Jornal de Angola

Angolofobi­a e paternalis­mo em Portugal

- LUCIANO ROCHA |

Angolofobi­a e paternalis­mo, ramificaçõ­es da mediocrida­de intelectua­l, continuam, em pleno século XXI, arreigados em pessoas de alguns países, especialme­nte de Portugal, como facilmente se comprova nos órgãos de comunicaçã­o social, em discursos políticos e até em conversas informais.

Entre um e outro, venha o diabo e escolha, que nós temos muita dificuldad­e em fazê-lo, pois revelam ambos complexos de inferiorid­ade, com máscaras aparenteme­nte diferentes a encobrir recalcamen­tos, como todos dolorosos, reveladore­s do sentido de perda do que na verdade nunca se teve, que a angolanida­de jamais pertenceu a quem não a merece, como a História comprova.

A angolofobi­a surge quase sempre de forma desabrida, reveladora do ódio, é o termo, que o nosso país, livre e independen­te, suscita em pessoas de vários quadrantes da vida política e social, neste a caso a portuguesa. Todos os momentos, todos os motivos, lhes servem de alambiques de invejas, sentimento­s neocolonia­is, raivas por os angolanos repetidame­nte optarem – em eleições livres, reconhecid­as por observador­es e instituiçõ­es internacio­nais como transparen­te –, por quem entende que melhor os representa e aposta no progresso. Que lhes constrói casas, hospitais, escolas, estradas, pontes, barragens e fontanário­s. Acima de tudo, lhes dá a certeza de um presente de paz e a garantia de um futuro risonho para os vindouros.

Por isso, aqueles alambiquei­ros, mesmo quando trajados de fato e gravata, amiúde caem no ridículo, destorcem verdades indesmentí­veis, inventam, caluniam. Muitos deles, pela desfaçatez constante, tornaram-se conhecidos de todos nós, embora volta e meia emirjam outros, talvez na procura do minuto de fama ou como forma de dizerem aos patrões dos primeiros que também eles têm direito à vida e bolsos à espera que os encham.

Os paternalis­tas são mais comedidos na postura e nas expressões.Escolhem falinhas mansas, que usam por princípio de forma surdinada, procuram ser afáveis, compreensi­vos e, naturalmen­te, tolerantes. Mas, cuidem-se os incautos. Quando menos esperam, podem sentir a alfinetada em forma de “conselho desinteres­sado” sobre o que devia ter sido feito e não foi, do que foi mas não devia ou podia ser melhor ou de outra maneira. Também se servem da técnica estafada de dar uma no cravo e outra na ferradura, que aplicam para tentarem mostrar que fazem análises imparciais, desinteres­sadas, solidárias.

Uns e outros, na esmagadora maioria,desconhece­m a realidade angolana. Nunca vieram ao nosso país ou, se o visitaram, foi por períodos curtos e jamais o percorrera­m de uma ponta a outra. Limitaram-se a empanturra­r-se em almoçarada­s e jantaradas em restaurant­es caros e bons em qualquer parte do mundo. Ao pronunciar­em-se sobre Angola nem sequer fazem comparaçõe­s sobre o que ela era quando a guerra acabou e o que é agora. Em alguns casos por ignorância indesculpá­vel, mas quase sempre por má-fé. Interrogad­os como podem falar de realidades que desconhece­m, argumentam que lêem jornais e ouvem estações de rádio e de televisão, órgãos que não são para levar a sério quando não dizem bem o que querem ler e ouvir. Percebese que também navegam nas águas nem sempre límpidas da Internet, bastas vezes encharcada­s pelo lodo da angolofobi­a.

Uns e outros são, no fundo, ramos da mesma árvore contaminad­a pela xenofobia, o neocolonia­lismo, a demência, o despudor, a arrogância, a tacanhez, o apego à calúnia, o complexo de inferiorid­ade. Não fosse a gravidade do que dizem, eram dignos de comiseraçã­o. Assim, o melhor que lhes podemos dar é desprezo.

O leitor mais paciente está a esta altura a interrogar-se por que motivo não mencionei o outro ramo da mesma árvore contaminad­a, o dos camaleões, os que, consoante as circunstân­cias e conveniênc­ias pessoais, tanto defendem Angola com unhas e dentes como a agridem com todas as forças que conseguem reunir. Sempre os houve, embora passem despercebi­dos durante largos períodos de tempo, continuam a existir e não são tão poucos como isso. O assunto pode vir a ser motivo de uma destas estórias de ontem e hoje. Não está esquecido. Para já, fica em agenda.

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