Khoisan à espera de meios agrícolas
Comunidade nómada quer deixar de depender da caça e de frutos silvestres
Os membros da comunidade khoisan das localidades de Mucundi, Ntopa e Mbundo, no município de Menongue, solicitaram ao Governo Provincial do Cuando Cubango apoio em meios agrícolas, para produzirem alimentos que garantam o seu auto-sustento. O apelo foi manifestado no final da recepção de um donativo constituído por bens alimentares e vestuário, que beneficiou 134 membros da comunidade.
Os membros da comunidade khoisan das localidades do Mucundi, Ntopa e Mbundo, no município de Menongue, solicitaram ao Governo Provincial do Cuando Cubango apoio em meios agrícolas, para produzirem alimentos que garantam o auto-sustento.
O apelo foi manifestado no final da recepção de um donativo constituído por bens alimentares e vestuário, que beneficiou 134 habitantes, num gesto promovido pelo programa “Casos da Vida”, exibido pela Televisão Pública de Angola (TPA) e pela Direcção Provincial da Assistência e Reinserção Social.
O soba do Mucundi, Tomás Candele, disse que o apoio de imputes agrícolas vai permitir que os membros da comunidade deixem de ser dependentes de doações e de deslocar-se permanentemente para as matas em busca de frutos silvestres, como o maboque.
A autoridade tradicional salientou que, nesta luta pela sobrevivência, os membros da comunidade são muito atacados por animais ferozes.
Tomás Candele afirmou que, neste momento, as comunidades khoisan a nível da província do Cuando Cubango enfrentam uma carência gritante de alimentos, em consequência da estiagem que se faz sentir na região há mais de quatro anos.
Para inverter o quadro, o soba apelou ao Governo a atribuição de charruas de tracção animal, gado bovino, enxadas, catanas, sementes e fertilizantes, o que facilitaria o cultivo nas zonas baixas dos rios. “Com isso, pode-se ter sempre comida para o seu sustento e de suas famílias, assim como para a comercialização”, vaticina.
Regresso às matas
O soba do Ntopa, Fernando Cambinda, salientou que os membros da comunidade khoisan ficaram, nos últimos anos, sem apoio de bens alimentares por vários meses.
Por esta razão, referiu que cerca de 50 pessoas, das 80 que estavam reassentadas naquela localidade, preferiram voltar às matas por causa da fome.
Fernando Cambinda realçou que, devido à crise que o país está a atravessar e que tem dificultado ao Governo levar regularmente apoio aos khoisan, urge a necessidade de colocar-se à sua disposição instrumentos agrícolas para a produção de diversas culturas, que podem servir de meios de troca com outros produtos como sal, óleo alimentar e roupa.
Já o soba do Mbundo, Feliciano Cambinda, pediu ao Governo para a disposição na comunidade de, pelo menos, um enfermeiro e de medicamentos, para melhorar a assistência a nível do posto médico da sua área de jurisdição.
Óbitos na comunidade
Feliciano Cambinda avançou que, desde o início do ano, já foram registados 15 mortes de membros da comunidade khoisan, por falta de assistência médica e medicamentosa. O soba sublinhou que actualmente os doentes da comunidade são obrigados a percorrer mais de 90 quilómetros até à cidade de Menongue, para receberem assistência sanitária.
“Esta situação tem criado muitas dificuldades aos camussequeles, dada a falta de meios de transporte ou de recursos financeiros para pagarem a viagem num táxi”, lamenta. Por esta razão, solicitou a intervenção urgente do Governo, para se resolver os referidos problemas e evitar-se mais mortes ou o abandono definitivo da área do Mbundo.
“Segundo a tradição dos khoisan, quando se registam muitos óbitos numa determinada localidade, eles abandonam a zona e nunca mais voltam a passar por lá.”
A falta de professores, para a inserção dos membros da comunidade khoisan no processo normal de ensino e aprendizagem, é outra preocupação, daí o soba Feliciano Cambinda apelar igualmente para a inversão do quadro, no sentido de facilitar-se a sua rápida reintegração na sociedade.