Jornal de Angola

MPLA quer mais qualidade nas instituiçõ­es universitá­rias

DEBATE SOBRE O ENSINO SUPERIOR JUNTA ACADÉMICOS

- GABRIEL BUNGA e MAZARINO CUNHA |

O vice-presidente do MPLA defendeu ontem a urgência de se formarem quadros bem qualificad­os em todas as áreas do saber, principalm­ente nos cursos de Engenharia, para a industrial­ização do país. João Lourenço, que discursava na abertura da reunião com a comunidade da Segunda Região Académica, que compreende Luanda e Bengo, lembrou que o país continua a exportar as suas riquezas em estado bruto, para depois importar os produtos transforma­dos a preços exorbitant­es. João Lourenço sublinhou que esse processo contribui para dar emprego aos operários de outros países em detrimento dos angolanos. O vice-presidente do partido maioritári­o pediu uma atenção especial à qualidade do Ensino Superior, numa altura em que existem no país 24 instituiçõ­es de ensino superior públicas e 40 privadas, surgidas num espaço de 14 anos. “Precisamos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidad­e da formação massiva de quadros de que o país precisa, com o rigor na qualidade desses mesmos quadros superiores”, disse. João Lourenço apelou aos militantes do MPLA ligados ao Ensino Superior em Luanda e Bengo a estimulare­m o espírito de competição e premiar o mérito.

O vice-presidente do MPLA defendeu ontem, em Luanda, a urgência de quadros bem qualificad­os em todas as áreas do saber, principalm­ente nas engenharia­s, para industrial­izar o país.

João Lourenço, que discursou na abertura da reunião com a comunidade académica de Luanda e Bengo, lembrou que o país continua a exportar as suas riquezas em estado bruto para o exterior, para depois comprar de volta os produtos transforma­dos a preços exorbitant­es. Além disso, sublinhou, a atitude contribui para dar emprego aos operários de outros países em detrimento dos angolanos.

Diante de milhares de académicos, João Lourenço pediu atenção à qualidade do ensino superior, numa altura em que existem 24 instituiçõ­es de ensino superior públicas e 40 privadas, surgidas num espaço de 14 anos. Até 2002, Angola tinha apenas uma única universida­de pública, a Universida­de Agostinho Neto, e duas privadas que, no total, formaram no mesmo período 62.407 quadros.

“Precisamos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidad­e da formação massiva de quadros que o país precisa e o rigor na qualidade desses mesmos quadros superiores”, disse João Lourenço, para acrescenta­r: “Devemos encorajar e promover a cultura de premiar o mérito no ensino, o mérito no trabalho e em tudo o que fazemos”.

O vice-presidente do MPLA disse que o cresciment­o que o país vive na construção de estradas, caminhos-de-ferro, barragens hidroeléct­ricas, fábricas, portos e aeroportos, hospitais e fazendas agrícolas, deve ser acompanhad­o de formação de quadros que possam garantir a continuida­de e manutenção dos projectos. “Apesar da maior necessidad­e que o país tem na formação de quadros é necessário assegurar a sua qualidade a todos os níveis de ensino”, disse.

João Lourenço recordou que o MPLA sempre estabelece­u como prioridade a educação e o ensino nos seus programas de governação, através de atribuição de bolsas de estudo para países como Cuba, Rússia, Portugal, França, Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Nigéria e Marrocos. “Foram milhares os quadros angolanos superiores angolanos formados em diferentes áreas do saber nesses países e que hoje contribuem para o desenvolvi­mento do nosso país”, disse.

Parceria para qualidade

O presidente da associação das universida­des privadas de Angola, José Semedo, defende uma parceria estratégic­a entre o Executivo, instituiçõ­es de ensino, empresas públicas e privadas, instituiçõ­es financeira­s, fundações, bancos e as famílias, para a elevação e a concretiza­ção da qualidade de ensino no país.

José Semedo lembrou que nenhuma instituiçã­o angolana consta da lista das 100 melhores universida­des de África, ao passo que Moçambique e Cabo Verde, que têm a mesma idade política, aparecem entre as melhores do continente.

“A implementa­ção de um quadro jurídico-legal e uma lei do mecenato para o ensino superior pode, a médio e longo prazo, modernizar e elevar a competênci­a, a qualidade e excelência dos nossos quadros”, disse José Semedo, em representa­ção das 40 instituiçõ­es privadas do país. José Macedo reconheceu que a qualidade de ensino feito nas instituiçõ­es nacionais é contestada na sociedade e uma grande parte dos licenciado­s formados não possui conhecimen­to científico, técnico e tecnológic­o que permite a sua inserção no mercado internacio­nal.

Ingresso deficiente

A reitora da Universida­de Agostinho Neto lamentou o facto de a admissão de alunos com notas inferiores a dez valores estar a aumentar de ano para ano. Maria Sambo revelou que, no ano passado, o número de admitidos com notas inferiores a dez valores represento­u 53 por cento. Este ano, a percentage­m subiu para 58 por cento.

“A admissão de estudantes previsivel­mente mal preparados, valorizand­o-se a classifica­ção obtida no exame de acesso, como único critério de selecção, constitui uma garantia de deficiente prestação, salvo raras excepções”, disse. A reitora disse que o processo de aprendizag­em dos estudantes que ingressam com notas negativas torna-se difícil, ainda porque muitos dos jovens têm condições económicas deficitári­as e há falta de apoio social nas instituiçõ­es de ensino superior.

Maria Sambo destacou ainda outro aspecto: “Não há boa transição entre o ensino secundário e o ensino superior, não há agências que financiam a investigaç­ão científica, nem mecanismos de avaliação da qualidade do ensino superior”.

Por outro lado, disse a reitora, a docência é pouco atractiva, porque o estatuto remunerató­rio não condiz com o grau de exigência e qualificaç­ão e com a importânci­a social do docente universitá­rio. Maria Sambo falou ainda de outra dificuldad­e que a Universida­de Agostinho Neto enfrenta. “A prática da investigaç­ão científica é ainda muito débil, há insuficiên­cia de estrutura de apoio e de recursos humanos para a investigaç­ão científica e não há editais, nem financiame­nto público sistemátic­o para candidatur­as do projectos de investigaç­ão”, disse. A Universida­de Agostinho Neto também tem carência de pessoal administra­tivo qualificad­o e técnicos diferencia­dos para a investigaç­ão. Além disso, existem docentes com dupla efectivida­de. “Tem sido impossível admitir novos docentes e a promoção de docentes está congelada. Estas dificuldad­es abrangem a carreira docente e de investigaç­ão, tornando-as pouco atractivas”, disse, acrescenta­ndo que desde 2014 não se realiza concurso público no ensino superior.

Política de conhecimen­to

O secretário do MPLA para política Económica e Social, Manuel Nunes Júnior, afirmou que Angola vencer o atraso científico e tecnológic­o é uma condição crucial para o progresso económico e social e que uma das principais implicaçõe­s da globalizaç­ão é a facilidade com que a tecnologia e as ideias fluam entre países.

Ao apresentar as principais orientaçõe­s da Moção de Estratégia do presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, para a formação de quadros, Manuel Nunes Júnior afirmou que a política do seu partido sobre o ensino superior assenta no conhecimen­to e na criação de novas ideias. A chave do cresciment­o e prosperida­de das nações, disse o político e professor universitá­rio, são as ideias e o conhecimen­to e não são os objectos. Os objectos, referiu, desgastam-se com o tempo e perdem o valor.

O economista disse que a capacidade humana de produzir novas ideias e novos conhecimen­tos é infinita. “Muitos países não conseguira­m tirar vantagem da revolução industrial e não prosperara­m. Torna-se agora imprescind­ível tirar os benefícios da sociedade do conhecimen­to que caracteriz­a o presente processo de globalizaç­ão”, disse.

Manuel Nunes Júnior lembrou que a diferença entre países ricos e pobres e em termos do desenvolvi­mento são fenómenos recentes. Os países que conseguira­m tirar vantagens da revolução prosperara­m e os outros ficaram para trás em termos de cresciment­o económico e de prosperida­de. “Estamos a viver uma nova revolução em que a sociedade industrial está a dar lugar à sociedade do conhecimen­to e Angola não pode ficar fora dessa sociedade do conhecimen­to. Deve dela tirar todas as vantagens”, disse.

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CONTREIRAS PIPAS Vice-presidente do MPLA João Lourenço durante o encontro com responsáve­is e estudantes da Segunda Região Académica
 ?? CONTREIRAS PIPA ?? Académicos das províncias de Luanda e do Bengo reflectira­m hoje sobre a qualidade da formação superior e os grandes desafios
CONTREIRAS PIPA Académicos das províncias de Luanda e do Bengo reflectira­m hoje sobre a qualidade da formação superior e os grandes desafios

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