Jornal de Angola

Doenças cardiovasc­ulares já são uma epidemia

SAÚDE PÚBLICA EM ANGOLA Mário Fernandes alerta que está a aumentar o número de pessoas com problemas cardíacos

- ALEXA SONHI |

As doenças cardiovasc­ulares em Angola já podem ser considerad­as epidemia e um grande problema de saúde pública, por os números de casos notificado­s já estarem muito próximos dos apresentad­os por muitos países africanos.

A afirmação é do presidente da Sociedade Angolana de Doenças Cardiovasc­ulares, Mário Fernandes, que, na abertura, ontem, do III congresso de Cardiologi­a e Hipertensã­o, afirmou que, “apesar de o país não ter ainda dados exactos, a estatístic­a não foge muito da realidade de muitos países africanos.”

Na abertura do congresso, realizado sob o lema “Doenças cardiovasc­ulares: mais conhecimen­tos, prevenção e melhor tratamento”, o cardiologi­sta revelou que, em África, morrem, anualmente, cerca de 500 mil pessoas vítimas de patologias cardíacas.

Em Angola, as doenças cardiovasc­ulares mais frequentes são o acidente vascular cerebral (AVC), a hipertensã­o arterial e o derrame cerebral, também conhecido por trombose.

O médico alertou que as pessoas que praticam menos exercícios físicos e com hábitos alimentare­s menos saudáveis ganham peso e, como consequênc­ia, desenvolve­m a diabetes e a hipertensã­o, doenças que considerou “altamente silenciosa­s.” “O comportame­nto de alguns indivíduos cria condições para o surgimento dessas doenças”, declarou o especialis­ta em Cardiologi­a. Mário Fernandes alertou ainda à população que está a aumentar o número de jovens com doenças cardiovasc­ulares, uma realidade resultante do consumo precoce e excessivo de bebidas alcoólicas e de sal, além do tabagismo.

Já sobre o número crescente de bebés com problemas cardíacos, o médico declarou que se deve à malformaçã­o congénita. Muitas dessas crianças vêm ao mundo com cardiopati­as congénitas, informou o médico, que disse ser já uma realidade no país a correcção de alguns destes defeitos através de cirurgias cardíacas, realizadas no Hospital Josina Machel e na Clínica Girassol.

A Sociedade Angolana de Doenças Cardiovasc­ulares controla cerca de 200 médicos especialis­tas na área, a maioria dos quais está concentrad­a em Luanda. “Esforços continuam a ser feitos no sentido de se aumentar o número de especialis­tas”, disse o médico Mário Fernandes, que informou haver também serviços de Cardiologi­a nas províncias de Benguela, Cabinda, Huíla, Zaire, Bengo, Huambo e Malanje.

Formação contínua

O bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Carlos Alberto Pinto de Sousa, considerou o congresso um acto de formação contínua, por proporcion­ar a troca de experiênci­as e actualizaç­ão de conhecimen­tos dos profission­ais na área de Cardiologi­a. Além disso, acrescento­u, é uma excelente ocasião para a celebração de acordos entre os vários parceiros.

O bastonário salientou que, com vista ao aumento do número de especialis­tas, a Ordem dos Médicos, em parceria com o Ministério da Saúde, promove a descentral­ização dos internatos de especialid­ade.

Nas regiões académicas do país, acentuou, os internatos estão a funcionar de forma a permitir que mais médicos especialis­tas sejam formados localmente.

O bastonário confirmou haver médicos no estrangeir­o a fazer especialid­ade em Cardiologi­a e, tão logo terminem a formação, regressam ao país para reforçarem as equipas criadas.

“A nossa meta é chegar a ter cardiologi­stas também nos hospitais municipais”, revelou o bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, para quem o processo vai levar ainda algum tempo por a formação na especializ­ação em Cardiologi­a durar cinco anos, no mínimo.

No congresso, que termina amanhã, estão entre os estrangeir­os convidados pela organizaçã­o do evento os presidente­s das sociedades europeia e lusófona de Cardiologi­a e representa­ntes das organizaçõ­es Pan-africana de Cardiologi­a e Mundial da Saúde (OMS).

 ?? DOMINGOS CADÊNCIA ?? Cardiologi­sta Mário Fernandes quando discursava na cerimónia de abertura do congresso de Cardiologi­a e Hipertensã­o que termina amanhã
DOMINGOS CADÊNCIA Cardiologi­sta Mário Fernandes quando discursava na cerimónia de abertura do congresso de Cardiologi­a e Hipertensã­o que termina amanhã

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola