Nigéria preparada para o século XXI
A Nigéria comemorou ontem o seu 56º aniversário, numa altura em que a Administração Buhari pretende promover reformas para modernizar o país, consolidar a sua caminhada democrática, erradicar o fundamentalismo religioso, reduzir as assimetrias e todas as tendências secessionistas. Depois de vários prognósticos que apontavam para a desagregação do país, que há dois anos completou cem como território uno e indivisível, os nigerianos parecem mais decididos a manter a coesão, unidade e o sentimento de pátria. Dois grandes desafios afligem a presidência do general na reserva que há mais de um ano governa a Nigéria, Muhammadu Buhari, como um democrata que se distancia do modelo de gestão dos seus predecessores pela transparência, compromisso com a luta anti-corrupção e sentido de Estado. É verdade que mais de ano depois no poder, os nigerianos estão ainda longe de verem grandes transformações, mas o actual Presidente parece mais decidido a concentrar as suas forças nas verdadeiras causas do estado do país. Promover transparência, instar os nigerianos a optar por novos paradigmas na procura do seu ganha-pão, garantir a segurança e dar uma nova imagem ao país. Com estes esforços e metas alcançadas os efeitos não tardam a aparecer na medida em que, como acredita o Chefe de Estado nigeriano, urge resgatar a credibilidade da Nigéria.
No discurso de aniversário da independência do país, Muhammadu Buhari disse, na primeira pessoa, o que pensa sobre as dificuldades que os compatriotas enfrentam, dizendo que “eu sei como as coisas estão complicadas, como está difícil enfrentar o dia a dia. Em toda a minha vida adulta eu sempre ganhei um salário e eu sei o que é quando o salário simplesmente não é suficiente. Sei que o povo está a fazer sacrifícios incríveis, mas deixe-me dizer a todos os nigerianos hoje que eu me candidatei ao cargo de Presidente por quatro vezes para ganhar e comprovar que se pode governar esta nação com honestidade e transparência, que se pode parar o roubo dos recursos da Nigéria”.
Buhari, que reconheceu a caminhada que ainda tem pela frente para fazer sorrir os seus compatriotas, lembrou que “a única maneira de garantir prosperidade e abundância para todos é por via da boa governação, realidade com a qual estou completamente comprometido”.
Numa altura em que o país pode celebrar ganhos significativos na imobilização do grupo Boko Haram, que vive problemas sérios de reorganização e sofreu imensas perdas, o Presidente Buhari enalteceu o papel patriótico desempenhado pelos militares. De facto, o Boko Haram está a braços com sucessivas investidas das forças armadas nigerianas e, segundo a imprensa nigeriana, vive problemas de liderança envolvendo o líder, Abubakar Shekau, e alegadamente um dos filhos do defunto líder fundador, Mohammed Youssuf.
Há dias, o chefe da milícia islâmica que tinha sido dado inicialmente como ferido e morto, reapareceu num vídeo naquilo que muitos interpretam como um gesto de desespero para ocultar lutas internas pela liderança do grupo. Se este momento for bem aproveitado pelas forças de defesa e segurança da Nigéria para o golpe de misericórdia ou, estrategicamente, abrir espaço para dialogar com facções residuais do grupo, sobretudo as que se não revêem na liderança de Abubakar Shekau, melhor para terminar a insurreição religiosa. Mas com o grupo em retirada, melhorou muito a circulação e a vida quotidiana nas regiões afectadas pelas acções do grupo, como adiantou o Presidente.
Embora o Presidente Muhammadu Buhari tenha prometido vencer a guerra contra o Boko Haram, atendendo à coincidência, muito há ainda para ser ultrapassado porque, segundo a previsão de muitos, vários grupos podem emanar de uma eventual derrota do núcleo liderado por Shekau.
Muhammadu Buhari, que dedicou boa parte da sua intervenção para falar sobre a corrupção, defende que os nigerianos devem lutar para atingir a auto-suficiência na produção de cereais.
Prometeu estabilizar a naira, a moeda nacional, promover iniciativas para inverter o actual ciclo de recessão em que se encontra a economia nigeriana, apostando sobretudo na pacificação da região do Delta do Níger, onde é extraído o grosso do petróleo do país, na manutenção da segurança e transparência na governação.
A solução para o Delta, segundo a visão do líder nigeriano, passa pelo o engajamento com as lideranças locais no sentido da resolução dos principais problemas enfrentados pelas comunidades e grupos armados.
No imediato, congratulou-se pelo facto do país dar passos para superar um dos problemas crónicos, o problema do fornecimento de energia, numa altura em que o país se regozija por passar dos cerca de 3300 Megawatts, em 2015, para 5074 Megawatts, a partir deste ano.
Terminou o seu discurso, dizendo que, contrariamente às previsões de que a Nigéria se encaminhava para se transformar num Estado falhado, o país prepara-se para enfrentar com sucesso o séc. XXI. Paciência e coragem foram as últimas palavras pedidas aos seus compatriotas para enfrentar a actual situação por que passa o país.