PERDA DE CONFIANÇA NA DIRECÇÃO MILITAR A importância de Pieter Botha e a l Consequências pessoais, na direcção política e militar do apartheid, provocadas p
A 23 de Março de 1988, P.W. Botha perde a confiança na direcção militar, encabeçada por Magnus Malan, ministro da Defesa, Geldenhuys, comandante das SADF e Liebenberg, comandante do Exército, por lhe terem mentido sobre a verdadeira situação das tropas sul-africanas no Triângulo do Tumpo.
Na sequência disso toma as seguintes decisões; Encarrega o Director da Segurança Nacional, Dr. Bernard, de penetrar nos meandros da derrota das SADF e prestar-lhe a real informação do teatro das operações;
– Admite a derrota das SADF e convoca o Conselho de Estado para tratar da implementação da Resolução 435/78 sobre a independência da Namíbia e libertar Nelson Mandela;
– São levados ao Tribunal Militar os comandantes implicados no desaire do Triângulo do Tumpo, tendo alguns sido expulsos das SADF e outros despromovidos;
– Botha é pessoalmente afectado pela derrota do seu exército no Triângulo do Tumpo, porque sofre um acidente cardiovascular em 1989. O seu estado de saúde deteriora-se pelo que é intimado a demitir-se pelos membros do seu governo, a 14 de Agosto de 1989;
– Botha sofreu mais do que ninguém se se tiver em conta o seguinte:
– Saiu de Pretória, visitou a Frente do Lomba, em 1987, para presenciar a derrota da 47ª Brigada das FAPLA;
– Condecorou Savimbi no seu quartel-general, na Jamba, como mais um dos comandantes das SADF, gesto de que não há memória que tenha sido feito com qualquer africano, que mantivesse qualquer tipo de relação com o apartheid;
– Empolgado, inebriou-se de tal modo que ordenou a destruição da Agrupação das FAPLA desdobrada a Leste do Rio Cuito, tendo, para tanto, mandado empregar as armas mais modernas jamais utilizadas, até então, pelas SADF em qualquer teatro operacional.
Apartheid começa a desmoronar na África do Sul a partir de 1989
Mudanças políticas, na África do Sul, foram introduzidas para o reconhecimento do ANC e de outras forças políticas contrárias ao Apartheid.
Quando o conservador presidente Pieter Botha sofreu um AVC em Janeiro de 1989, a segregação racial já estava a perder força na África do Sul havia dois anos, pela pressão dos 23 milhões de negros do país (70 por cento dos habitantes), pelos esforços diplomáticos e pelas sanções económicas e desportivas. Em 1987, havia sido abolida a Lei do Passe, pela qual o morador de áreas reservadas a negros só poderia circular em áreas de brancos mostrando uma autorização da polícia.
Depois do acidente cardiovascular, Botha retirou-se durante alguns meses, permitindo o surgimento de novas medidas favoráveis à maioria negra. Em Março entrou em vigor a lei que permitia a convivência de pessoas de raças diferentes em determinadas áreas; uma comissão de juristas criada pelo Parlamento sulafricano recomendou a extensão do direito de voto aos negros; e Frederik De Klerk, chefe do Partido Nacional (PN), o mesmo de Botha, defendeu reformas no apartheid e afirmou que “a hora para a grande indaba chegou” (indaba significa reunião em zulu). Os negros impuseram uma condição para negociar: a libertação de Nelson Mandela, líder do ilegal mas actuante Congresso Nacional Africano (CNA), condenado à prisão perpétua em 1964.
No Congresso do Partido Nacional em Junho, foi sugerido um plano quinquenal para as mudanças políticas, que prometiam “participação democrática” à população negra, deixando ao mesmo tempo intactos os fundamentos da segregação. Numa atitude surpreendente, no dia 5 de Julho, o presidente Botha foi conversar com Mandela na prisão. A oposição insinuou que se tratava de uma jogada política. Dias depois o governo divulgou um comunicado do líder negro, em que ele enfatizava que só o entendimento entre as autoridades e o ANC traria paz ao país.
De Klerk, mais liberal e pragmático que Botha, assumiu a presidência em Agosto de 1989, garantindo que as eleições legislativas de Setembro, um mês depois, seriam as últimas sem a participação dos negros. A pressão não parava: no início do mês, negros e indianos, em manifestações apoiadas por muitos brancos, conseguiram que os hospitais do país passassem a atender pacientes de qualquer raça. Líderes negros importantes foram libertados em Outubro e De Klerk acabou com a segregação nas praias em Novembro. Só em 11 de Fevereiro do ano seguinte, porém, o governo sul-africano tomaria a medida mais importante e definitiva naquele momento: a libertação de Nelson Mandela.
Entrada de De Klerk na cena política sul-africana
Somada à crise económica e à coordenação da sociedade civil, a luta armada foi muito intensificada. O ANC aumentou os ataques visto que o governo africânder reprimiu violentamente os levantamentos populares.
Nesta altura surge um interessante esquema analítico que traça o caminho para as negociações entre o Partido Nacional e o ANC. As variáveis interdependentes para o processo de transição política negociada são: o aumento da resistência armada e da mobilização civil, a deterioração do padrão de vida dos africânderes e o bloqueio internacional crescente.
As dificuldades sul-africanas agudizaram-se em 1988, quando tropas do regime africânder foram derrotadas em Angola. O acordo tripartido em Dezembro de 1988, entre Angola, Cuba e África do Sul abriu o caminho para a independência da Namíbia e para a libertação de Nelson Mandela. Em 1989, com a consolidação da independência da Namíbia e a eleição de Frederik Willem de Klerk, as condições para a reconciliação regional melhoraram consideravelmente.
Sucessor de Botha, F. W. De Klerk, ao assumir o poder em 1989, priorizou a libertação dos prisioneiros políticos e a legalização dos partidos. Em Outubro de 1989, o governo da África do Sul decidiu libertar sete proeminentes presos políticos, entre eles Walter Sisulu. F. W. De Klerk legalizou o ANC, o PAC e o SACP e suprimiu as restrições para a UDF e outros grupos internos. Em 12 de Fevereiro de 1990, Nelson Mandela foi libertado. O estado de emergência foi suspenso; a legislação base do apartheid, como o Group Areas Act e a Lei do Passe, foram abolidas; a Namíbia tornou-se independente; as negociações com o ANC e Mandela foram oficializadas.
Apesar destas significativas mudanças, o desmantelamento da máquina segregacionista foi uma estratégia de F. W. de Klerk para manter a elite branca no poder. O governo de F. W. De Klerk procurou um acordo com o ANC para atrair novamente o capital estrangeiro e permitir o crescimento económico.
Apesar dos contratempos, a África do Sul movia-se inexoravelmente para um governo de maioria. As diversas transformações entre 1989 e 1993 sobrepuseram-se a qualquer plano de perpetuação da minoria branca no poder.
Nelson Mandela tornou-se uma das personalidades mais solicitadas em todo o mundo e a legitimidade da sua liderança foi reconhecida numa excursão por 34 países ocidentais, para combater a publicidade negativa engendrada pela violência na África do Sul. A distinção de Nelson Mandela e F. W. De Klerk com o Prémio Nobel da Paz em 1994 contribuiu para que as eleições no mesmo ano ganhassem notoriedade internacional. O pleito transcorreu de forma pacífica, contrariando os prognósticos. Mandela venceu as eleições com 62,65 por cento dos votos e iniciou um governo de unificação nacional, que ficou marcado pelo perdão e pela reconciliação e também pelas dificuldades de reversão das injustiças históricas.
O fim da Era Botha
Em Novembro de 1985, Mandela foi operado à próstata na Cidade do Cabo. O facto de se encontrar no hospital foi considerado como a altura ideal por parte do Ministro da Justiça, Prisões e Policia, Hendrik Jacobus Coetsee, para conhecer o líder histórico do ANC.Neste primeiro encontro, podemos depreender pelo relato feito por Coetsee que ele ficou claramente fascinado pela figura de Mandela:
“Eu estava fascinado com a ideia de que tipo de homem ele devia ser para ter atraído tanta atenção internacional e ter recebido todos esses títulos honorários e prémios. Quando o conheci, imediatamente entendi a razão”, disse na ocasião.
Após este encontro, outros se seguiram com um grupo de trabalho governamental a tentar convencer Mandela a aceitar uma série de princípios como pré-condições para o início das negociações. Mandela conseguiu tranquilizar a liderança doANC, mesmo no exílio, de modo a que não houvessem malentendidos e se pensasse que ele estava a negociar algum tipo de acordo com o governo. A preocupação imediata de Mandela era a de evitar que este encontro fosse visto como uma tentativa de quebrar a