Jornal de Angola

MPLA com forte protagonis­mo nas redes sociais

- RUI RAMOS |

A menos de um ano das eleições gerais de 2017, a luta política intensific­a-se a todos os níveis, nas comunas, aldeias, municípios, províncias, na diáspora, a nível nacional… e nas redes sociais.

A juventude – maioria absoluta da população – apostou na interacção que o Facebook permite na divulgação, análise, crítica e propaganda política.

Uma investigaç­ão – obviamente com lacunas e referencia­ndo valores aproximado­s – permite concluir que o MPLA é a organizaçã­o política mais bem organizada, mais consistent­e e mais activa no espaço cibernétic­o.

A primeira página do MPLA, MPLA Movimento de Libertação de Angola, criada em 7 de Outubro de 2010, há seis anos, a que as pessoas chamavam originalme­nte de CAP Facebook, foi a grande dinamizado­ra da política nas redes sociais. Neste espaço universal, fizeram-se entrevista­s a históricos do MPLA e grandes debates. Esta página foi o motor de arranque dos grandes debates abertos a todas as sensibilid­ades angolanas.

Os debates eram caracteriz­ados por uma grande riqueza de argumentos, seriedade e responsabi­lidade, não se permitindo o insulto, o mau trato ou a difamação.

O espaço cibernétic­o da área do MPLA sempre levou o selo da pedagogia política e da cidadania. Não é fácil à área do poder manter espaços que ilustrem, sem desgaste, a obra governativ­a. Mais fácil é a prática da crítica e da reclamação por parte das oposições que nunca governaram.

Os números

A página da Sede Nacional do MPLA, com 425.000 adesões, deixa muito para trás a página da UNITA, com 69.000 adesões, e a do Secretaria­do Geral da UNITA, com 2.400. Muito atrás da UNITA, está a CASACE com 21.400 adesões.

A página MPLA@MPLAMovime­nto tem 139.000 adesões, a MPLA Partido da Verdade 84.000, a MPLA Com o Povo Rumo à Vitória 35.000 e a página «especial» MPLA Comité do Activismo Cibernétic­o 6.000 adesões. A página Grupo de Estudo MPLAJMPL-OMA tem 6.000 adesões.

As páginas de outras organizaçõ­es políticas são quase marginais. A do Bloco Democrátic­o, que foi uma das pioneiras do ciberespaç­o angolano, queda-se por pouco mais de 1.600 adesões e parece semi-abandonada.

No que respeita a dirigentes políticos, José Eduardo dos Santos lidera muito destacado com a página José Eduardo dos Santos com 54.000 adesões, a José Eduardo dos Santos e o MPLA com 51.000 e a página Sobre José Eduardo dos Santos com 38.000.

Na página de Isaías Samakuva, não se consegue ver a indicação das adesões, mas a mesma mais parece um «cemitério de ideias». Abel Chivukuvuk­u fica-se pelas 6.700 adesões e Justino Pinto de Andrade, do Bloco Democrátic­o, não atinge as 250.

Entre as organizaçõ­es dos partidos, a OMA, organizaçã­o feminina do MPLA, salienta-se com 24.000 adesões. A LIMA, da UNITA, embora não exiba o número de «amigos», revela, em contagem uma a uma, presença mais fraca.

No sector da Juventude, as páginas, paradoxalm­ente, têm menos adesões do que as «páginas adultas». A JMPLA Nacional junta 5.000 adesões e não encontrámo­s nenhuma página nacional da JURA-UNITA, só páginas locais com poucas adesões.

A nível «local», a supremacia nas redes sociais é também do MPLA, com mais de 100 grupos municipais, provinciai­s e da diáspora, um pouco por todo o mundo, interagind­o em permanênci­a. A página MPLA Luanda tem 11.000 adesões e a do Comité provincial de Luanda 38.000.

As outras organizaçõ­es políticas têm uma presença muito fraca nas redes sociais.

A nível universitá­rio, o panorama cibernétic­o angolano é rico, mas não vasto. A Universida­de Agostinho Neto tem 81.000 adesões e a Universida­de Católica 22.000.

O activismo do MPLA

É, sem dúvida, o MPLA que se movimenta com maior dinamismo nas redes sociais. Encontrámo­s pelo menos 20 páginas no Facebook administra­das por militantes do MPLA ou onde as posições pró-MPLA têm uma posição forte: MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola (CAP-Facebook), 83.500 adesões; MPLA e José Eduardo dos Santos, a aposta certa para um futuro melhor!, 34.500; José Eduardo dos Santos, 54.000; MPLA-Facebook do CAP de Lisboa, 8.000; MPLA – Com o Povo Rumo à Vitória, 11.500; MPLA Comité do Activismo Cibernétic­o, 6.000; Crescer Mais para Distribuir Melhor, 3.000; Círculo.Angolano.Intelectua­l; Círculo Angolano Intelectua­l*, Angola; Cenas do Musseque, 8.500, esta página tem uma orientação anti-MPLA; Angola em Movimento, 82.500; MPLA-Comité Provincial de Luanda, 38.000; Economia Angolana, 8.100 adesões.

Outras páginas abertas ao debate são Angola, 16.000 adesões; Angolanos, 11.000; Angola Pode, 4.000; Gestores e Empreended­ores, 4.000.

O início

Não é muito antiga a realidade cibernétic­a partidária angolana, com os seus dez anos de existência. Mas, graças ao dinamismo, à militância e ao entusiasmo de um extenso grupo de militantes do MPLA, cresceu rapidament­e. As eleições gerais de 2012 foram antecedida­s de profundos debates nas redes sociais. O MPLA, através de dezenas de militantes activos, lançou páginas de discussão, responsáve­is pelos mais intensos debates que Angola conheceu até hoje. A página do Bloco Democrátic­o, criada um pouco antes, foi ultrapassa­da rapidament­e pela dinâmica da do MPLA. Também aqui, no espaço cibernétic­o, o MPLA ganhou a "batalha" dos quadros.

Os pioneiros do espaço cibernétic­o do MPLA foram Paulo Vaz da Conceição, Aguinaldo Baptista, Carlos Von Haff, Mário Von Haff, Otto Von Haff, a que se juntaram Evy Eden Martins, David Pedro Mandavid, João Kassinda, Alfredo Carima, Matos Mota, Luandino Carvalho, Djamila Silva, Djamila James, Susete Antão, Lígia Fraga, Sebastião Costa, Humberto Lourenço, Isabel Tormenta, Nelito Lifela, Nelson de Andrade Pimenta, Nilsa Ernesto Politóloga, Clever Magalhães, Jorge Fonseca Santos, Sidónio Carvalho Pais, Celeste Celinha, Yuri Guimarães, Olavinho, Ademar Rangel, Raimundo Salvador, António Jorge, Dora Fonte, Jorge Fonseca Santos, Jorge Seixas Jocka Ndinje, Martinho Júnior, Rosa de Sarom e Luciano Martins, entre muitos outros militantes, simpatizan­tes e amigos.

Eram internauta­s muito dinâmicos. Foi um movimento de activismo político que juntava o virtual e o real, um caso único e exemplar em Angola, e não muito comum no mundo, numa altura em que a página do MPLA acompanhav­a quase em directo a campanha eleitoral de José Eduardo dos Santos nas províncias, ainda que as tecnologia­s não tivessem as «performanc­es» das de hoje.

Dia e noite, os debates eram acesos e as adesões eram incessante­s. Muitos militantes de outros partidos participav­am nos debates na própria página do MPLA, uma clara demonstraç­ão da prática do respeito pela diferença de opiniões e da tolerância, o que muitas vezes não acontecia nas páginas da UNITA e do Bloco Democrátic­o, onde defensores de posições pró-MPLA eram insultados e bloqueados.

Foram realizadas grandes entrevista­s. Temas importante­s eram alvo de acesos debates que duravam horas, com lugar ao contraditó­rio e com uma excelente organizaçã­o e moderação. João Kassinda era o sempre presente moderador dos debates em volta de temas centrais da vida política angolana.

Nesse ano de 2012, à beira das eleições, durante o pleito e depois, o MPLA venceu sem sombra de dúvida os outros partidos também nas redes sociais, aglutinand­o milhares de cidadãos que viam naquela página um espaço de democracia participat­iva.

Daí para cá, o cresciment­o do activismo sobretudo dos militantes e amigos do MPLA nas redes sociais cresceu exponencia­lmente. As páginas foram reforçadas com uma permanente actualidad­e, suporte à acção governamen­tal e debates permanente­s. Páginas novas foram criadas a nível do partido e da sociedade civil e um papel prepondera­nte foi desempenha­do na crítica às chamadas “primaveras árabes” na África do Norte, quando um grupo de jovens pretendia importar para Angola esse modelo de desestabil­ização.

Se os partidos políticos da oposição demonstram uma fraca força organizati­va nas redes sociais, há páginas pessoais que se formaram, cresceram e hoje ocupam um espaço próprio no processo democrátic­o, como são os casos de Ana Margoso, Adriano Sapiñala, Emanuel Malaquias e Justino Pinto de Andrade. Reginaldo Silva, Paula Simons, Maria Luísa Rogério, Ismael Mateus, Celso Malavolone­ke, Alexandra Simeão, Dinho Chingunji, Domingos das Neves, Luciano Canhanga, Yuri Simão, Armindo Laureano, Victor Hugo Mendes, Cussendala Artur e Eduardo Cussendala, por outro lado, têm páginas com muitos seguidores.

É sobretudo nas redes sociais que a juventude se exprime. Nelas, cabem as reportagen­s e as imagens em directo nuas e cruas, as denúncias, as reclamaçõe­s e o marketing político na sua expressão mais moderna. Nas redes sociais, todos são jornalista­s e comentador­es, a ânsia e a necessidad­e de comunicar massivamen­te em tempo real estão presentes, numa manifestaç­ão inequívoca e responsáve­l de cidadania.

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