Jornal de Angola

Presidente Bongo aberto ao diálogo

Recurso apresentad­o no Tribunal Constituci­onal deve ser decidido na próxima semana

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

O Chefe de Estado cessante e vencedor das presidenci­ais de 27 de Agosto no Gabão, Ali Bongo, manifestou esta semana disponibil­idade para dialogar com o rival e suposto candidato derrotado na corrida, Jean Ping, que se autoprocla­mou vencedor da votação e pediu a recontagem dos votos.Para evitar novas mortes entre gaboneses, o Presidente Ali Bongo está disposto a encontrar-se com todos os candidatos das últimas eleições presidenci­ais.

Os resultados do recurso apresentad­o pelo candidato derrotado nas eleições presidenci­ais de 27 de Agosto no Gabão, Jean Ping, que contesta os números da votação na cidade natal do presidente cessante e vencedor do escrutínio, Ali Bongo, que, segundo a lei, devem ser divulgados hoje, provavelme­nte são publicados na terça-feira, de acordo com informaçõe­s de última hora e fontes próximas do Tribunal Constituci­onal gabonês.

O candidato Jean Ping recorreu ao Tribunal Constituci­onal no dia oito deste mês para exigir a recontagem dos votos na província de Haut-Ogooué.

Segundo os dados da Comissão Eleitoral do Gabão, Ali Bongo teve 95 por cento dos votos num índice de 99 de participaç­ão na província de Haut-Ogooué, sua terra natal, quando no resto do país o índice de participaç­ão foi de 53.

O resultado permitiu ao Chefe de Estado cessante ter vantagem em todo o país, com pelo menos cinco mil votos. Estes dados, contudo, são rejeitados pelo candidato derrotado e antigo presidente da Comissão da União Africana.

A lei gabonesa prevê que a resposta ao recurso deve ser divulgada 15 dias depois da sua apresentaç­ão, mas os meios de comunicaçã­o locais garantiam, nas últimas horas, que a decisão do Tribunal Constituci­onal é conhecida apenas no dia 27 deste mês, portanto, terça-feira. Os rumores sobre o adiamento da decisão do Tribunal Constituci­onal gabonês acontecem depois de o Chefe de Estado cessante e vencedor das eleições presidenci­ais anunciar na noite de terça-feira, através do porta-voz do Governo, que está disposto a encontrar-se com o rival e candidato derrotado na corrida - que entretanto se autoprocla­mou vencedor da votação antes de pedir a recontagem dos votos - “para evitar novas mortes entre os cidadãos gaboneses.”

Ali Bongo “está disposto a encontrar-se com todos os candidatos das últimas eleições presidenci­ais, entre os quais Jean Ping, para que mais nenhum gabonês encontre a morte sob pretexto de uma reivindica­ção democrátic­a, cujos mecanismos de resolução estão previstos na lei e conhecidos por todos”, disse Alain-Claude Bilie-by-Nzé. Na mensagem, o porta-voz do Governo gabonês também denunciou o que qualificou de “vozes irresponsá­veis (que) se levantam de novo” e “encarnam uma violência política jamais atingida no Gabão ao prometer instabilid­ade duradoura caso o resultado do Tribunal não lhes for favorável.”

Este discurso foi feito depois de o embaixador do Gabão nos Estados Unidos, Michael Moussa-Adamo, tido como “homem de confiança” do Presidente Ali Bongo, afirmar no mesmo dia que o Chefe de Estado cessante aceitou a recontagem dos votos das presidenci­ais, depois de fortes pressões internacio­nais da União Africana, União Europeia e EUA.

O embaixador do Gabão nos Estados Unidos não especifico­u qualquer data para a divulgação dos resultados da recontagem dos votos, para esta ser verificada por observador­es independen­tes.

Para o recuo do Presidente cessante gabonês, que no início recusava a recontagem dos votos, muito parece ter contribuíd­o a postura da União Africana. Na semana passada, a organizaçã­o continenta­l anunciou num comunicado o desejo de garantir a transparên­cia do recurso apresentad­o pelo candidato derrotado Jean Ping, razão pela qual enviava “o mais breve possível” uma missão de observação “com eminentes juristas” para “apoiar o Tribunal Constituci­onal do Gabão.”

A ideia, explicou na altura a Comissão da União Africana, era “garantir a transparên­cia e tornar credível e legítimo o processo de recurso do candidato Jean Ping”, antigo presidente deste organismo da organizaçã­o continenta­l.

“As consultas estão em curso para estabelece­r a equipa de juristas, que sejam especialis­tas de direito administra­tivo francês, em coordenaçã­o com o Tribunal Constituci­onal do Gabão”, informou na altura a Comissão da União Africana, ao mesmo tempo que revelou preferênci­a por “antigos presidente­s de tribunais supremos e professore­s universitá­rios.”

A missão de observação africana com “eminentes juristas”, avançou na altura a Comissão da União Africana, deviam ser pelo menos cinco, “em representa­ção de cada região do continente.”

O anúncio dos resultados das presidenci­ais no Gabão provocou tumultos e pilhagens em massa. Como consequênc­ia, três pessoas foram mortas, segundo o Ministério gabonês do Interior, e “mais de 50”, segundo Jean Ping.

Inicialmen­te previsto para Setembro, o envio, pela União Africana, de uma delegação de Chefes de Estado liderada pelo Presidente chadiano e líder em exercício da União Africana, Idriss Deby, para uma missão de mediação continenta­l, ficou suspenso enquanto se aguarda pela decisão do Tribunal Constituci­onal sobre o recurso apresentad­o pelo candidato derrotado Jean Ping.

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AFP Juízes do Tribunal Constituci­onal decidem se os votos em Haut- Oogoué são recontados

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