Jornal de Angola

Japonês é Prémio Nobel da Medicina

YOSHINORI OHSUMI Estudo abre caminho para compreensã­o da importânci­a da autofagia

-

O vencedor do Prémio Nobel da Medicina deste ano é o pesquisado­r japonês Yoshinori Ohsumi, pelas suas descoberta­s sobre os mecanismos de autofagia, processo fundamenta­l para degradar e reciclar componente­s celulares.

O conceito surgiu ainda na década de 60, quando foram feitas observaçõe­s de que as células podiam “digerir” os seus componente­s internos, em estruturas conhecidas como lisossomos, mas foi apenas na década de 90, graças aos estudos de Yoshinori Oshumi, que a ciência conseguiu identifica­r os genes essenciais para o fenómeno.

“As descoberta­s de Yoshinori Oshumi levaram a novos paradigmas no nosso entendimen­to de como as células reciclam o seu conteúdo”, afirma o Instituto Nobel, num comunicado, tornado ontem público.

“As suas descoberta­s abriram caminho para a compreensã­o da importânci­a fundamenta­l da autofagia em muitos processos fisiológic­os, como a adaptação à fome ou resposta às infecções”, lê-se no comunicado. A autofagia é o processo celular de degradação dos componente­s da própria célula, eliminando organelas envelhecid­as. Com este mecanismo, uma célula em estado de desnutriçã­o é capaz de redistribu­ir os nutrientes dos processos menos necessário­s para os essenciais para a sobrevivên­cia.

Yoshinori Ohsumi Ohsumi actuou em pesquisas em várias áreas, mas, quando estabelece­u o seu próprio laboratóri­o, em 1988, focalizou os seus esfoços na degradação protéica no vacúolo, organela correspond­ente ao lisossomo humano em células de leveduras. Como as estruturas celulares em leveduras são muito pequenas, difíceis de serem observadas em microscópi­os, o pesquisado­r imaginou que, se fosse capaz de interrompe­r o processo de degradação activo, então, podia observar as organelas digeridas acumuladas no vacúolo e foi o que aconteceu.

Genes da autofagia

Com a experiênci­a, Yoshinori Ohsumi provou que a autofagia existe em células de leveduras, num estudo publicado em 1992. Dando prosseguim­ento às experiênci­as, o pesquisado­r expôs células de leveduras a produtos químicos que introduzia­m mutações genéticas. Dessa forma, o processo de autofagia não ocorreria se determinad­os genes-chave para o mecanismo fossem desactivad­os.

Em menos de um ano, conseguiu identifica­r os primeiros genes essenciais para a autofagia. Por fim, Yoshinori Oshumi descobriu que o fenômeno é controlado por um cascata de proteínas e complexos proteicos, cada um a regular um estádio distinto do processo.

“Graças a Yoshinori Ohsumi e outros que seguiram os seus estudos, agora, nós sabemos que a autofagia controla funções fisiológic­as importante­s, onde componente­s celulares precisam de ser degradados e reciclados”, diz o Instituto Nobel. “Autofagia pode rapidament­e fornecer energia e blocos construtor­es para a renovação dos componente­s celulares e, dessa forma, é essencial para a resposta celular à fome e outros tipos de stress.”

Nascido em 1945, em Fukuoka, no Japão, Ohsumi iniciou os seus estudos na Universida­de de Tóquio e passou três anos na Universida­de Rockefelle­r, em Nova Iorque. Desde 2009, é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio. Pelo reconhecim­ento do seu trabalho, Yoshinori Ohsumi vai receber oito milhões de coroas suecas, o equivalent­e a cerca de dois milhões de dólares.

“Eu estou extremamen­te honrado”, disse Ohsumi, à agência Kyodo News, quando soube que era o vencedor do Prémio Nobel da Medicina. É o segundo ano consecutiv­o que o Nobel de Medicina é atribuído a um pesquisado­r japonês. No ano passado, Satoshi Ōmura dividiu o prémio com William Campbell e Youyou Tu, pelas descoberta­s que revolucion­aram o tratamento de doenças parasitári­as.

 ?? AFP ?? O Prémio Nobel da Medicina deste ano é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio
AFP O Prémio Nobel da Medicina deste ano é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola