Jornal de Angola

Arábia Saudita ameaça retaliar

CONGRESSO DOS EUA AUTORIZA PROCESSOS CONTRA A ARÁBIA SAUDITA Presidente Barack Obama alerta para a fragilidad­e na protecção de diplomatas

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AArábia Saudita anunciou ontem um possível distanciam­ento dos Estados Unidos na cooperação internacio­nal, como primeira medida contra o veto do Congresso à decisão do Presidente Obama de rejeitar a lei para responsabi­lizar o Governo de Riade por alegadas ligações aos atentados de 11 de Setembro de 2001. Riade chegou mesmo a considerar o veto uma punhalada pelas costas.

A Arábia Saudita anunciou ontem um possível distanciam­ento dos Estados Unidos na cooperação internacio­nal, como primeira medida contra o veto do Congresso (Parlamento) à decisão do Presidente Barack Obama de rejeitar a lei para responsabi­lizar o Governo de Riade por alegadas ligações aos atentados de 11 de Setembro de 2001.

Riade chegou mesmo a considerar o veto uma punhalada pelas costas. “A votação hostil do Congresso norte-americano sobre os atentados do 11 de Setembro significa a redução da nossa cooperação em matéria de segurança e na troca recíproca de bens industriai­s”, sublinha um comunicado do Governo saudita.

O Congresso norte-americano eliminou, na quarta-feira, o veto do Presidente Barack Obama a uma lei que permite que as vítimas dos ataques de 11 de Setembro de 2001 processem autoridade­s sauditas.

Com 97 por cento de votos a favor e um contra, o Senado (Câmara Alta) pronunciou-se pela eliminação do veto. Pouco depois, seguindo os passos da Câmara Alta, os representa­ntes também eliminaram o veto presidenci­al por 348 votos contra 77.

Foi a primeira vez que isso ocorreu com o Barack Obama, nos seus oito anos à frente da Casa Branca. “Temo que esta lei tenha consequênc­ias estratégic­as catastrófi­cas nas relações históricas entre Washington e Riade”, advertiu Salman al Ansari, presidente de um comité privado para a promoção das relações entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos (SAPRAC).

A relação Washington-Riade, iniciada há mais de 70 anos, baseia-se em particular no intercâmbi­o da segurança norte-americana por petróleo saudita. “A Arábia Saudita foi traída com esta lei irracional e irrealista”, assinalou Salman al Ansari à agência AFP. “Como se pode perseguir um país que colabora na luta contra o terrorismo, do qual é acusado sem fundamento?”, questionou. A excepciona­l demonstraç­ão de unidade bipartidár­ia do Congresso norte-americano implica um duro golpe para Barack Obama, que lançou uma campanha contra a proposta, conhecida como Lei de Justiça contra os Patrocinad­ores do Terrorismo.

Adoptada em fim de mandato na Casa Branca, a medida mostra um Presidente enfraqueci­do. Ao longo de sua Presidênci­a, Barack Obama emitiu 12 vetos. Nenhum deles havia sido questionad­o até agora, facto curioso, consideran­do-se a maioria republican­a de longa data no Congresso dos EUA. A Casa Branca argumenta que a iniciativa mina o princípio de imunidade soberana e abre caminho para que os Estados Unidos sejam alvo de processos.

Barack Obama advertiu os congressis­tas sobre as consequênc­ias devastador­as dessa decisão para o Pentágono (Ministério da Defesa), funcionári­os do Governo, diplomatas e serviços de Inteligênc­ia.

De acordo com o Presidente, a legislação “não protegeria os americanos de ataques terrorista­s, nem melhoraria a eficácia de nossas respostas a esses ataques”. As autoridade­s da Arábia Saudita não esclarecer­am se pensam ripostar da mesma maneira, mas deixaram em aberto consequênc­ias políticas graves nas relações históricas com Washington, o que pode prejudicar a estratégia no combate ao terrorismo e a visão na arena internacio­nal. Documentos confidenci­ais tornados públicos mostram que, durante as investigaç­ões, os serviços de Inteligênc­ia norte-americanos suspeitara­m de uma eventual relação entre os terrorista­s dos atentados de 11 de Setembro e as autoridade­s sauditas.

As relações Washington-Riade já haviam esfriado em 2014-2015 quando Obama iniciou uma abertura diplomátic­a com Teerão, que foi concretizd­a com o acordo nuclear, para viabilizar a exploração de urânio pelo Irão. As monarquias do Golfo Pérsico não reagiram ainda oficialmen­te à medida dos EUA, excepto o Bahrein, muito ligado a Riade, que considerou que o Congresso dos Estados Unidos “lançou uma flecha contra o seu próprio país”.

 ?? AFP ?? Veto do Congresso norte-americano à decisão de Barack Obama abre precedente grave nas relações estratégic­as com a Arábia Saudita
AFP Veto do Congresso norte-americano à decisão de Barack Obama abre precedente grave nas relações estratégic­as com a Arábia Saudita

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