Governo e FARC garantem soluções para a paz
Populares rejeitaram o acordo de Havana por ser ambíguo e distanciado da unidade nacional
O Presidente Juan Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Echeverri, manifestaram ontem a possibilidade de introduzir novos mecanismos no acordo de paz, mas nenhum deles foi frontal para reconhecer o erro de ignorar a oposição nas negociações, a principal causa do não ao acordo, no designado referendo da paz no país.
O resultado da consulta popular de domingo mostrou um país dividido e um povo ciente das suas responsabilidades, que, à sua vez, participou de forma ordeira e irrepreensível no processo de pacificação do Estado. O “não” à aplicação do acordo de Havana venceu com 50,22 por cento, e o “sim” obteve 49,78. A Comissão Nacional Eleitoral reconheceu que o nível de abstenção foi muito alto, com 62,57 por cento dos votos.
Juan Manuel Santos acredita que as diferenças que levaram a população a rejeitar o acordo de Havana vão ser ultrapassadas nos próximos dias. “Garanto que a paz com as FARC vai ser mantida e, da minha parte e de todos os meus colaboradores, prometo empenho total na continuidade das negociações em Havana”, esclareceu o Presidente colombiano, visivelmente agastado com o resultado. A equipa de negociações do Governo recebeu instruções para conseguir imediatamente soluções relevantes que levem não só a um desfecho célere, mas que garantam a aceitação do acordo de paz por todos os colombianos.
As indicações do Presidente Juan Manuel Santos estão alinhadas com o apelo do ex-Chefe de Estado Álvaro Uribe, que pediu “a todas as forças políticas e à população para manterem a cabeça fria, para continuarem a acreditar na paz e para protegerem as FARC.”
Álvaro Uribe, agora senador, fez campanha pelo “sim”, posição defendida pela sua força política, o Centro Democrático. “É preciso apresentar um grande pacto nacional, porque nos parece fundamental que em nome da paz não se criem riscos aos valores que a tornam possível”, disse Uribe.
A comunidade internacional foi apanhada de surpresa pela vitória do “não”, a julgar quer por organismos, quer por individualidades, como o Presidente francês, François Hollande, o Presidente dos EUA, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o líder da igreja católica, Papa Francisco, que admitiram uma vitória do “sim”.
As Nações Unidas estão a ser acusadas de falharem na avaliação das condições de aplicação do acordo de Havana, por ignorarem as manifestas inquietações dos partidários do “não” e limitarem-se a dar crédito ao discurso do Governo e das FARC, que negociaram o acordo de Havana. O líder da guerrilha, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido por “Timochenko”, mantém a sua vontade de paz e a sua plena disposição de trabalhar somente com a palavra paz, como arma de construção em direcção a um futuro grandioso para a Colômbia. “As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) lamentam profundamente que o poder destrutivo dos aque semeiam ódio e rancor tenha influenciado a opinião da população colombiana”, disse Timochenko, ao reagir à rejeição do acordo de paz.
“O povo colombiano que sonha com a paz pode contar connosco. A paz vai triunfar”, garantiu o líder das FARC. O acordo de paz de Havana foi assinado no dia 26 de Setembro pelo Governo e as FARC. A rejeição do acordo está a ser interpretada como uma falha grave do Governo, que ignorou a contribuição da oposição e o consequente afastamento nas negociações de Havana.
Para dar a volta à situação, o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, optou por uma consulta popular para conseguir o apoio do povo, mas não foi bem sucedido. A oposição acusou as autoridades do país de manipulação pública, o que explica a derrota do “sim”.
A vitória do “sim” era a saída, em definitivo, de um clima de guerra civil que já durou meio século entre o Governo e as FARC, e que matou, até agora, mais de 220 mil pessoas e forçou mais de 5 milhões a fugir de suas casas, que têm a esperança de retomar a vida na sua terra natal, com a entrada em vigor do acordo de paz em todo o território colombiano.
A oposição colombiana quer converter a votação popular num referendo sobre o Presidente. A popularidade de Juan Santos chegou a 21 por cento em Maio, segundo uma pesquisa de Gallup, no menor patamar desde que ele alcançou o poder, em 2010. O nível de abstenção no referendo também é uma preocupação, porque um mínimo de 13 por cento dos eleitores registados, ou cerca de 4,4 milhões de eleitores, precisavam de votar a favor do acordo para que o mesmo fosse ratificado, o que não aconteceu. O “não” venceu!