Jornal de Angola

Reconcilia­ção na Colômbia é exemplo a seguir

Presidente Juan Manuel Santos garante na Assembleia Geral da ONU que a guerra acabou

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

A forma como o Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (FARC) conduziram o processo de paz e reconcilia­ção neste país da América Latina é um exemplo a seguir, não sendo arriscado perspectiv­ar que pode dar às duas partes o Prémio Nobel da Paz deste ano.

O discurso pronunciad­o pelo Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, durante a 71.ª sessão da Assembleia Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), que decorreu esta semana em Nova Iorque, reflectiu o entusiasmo dos colombiano­s com o processo de reconcilia­ção nacional.

Com a insígnia de uma pomba branca na lapela, Juan Manuel Santos destacou as vantagens do pacto assinado em Havana, Cuba.

“A guerra na Colômbia terminou. Terminou o último e mais velho conflito armado no Ocidente, que deixou mais de 220 mil mortos e mais de oito milhões de vítimas”, afirmou. O estadista sublinhou que desde o entendimen­to “não foi registado um só morto, um só ferido, uma só bala disparada, por causa do conflito com as FARC”.

“Talvez seja a primeira vez que duas partes concordara­m em estabelece­r um tribunal de paz e acatar as decisões da entidade, que as vítimas estão no centro do documento e que um acordo de paz tem um capítulo especial sobre o género e trata homens e mulheres da mesma maneira”, destacou o Presidente Juan Manuel Santos.

O entusiasmo do Presidente colombiano é partilhado pelas FARC, a outra parte signatária do acordo.

Na 10.ª Conferênci­a Nacional das FARC, realizada com o aval das autoridade­s e cobertura dos meios de comunicaçã­o social públicos, os delegados manifestar­am “apoio unânime” ao acordo e concordara­m em depôr as armas. Na ocasião, foi anunciada a data de 27 de Maio para a transição do movimento de guerrilha para partido político e a intenção das FARC concorrere­m às eleições presidenci­ais e legislativ­as de 2018.

Pacto de Havana

Depois de quatro anos de negociaçõe­s em Havana, o Governo e as FARC anunciaram em 24 de Agosto que chegaram a um acordo de paz definitivo para o conflito armado de mais de 50 anos na Colômbia, depois de tentativas fracassada­s nos governos de Belisario Betancur (1982-1986) , César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002).

Entre outros aspectos, o acordo integra temas como a reforma agrária, participaç­ão política dos combatente­s da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, o problema das drogas, indemnizaç­ão às vítimas do conflito e mecanismos de implementa­ção e verificaçã­o.

Prevê, também, que quem confessar os crimes num tribunal especial evita a prisão e recebe penas alternativ­as, e que as FARC iniciem o desarmamen­to em três etapas, sob acompanham­ento da ONU e do Governo colombiano.

Antes de entrar em vigor, o Pacto de Havana deve ser aprovado pelos colombiano­s num referendo a realizar em 2 de Outubro. Para passar na prova das urnas, o acordo de Havana deve ter o aval de pelo menos 4,4 milhões de votantes.

Um grupo influente na Colômbia, liderado pelo antigo Presidente Álvaro Uribe (2002-2010), opõese ao acordo por considerar que “deixa crimes das FARC sem punição” e faz campanha pelo “não”.

Apoio global ao acordo

Pelo menos 13 Chefes de Estado da América Latina e os líderes dos grandes organismos multilater­ais confirmara­m a presença no acto solene de assinatura do acordo de paz, que acontece em Cartagena das Índias. Os Presidente­s de Cuba, Raúl Castro, cujo país foi anfitrião das conversaçõ­es com as FARC, da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Chile, Michelle Bachelet, já confirmara­m a presença na cerimónia.

Também confirmara­m presença os Presidente­s Enrique Nieto (México), Jimmy Morales (Guatemala), Juan Hernández (Honduras), Salvador Cerén (El Salvador), Juan Varela (Panamá), Luis Solís (Costa Rica), Rafael Correa (Equador), Pedro Kuczynski (Peru), Horacio Cartes (Paraguai) e Danilo Medina (República Dominicana).

Os secretário­s-gerais da Organizacç­ão das Nações Unidas, Ban Kimoon, da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, também vão estar presentes.

Também confirmara­m presença no acto solene de assinatura do acordo de paz na a alta representa­nte da União Europeia para as Relações Exteriores, Federica Mogherini, entre outros dignitário­s.

O Secretário-Geral da ONU disse ser um privilégio para a organizaçã­o “participar neste esforço de levar a paz ao último conflito do Hemisfério Ocidental, que durou mais de 50 anos”.

O Presidente norte-americano Barack Obama disse que o acordo de paz pode melhorar a segurança e a prosperida­de do povo colombiano.

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AFP Guerrilhei­ros das FARC dão apoio unânime ao acordo de paz com o Governo colombiano

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