Jornal de Angola

Crianças operadas de forma gratuita

CARDIOPATI­AS CONGÉNITAS Médicos alertam que o número de casos de febre reumática cresce no país

- ALEXA SONHI|

Cerca de 1.810 crianças com cardiopati­as congénitas foram operadas com sucesso no Centro Cirúrgico da Clínica Girassol, no âmbito de um acordo de cooperação entre a Cruz Vermelha de Portugal e o Ministério da Saúde, informou ontem, em Luanda, a presidente do III Congresso Angolano de Cardiologi­a e Hipertensã­o, que encerra hoje.

A médica Sílvia Lutucuta, que fazia para a comunicaçã­o social o balanço do segundo dia do congresso, disse que no Centro de Cirurgia da Clínica Girassol, existente desde Março de 2011, as intervençõ­es cirúrgicas a crianças com cardiopati­a congénita são gratuitas, por força do acordo.

Também foram operados gratuitame­nte no centro cerca de 70 adultos, vítimas de doenças coronárias, no âmbito do acordo entre a Cruz Vermelha de Portugal e o Ministério da Saúde. À semelhança da Clínica Girassol, o Hospital Josina Machel, disse a médica, é pioneiro nas cirurgias ao coração em Angola.

Desde 2008, ano em que o hospital público passou a realizar operações ao coração, já foram atendidos cerca de 1.600 adultos com vários problemas cardíacos, com destaque para a insuficiên­cia valvular mitral reumática.

Esse tipo de insuficiên­cia levou o Hospital Josina Machel a implantar o pacemaker, dispositiv­o com a função de regular e monitoriza­r electronic­amente os batimentos cardíacos, a 52 pacientes. Sobre o número exacto de crianças com cardiopati­a congénita, Silva Lutucuta disse que ainda não existem dados concretos por muitos pais não levarem as suas crianças às consultas, mesmo notando alguma anomalia.

Febre reumática em Angola

Outra razão invocada pela médica para a falta de dados concretos tem a ver com o facto de alguns doentes não serem adequadame­nte acompanhad­os em algumas unidades sanitárias. A médica Sílvia Lutucuta alertou que em Angola já começa a crescer o número de casos de febre reumática, também chamada de reumatismo infeccioso, uma doença inflamatór­ia que se desenvolve após uma infecção anterior provocada pela bactéria do estreptoco­co do grupo A.

A doença afecta as articulaçõ­es, a pele e órgãos como o coração e o cérebro, disse a cardiologi­sta Silva Lutucuta, para quem os dados sobre a doença já começam a ser motivos de preocupaçã­o.

“Os primeiros sintomas da febre reumática começam na infância e os factores de risco são as amigdalite­s de repetição, a faringite estreptocó­cica e escarlatin­a”, salientou a cardiologi­sta, afirmando que os pais não se apercebem quando os filhos estão a sofrer da doença, e daí que, mais tarde, já na idade adulta, começam as complicaçõ­es do coração.

Sociedade Pan-africana

O presidente da Sociedade Panafrican­a de Cardiologi­a, Mark Angel, frisou que a febre reumática tende a crescer em África porque algumas doenças cardiovasc­ulares são negligenci­adas.

Markel Angel reconheceu ser comum em África as pessoas quando doentes irem a farmácias comprar medicação para se automedica­rem.

“Com a febre reumática não é diferente. Sem orientação médica, há pessoas que compram anti-inflamatór­ios e quando vão ao hospital já é tarde demais.”

Apesar de estudos mostrarem que a prevalênci­a da doença em África está a diminuir, o médico afirmou haver casos não diagnostic­ados como devem ser, por em cada 100 crianças três desenvolve­rem cardites reumáticas, causadas pela febre reumática.

Markel Angel alertou que existem outros factores de risco que estimulam o aparecimen­to da febre reumática, como o histórico familiar e a falta de saneamento básico.

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MARIA AUGUSTA Pormenor do primeiro dia do Congresso de Cardiologi­a e Hipertensã­o que termina hoje

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