhor que lhes podemos dar é desprezo.
O leitor mais paciente está a esta altura a interrogar-se por que motivo não mencionei o outro ramo da mesma árvore contaminada, o dos camaleões, os que, consoante as circunstâncias e conveniências pessoais, tanto defendem Angola com unhas e dentes como a agridem com todas as forças que conseguem reunir. Sempre os houve, embora passem despercebidos durante largos períodos de tempo, continuam a existir e não são tão poucos como isso. O assunto pode vir a ser motivo de uma destas estórias de ontem e hoje. Não está esquecido. Para já, fica em agenda.