Ensino Superior exige qualidade
Foi ontem lançado o debate alargado sobre a qualidade do Ensino Superior em Angola. Sobre o que foi bem feito e o que precisa de ser melhorado, para que o país deixe, em muitos casos, de formar desempregados e dar a qualidade necessária aos cursos ministrados nas nossas instituições de ensino superior, públicas e privadas.
O encontro, promovido pelo Secretariado do Bureau Político do MPLA, reuniu reitores, directores, docentes, investigadores e trabalhadores das instituições públicas e privadas do Ensino Superior da Primeira Região Académica, que compreende as províncias de Luanda e Bengo.
Ficou evidente, durante o encontro, que o nosso Ensino Superior deu passos muito rápidos na direcção de instalar universidades e institutos politécnicos um pouco por todo o país. Em 2002, ano da paz e do início da normalização da vida em Angola, existia uma única instituição pública de ensino superior, a Universidade Agostinho Neto, e duas instituições privadas do mesmo grau de ensino. Em cerca de 14 anos de paz, esses números passaram para 24 instituições públicas de ensino superior e 40 privadas, tendo formado nesse período 62.407 quadros.
Os números apontam claramente que houve um grande investimento na formação superior. Com as debilidades próprias de um país em vias de desenvolvimento e acabado de sair de uma guerra que deixou marcas profundas no seu tecido humano, esse crescimento em quantidade nem sempre foi acompanhado da qualidade necessária para dar ao país quadros qualificados, embora haja algumas excepções à regra, sobretudo nas áreas das ciências sociais.
E no encontro de ontem, João Lourenço, o vice-presidente do MPLA, trouxe isso mesmo à discussão. Num debate racional e muito longe do discurso ideológico, João Lourenço deixou claro que depois da formação em quantidade, o país precisa de formar com urgência quadros técnicos bem qualificados para alavancar a indústria nacional e transformar localmente as matérias-primas, que hoje por hoje são exportadas em bruto, para depois serem importadas a preço de ouro, num ciclo vicioso que empobrece Angola e os angolanos.
E também ficou claro durante o encontro que a qualidade pretendida não se compadece com a admissão no Ensino Superior de 58 por cento de estudantes com notas inferiores a dez valores, como acontece agora e fez questão de sublinhar ontem a reitora da Universidade Agostinho Neto, Maria Sambo.
O país, que não consta na lista com as 100 melhores universidades de África, precisa rapidamente de reavaliar com toda a frontalidade e de forma racional o ensino que se dá na base e preparar melhor os candidatos ao Ensino Superior. Isso passa, seguramente, por promover o mérito e a competitividade em todos os escalões do ensino geral. E o professor não pode continuar a ser visto como o parente pobre do sistema de ensino. Aos melhores, um salário melhor. E aos melhores estudantes, o devido reconhecimento. Nada está perdido. Angola e os angolanos estão preparados para vencer mais este desafio.