Jornal de Angola

Angola quer alargament­o do Conselho de Segurança

VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA DISCURSA NA ONU

- JOSINA DE CARVALHO

O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, afirmou na Assembleia-Geral das Nações Unidas que a reforma do Conselho de Segurança é “um imperativo que se não for realizado pode levar à incapacida­de de actuação da organizaçã­o mundial e ao contínuo esboroar da sua legitimida­de e credibilid­ade”.

Ao discursar na quinta-feira na 71ª sessão da reunião magna da maior organizaçã­o mundial, em representa­ção do Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, o VicePresid­ente da República declarou que Angola é a favor do alargament­o do número dos membros permanente­s e não permanente­s do Conselho de Segurança, para tornar este órgão mais representa­tivo e melhor apetrechad­o na sua capacidade de resposta na solução dos conflitos.

Por essa razão, disse, Angola reitera o direito do continente africano de estar representa­do entre os membros permanente­s do Conselho de Segurança, conforme o Consenso de Ezulwini. Quanto à organizaçã­o na sua generalida­de, o Vice-Presidente afirmou que a ONU deve ser capaz de promover a paz e segurança internacio­nal, de agir com celeridade e eficácia em situações de conflito e de dar resposta aos mais prementes desafios da actualidad­e, como o terrorismo internacio­nal sem precedente­s e as alterações climáticas inauditas.

“Essas transforma­ções impõem, naturalmen­te, uma reflexão conjunta sobre o papel e o futuro das Nações Unidas”, disse, tendo sublinhado o papel da Assembleia-Geral na busca de soluções para os problemas internacio­nais mais candentes, na preservaçã­o da paz, no reforço da segurança colectiva e na renúncia ao uso da força nas relações internacio­nais, no respeito pela soberania dos Estados, na defesa e promoção dos Direitos Humanos e na reafirmaçã­o do primado do Direito, como princípios fundamenta­is do sistema internacio­nal.

De acordo com o Vice-Presidente da República, Angola acredita que o espírito de abertura para o diálogo, a tolerância e a prevalênci­a do bom senso constituem a chave para a resolução dos problemas que hoje afectam a humanidade.

Manuel Vicente afirmou que o país, enquanto presidente da Conferênci­a Internacio­nal da Região dos Grandes Lagos, tem-se empenhado na procura de soluções para os problemas que afectam a região no quadro bilateral e multilater­al, bem como no âmbito do Conselho de Segurança das Nações e do Conselho de Paz e Segurança da União Africana. “Reafirmamo­s a nossa determinaç­ão de continuar a apoiar e a promover o diálogo, a paz, a segurança e a estabilida­de na África Central e no conjunto da Região dos Grandes Lagos”, acrescento­u.

Para o Vice-Presidente da República, as Nações Unidas e a União Africana devem dedicar especial atenção às crises na Líbia, no Mali, na República Centro Africana, na República Democrátic­a do Congo, no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália e no Burundi.

Manuel Vicente defendeu ainda que os conflitos na Líbia, na Síria e no Iraque exigem uma rápida resolução, face às graves consequênc­ias humanitári­as, e uma resposta imediata e abrangente por parte da comunidade internacio­nal, tal como o processo de distensão entre Cuba e os EUA, apesar do restabelec­imento das relações diplomátic­as entre os dois países, que Angola espera resultar no levantamen­to do bloqueio económico.

Desenvolvi­mento sustentáve­l

No seu discurso, o Vice-Presidente da República falou também dos Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l da Agenda 2030 e garantiu que Angola está firmemente empenhada na sua implementa­ção, através de medidas adequadas a nível nacional, em benefício do planeta, da sua prosperida­de, estabilida­de e paz. “É nossa intenção ratificar no mais curto espaço de tempo possível o Acordo de Paris, como sendo o nosso inequívoco compromiss­o de contribuir­mos para o alcance dos seus objectivos”, adiantou Manuel Vicente.

As alterações climáticas, justificou, são uma das questões mais complexas e urgentes da política interna e externa com que o mundo se depara actualment­e, tendo em conta o seu impacto sobre as migrações, a segurança alimentar, os recursos naturais, a propagação de epidemias e até sobre a instabilid­ade social e económica.

O Acordo de Paris 2015, prosseguiu, constitui um valioso instrument­o de acção, ambicioso, equilibrad­o e equitativo, cuja entrada em vigor permitirá estimular os esforços colectivos para se controlar o aqueciment­o global. O Vice-Presidente da República indicou que Angola representa somente 0,17 por cento das emissões de gases com efeito de estufa, mas sente os efeitos das alterações climáticas pelo agravament­o e encurtamen­to dos ciclos de seca e alta precipitaç­ão, que colocam em risco a agricultur­a, infra-estruturas sociais e económicas e o aumento da incidência de várias endemias.

Manuel Vicente confirmou a participaç­ão de Angola na terceira Conferênci­a das Nações Unidas sobre Alojamento e Desenvolvi­mento Urbano Sustentáve­l (Habitat III), no próximo mês, em Quito, por considerar o evento uma oportunida­de para adopção de uma nova agenda urbana global, susceptíve­l de promover relações fortes e sinergias entre a urbanizaçã­o, o desenvolvi­mento sustentáve­l e as alterações climáticas.

AAssemblei­a-Geral foi informada que Angola é um país estável do ponto de vista político e social, que regista uma maior consolidaç­ão da unidade, da reconcilia­ção nacional e das suas instituiçõ­es. No plano económico, Manuel Vicente assinalou que os desafios são maiores, por causa da incerteza dos preços das matérias-primas no mercado internacio­nal. “Mas continuamo­s a trabalhar para reajustar os nossos planos de acção e para encontrar os caminhos do cresciment­o económico e proteger a melhoria de vida das nossas populações”, garantiu.

Depois do discurso, Manuel Vicente teve um encontro com o Presidente da RCA, Archange Touadéra, com quem abordou assuntos bilaterais e outros ligados à situação na Região dos Grandes Lagos, com destaque para o seu país.

Archange Touadéra disse que neste momento as instituiçõ­es democrátic­as estão a ser restabelec­idas, depois dos momentos difíceis que o país viveu e das eleições, e o povo almeja a paz efectiva, a estabilida­de e o desenvolvi­mento.

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DOMBELE BERNARDO | NOVA IORQUE Manuel Vicente discursou em representa­ção do Presidente José Eduardo dos Santos

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