CIA desclassifica arquivos sobre espionagem no Chile
Autoridades chilenas querem a extradição dos implicados no homicídio
Documentos da CIA divulgados ontem confirmam que o antigo Presidente do Chile, Augusto Pinochet, foi responsável pela ordem de assassinar o seu opositor político Orlando Letelier, devido aos embaraços políticos que criava ao seu Governo.
O documento, de acesso público no “site” da biblioteca Ronald Reagan, faz parte do último pacote de arquivos desclassificados sobre o atentado, nos Estados Unidos da América, contra Orlando Letelier e a sua secretária, que o Departamento de Estado dos EUA entregou ao Chile por ocasião do 40.º aniversário daquele que foi o primeiro acto terrorista cometido por um Governo estrangeiro em Washington.
“Uma revisão dos nossos arquivos sobre o assassinato de Letelier mostrou o que consideramos como provas convincentes de que o Presidente Pinochet ordenou pessoalmente que o seu chefe de inteligência realizasse o assassinato”, assinala a CIA num texto datado de 1 de Maio de 1987.
“Os arquivos também deixam claro que, quando a investigação das autoridades norte-americanas determinou que integrantes do alto escalão de inteligência e do Exército do Chile eram responsáveis, Pinochet decidiu obstruir o caso para esconder o seu envolvimento e, em último caso, para proteger a sua presidência”, lê-se no texto da CIA. Este documento era o mais esperado no Chile, porque prova que foi Augusto Pinochet quem deu a ordem de assassinar o primeiro-ministro Salvador Allende. Em Outubro de 2015, o Secretário de Estado (Ministro das Relações Exteriores) dos EUA, John Kerry, visitou o Chile e entregou à presidente Michelle Bachelet documentos desclassificados sobre o caso.
Entre eles havia um do final dos anos 80, no qual o então secretário de Estado dos EUA, George Schultz, assegurava que havia um relatório da CIA com informação convincente de que Augusto Pinochet ordenou pessoalmente o assassinato de Orlando Letelier. Os Estados Unidos divulgaram esse documento da CIA que confirma que a ordem de assassinar Orlando Letelier partiu de Augusto Pino Em entrevista, antes da revelação do documento da CIA, Michelle Bachelet disse que não conhecia o conteúdo, mas que estava convencida que contêm a prova de quem deu a ordem para assassinar Orlando Letelier.
“Não sabemos ainda, mas vamos poder estudá-lo e, sem dúvida, acredito que estes documentos vão demonstrar com clareza quem deu a ordem para assassinar Letelier”, afirmou a Presidente.
Ao ser questionado sobre os novos documentos divulgados, Juan Pablo Letelier, um dos quatro filhos do diplomata e senador do Partido Socialista do Chile, disse que “os documentos entregues são muito importantes e confirmam factos, nomes, e que Pinochet foi quem deu a ordem para cometer este acto de terrorismo de Estado”.
“Queremos agradecer este gesto do Governo de Barack Obama e esperamos que sirva para conseguir justiça”, acrescentou Juan Pablo Letelier, em declarações aos jornalistas antes do início da cerimónia de comemoração na Sheridan Circle, nos Estados Unidos da América, onde aconteceu o atentado.
O senador espera que a revelação do documento da CIA sirva para que o agente norte-americano Michael Townley, o autor material do atentado, seja extraditado para o Chile, assim como o oficial do Exército chileno Armando Fernández Larios, encarregado da logística.
Os dois foram enquadrados no programa de protecção a testemunhas dos Estados Unidos, por terem colaborado com a Justiça.
O embaixador do Chile nos Estados Unidos, Juan Gabriel Valdés, garantiu que o Tribunal Supremo do Chile vai pedir a extradição de Fernández Larios, com o argumento de que ele está envolvido em outros dois casos judiciais.