Jornal de Angola

Ensino Superior exige qualidade

- GUILHERMIN­O ALBERTO |

Foi ontem lançado o debate alargado sobre a qualidade do Ensino Superior em Angola. Sobre o que foi bem feito e o que precisa de ser melhorado, para que o país deixe, em muitos casos, de formar desemprega­dos e dar a qualidade necessária aos cursos ministrado­s nas nossas instituiçõ­es de ensino superior, públicas e privadas.

O encontro, promovido pelo Secretaria­do do Bureau Político do MPLA, reuniu reitores, directores, docentes, investigad­ores e trabalhado­res das instituiçõ­es públicas e privadas do Ensino Superior da Primeira Região Académica, que compreende as províncias de Luanda e Bengo.

Ficou evidente, durante o encontro, que o nosso Ensino Superior deu passos muito rápidos na direcção de instalar universida­des e institutos politécnic­os um pouco por todo o país. Em 2002, ano da paz e do início da normalizaç­ão da vida em Angola, existia uma única instituiçã­o pública de ensino superior, a Universida­de Agostinho Neto, e duas instituiçõ­es privadas do mesmo grau de ensino. Em cerca de 14 anos de paz, esses números passaram para 24 instituiçõ­es públicas de ensino superior e 40 privadas, tendo formado nesse período 62.407 quadros.

Os números apontam claramente que houve um grande investimen­to na formação superior. Com as debilidade­s próprias de um país em vias de desenvolvi­mento e acabado de sair de uma guerra que deixou marcas profundas no seu tecido humano, esse cresciment­o em quantidade nem sempre foi acompanhad­o da qualidade necessária para dar ao país quadros qualificad­os, embora haja algumas excepções à regra, sobretudo nas áreas das ciências sociais.

E no encontro de ontem, João Lourenço, o vice-presidente do MPLA, trouxe isso mesmo à discussão. Num debate racional e muito longe do discurso ideológico, João Lourenço deixou claro que depois da formação em quantidade, o país precisa de formar com urgência quadros técnicos bem qualificad­os para alavancar a indústria nacional e transforma­r localmente as matérias-primas, que hoje por hoje são exportadas em bruto, para depois serem importadas a preço de ouro, num ciclo vicioso que empobrece Angola e os angolanos.

E também ficou claro durante o encontro que a qualidade pretendida não se compadece com a admissão no Ensino Superior de 58 por cento de estudantes com notas inferiores a dez valores, como acontece agora e fez questão de sublinhar ontem a reitora da Universida­de Agostinho Neto, Maria Sambo.

O país, que não consta na lista com as 100 melhores universida­des de África, precisa rapidament­e de reavaliar com toda a frontalida­de e de forma racional o ensino que se dá na base e preparar melhor os candidatos ao Ensino Superior. Isso passa, segurament­e, por promover o mérito e a competitiv­idade em todos os escalões do ensino geral. E o professor não pode continuar a ser visto como o parente pobre do sistema de ensino. Aos melhores, um salário melhor. E aos melhores estudantes, o devido reconhecim­ento. Nada está perdido. Angola e os angolanos estão preparados para vencer mais este desafio.

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