MPLA quer mais qualidade nas instituições universitárias
DEBATE SOBRE O ENSINO SUPERIOR JUNTA ACADÉMICOS
O vice-presidente do MPLA defendeu ontem a urgência de se formarem quadros bem qualificados em todas as áreas do saber, principalmente nos cursos de Engenharia, para a industrialização do país. João Lourenço, que discursava na abertura da reunião com a comunidade da Segunda Região Académica, que compreende Luanda e Bengo, lembrou que o país continua a exportar as suas riquezas em estado bruto, para depois importar os produtos transformados a preços exorbitantes. João Lourenço sublinhou que esse processo contribui para dar emprego aos operários de outros países em detrimento dos angolanos. O vice-presidente do partido maioritário pediu uma atenção especial à qualidade do Ensino Superior, numa altura em que existem no país 24 instituições de ensino superior públicas e 40 privadas, surgidas num espaço de 14 anos. “Precisamos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidade da formação massiva de quadros de que o país precisa, com o rigor na qualidade desses mesmos quadros superiores”, disse. João Lourenço apelou aos militantes do MPLA ligados ao Ensino Superior em Luanda e Bengo a estimularem o espírito de competição e premiar o mérito.
O vice-presidente do MPLA defendeu ontem, em Luanda, a urgência de quadros bem qualificados em todas as áreas do saber, principalmente nas engenharias, para industrializar o país.
João Lourenço, que discursou na abertura da reunião com a comunidade académica de Luanda e Bengo, lembrou que o país continua a exportar as suas riquezas em estado bruto para o exterior, para depois comprar de volta os produtos transformados a preços exorbitantes. Além disso, sublinhou, a atitude contribui para dar emprego aos operários de outros países em detrimento dos angolanos.
Diante de milhares de académicos, João Lourenço pediu atenção à qualidade do ensino superior, numa altura em que existem 24 instituições de ensino superior públicas e 40 privadas, surgidas num espaço de 14 anos. Até 2002, Angola tinha apenas uma única universidade pública, a Universidade Agostinho Neto, e duas privadas que, no total, formaram no mesmo período 62.407 quadros.
“Precisamos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidade da formação massiva de quadros que o país precisa e o rigor na qualidade desses mesmos quadros superiores”, disse João Lourenço, para acrescentar: “Devemos encorajar e promover a cultura de premiar o mérito no ensino, o mérito no trabalho e em tudo o que fazemos”.
O vice-presidente do MPLA disse que o crescimento que o país vive na construção de estradas, caminhos-de-ferro, barragens hidroeléctricas, fábricas, portos e aeroportos, hospitais e fazendas agrícolas, deve ser acompanhado de formação de quadros que possam garantir a continuidade e manutenção dos projectos. “Apesar da maior necessidade que o país tem na formação de quadros é necessário assegurar a sua qualidade a todos os níveis de ensino”, disse.
João Lourenço recordou que o MPLA sempre estabeleceu como prioridade a educação e o ensino nos seus programas de governação, através de atribuição de bolsas de estudo para países como Cuba, Rússia, Portugal, França, Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Nigéria e Marrocos. “Foram milhares os quadros angolanos superiores angolanos formados em diferentes áreas do saber nesses países e que hoje contribuem para o desenvolvimento do nosso país”, disse.
Parceria para qualidade
O presidente da associação das universidades privadas de Angola, José Semedo, defende uma parceria estratégica entre o Executivo, instituições de ensino, empresas públicas e privadas, instituições financeiras, fundações, bancos e as famílias, para a elevação e a concretização da qualidade de ensino no país.
José Semedo lembrou que nenhuma instituição angolana consta da lista das 100 melhores universidades de África, ao passo que Moçambique e Cabo Verde, que têm a mesma idade política, aparecem entre as melhores do continente.
“A implementação de um quadro jurídico-legal e uma lei do mecenato para o ensino superior pode, a médio e longo prazo, modernizar e elevar a competência, a qualidade e excelência dos nossos quadros”, disse José Semedo, em representação das 40 instituições privadas do país. José Macedo reconheceu que a qualidade de ensino feito nas instituições nacionais é contestada na sociedade e uma grande parte dos licenciados formados não possui conhecimento científico, técnico e tecnológico que permite a sua inserção no mercado internacional.
Ingresso deficiente
A reitora da Universidade Agostinho Neto lamentou o facto de a admissão de alunos com notas inferiores a dez valores estar a aumentar de ano para ano. Maria Sambo revelou que, no ano passado, o número de admitidos com notas inferiores a dez valores representou 53 por cento. Este ano, a percentagem subiu para 58 por cento.
“A admissão de estudantes previsivelmente mal preparados, valorizando-se a classificação obtida no exame de acesso, como único critério de selecção, constitui uma garantia de deficiente prestação, salvo raras excepções”, disse. A reitora disse que o processo de aprendizagem dos estudantes que ingressam com notas negativas torna-se difícil, ainda porque muitos dos jovens têm condições económicas deficitárias e há falta de apoio social nas instituições de ensino superior.
Maria Sambo destacou ainda outro aspecto: “Não há boa transição entre o ensino secundário e o ensino superior, não há agências que financiam a investigação científica, nem mecanismos de avaliação da qualidade do ensino superior”.
Por outro lado, disse a reitora, a docência é pouco atractiva, porque o estatuto remuneratório não condiz com o grau de exigência e qualificação e com a importância social do docente universitário. Maria Sambo falou ainda de outra dificuldade que a Universidade Agostinho Neto enfrenta. “A prática da investigação científica é ainda muito débil, há insuficiência de estrutura de apoio e de recursos humanos para a investigação científica e não há editais, nem financiamento público sistemático para candidaturas do projectos de investigação”, disse. A Universidade Agostinho Neto também tem carência de pessoal administrativo qualificado e técnicos diferenciados para a investigação. Além disso, existem docentes com dupla efectividade. “Tem sido impossível admitir novos docentes e a promoção de docentes está congelada. Estas dificuldades abrangem a carreira docente e de investigação, tornando-as pouco atractivas”, disse, acrescentando que desde 2014 não se realiza concurso público no ensino superior.
Política de conhecimento
O secretário do MPLA para política Económica e Social, Manuel Nunes Júnior, afirmou que Angola vencer o atraso científico e tecnológico é uma condição crucial para o progresso económico e social e que uma das principais implicações da globalização é a facilidade com que a tecnologia e as ideias fluam entre países.
Ao apresentar as principais orientações da Moção de Estratégia do presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, para a formação de quadros, Manuel Nunes Júnior afirmou que a política do seu partido sobre o ensino superior assenta no conhecimento e na criação de novas ideias. A chave do crescimento e prosperidade das nações, disse o político e professor universitário, são as ideias e o conhecimento e não são os objectos. Os objectos, referiu, desgastam-se com o tempo e perdem o valor.
O economista disse que a capacidade humana de produzir novas ideias e novos conhecimentos é infinita. “Muitos países não conseguiram tirar vantagem da revolução industrial e não prosperaram. Torna-se agora imprescindível tirar os benefícios da sociedade do conhecimento que caracteriza o presente processo de globalização”, disse.
Manuel Nunes Júnior lembrou que a diferença entre países ricos e pobres e em termos do desenvolvimento são fenómenos recentes. Os países que conseguiram tirar vantagens da revolução prosperaram e os outros ficaram para trás em termos de crescimento económico e de prosperidade. “Estamos a viver uma nova revolução em que a sociedade industrial está a dar lugar à sociedade do conhecimento e Angola não pode ficar fora dessa sociedade do conhecimento. Deve dela tirar todas as vantagens”, disse.