MBANZA MAGINA
Famílias mais vulneráveis do Zaire transferidas para casas evolutivas
Um grupo de 50 famílias residentes em zonas de risco nos bairros periféricos da cidade de Mbanza Congo foi realojado em casas evolutivas na aldeia de Mbanza Magina. Com cerca de 600 residências, a localidade adquire hoje uma nova imagem, com várias melhorias, como a colocação de iluminação pública ao longo da estrada principal.
Além de famílias residentes em zonas consideradas de risco, parte das 50 casas evolutivas, construídas em ambos os lados da estrada de acesso a Mbanza Magina, no âmbito do programa de fomento habitacional, foi distribuída a regressados da vizinha República Democrática do Congo.
A aldeia de Mbanza Magina, cujas ruas estão ainda por asfaltar, fica cinco quilómetros a noroeste da cidade de Mbanza Congo. Nos últimos 14 anos, viu estabelecido o fornecimento de electricidade e água potável e construído um posto de saúde e escolas. A população, composta na sua maioria por mulheres, reclama, sobretudo, da falta de moageiras para transformar a grande quantidade de mandioca produzida.
A romaria de mulheres e crianças que antes se assistia para acarretar água do rio Lueji terminou. Um chafariz e uma lavandaria, construídos no quadro do Programa de Combate à Fome e à Pobreza, garantem o abastecimento às famílias.
Com um reservatório de cinco mil metros cúbicos, instalado numa elevação de onde a água desce por gravidade, o chafariz é aberto duas vezes ao dia durante três horas. Um grupo gerador de 2.000 mil kva assegura o fornecimento de energia eléctrica das 17 às 8h00 do dia seguinte.
A maioria das casas é feita de adobe queimado, umas cobertas de capim e outras de chapas de zinco. Mbanza Magina, cuja via de terra batida foi terraplanada, é uma típica aldeia angolana, onde se mistura o rústico e o moderno.
O uso de material de fabrico artesanal, como o adobe queimado, na construção de casas evolutivas, serve também para promover no seio das comunidades novos métodos de edificação de residências e outras infra-estruturas, de forma simples, mas que oferecem melhores condições de segurança e de comodidade.
Apesar dos avanços sociais registados, Mbanza Magina é uma localidade pacata, com um ambiente propício para quem procura fugir da agitação dos aglomerados humanos. Quem ali chega de manhã, encontra casas com as portas abertas, com as famílias a prepararem-se para ir à lavoura, principal actividade económica da comunidade.
Ao cruzarem-se logo pela manhã, os aldeões saúdam-se com a habitual expressão kikongo “lwashikama?” – “acordou bem?” em português.
“Terra de xarás”
O regedor André Domingos Adriano levou a equipa de reportagem à casa do soba Sebastião Matondo, um ancião na casa dos 70 anos, que encontrámos a matabichar na companhia da mulher e de duas filhas.
À sombra de uma árvore, o velho soba contou que o local foi o escolhido por elementos do clã Kiwanga, idos de Kimpese, no município do Cuimba, comuna da Serra de Kanda, antes da chegada dos portugueses.
Magina, em kikongo, significa “xará”, enquanto Mbanza, quer dizer terra. A designação “terra de xarás” advém da cadeia montanhosa que a circunda. Na vigência do antigo reino do Congo, a comunidade de Mbanza Magina granjeou o respeito do rei, que trocava, com os seus antecessores, ideias sobre vários assuntos sociais pertinentes da vida colectiva.
Sebastião Matondo disse que a aldeia registou grandes mudanças após a independência e, sobretudo, desde a conquista da paz. A população está satisfeita pelo acesso à água potável, electricidade, cuidados primários de saúde e escolas para as crianças. Os habitantes locais pedem o asfaltamento da estrada de acesso, a criação de oportunidades de emprego e a instalação de moageiras.
“O Governo deve-se preocupar em asfaltar a estrada. Os táxis que operam nesta zona são motorizadas e cobram 300 kwanzas pela corrida até Mbanza Congo”, disse o regedor Domingos Adriano.
A poeira ao longo da estrada é uma das principais reclamações dos habitantes da zona. A partir das 18h00, os moto-taxistas chegam a cobrar mil kwanzas pelo transporte de passageiros, valor exorbitante para os habitantes de Mbanza Magina, cujos rendimentos provêm das lavras e da caça.
Mbanza Magina está subdividida em dez zonas, cada uma com um soba, auxiliado por um conselheiro (também tratado de seculo) e um secretário. As três figuras conformam a máxima estrutura do poder tradicional em cada zona, encarregada de resolver as diversas querelas nas comunidades. Problemas como violação sexual de menores, violência doméstica ou acusação de práticas de feitiçaria são encaminhados à Polícia e ao Lumbu, tribunal tradicional, que funciona
O acesso ao emprego constitui uma das principais preocupações dos jovens de Mbanza Magina, que reclamam das empresas de construção civil por recrutarem pessoal a partir de Luanda.
“Alguns jovens desta região dominam a arte da alvenaria, mas são ignorados pelas empresas. Quando trabalham como ajudantes nas obras, o emprego dura pouco tempo”, afirmou o regedor Domingos Adriano.
Maria Maiomona, 58 anos, pisava bombó num pilão tradicional à porta de casa. Reclamou da falta de moagens na aldeia. “Saímos da lavra já cansadas e temos de pisar o bombó para transformar em fuba e fazer funji para o jantar”, referiu.
Cultura milenar
A caça de animais selvagens é uma actividade lucrativa em Mbanza Magina, mercê da abundância e da diversidade da fauna. A arte é transmitida de geração em geração, mas Domingos Adriano afirmou que alguns costumes seculares deixaram de ser observados.
Quando caçam um animal, os jovens apressam-se a telefonar para os compradores, recebem dinheiro e regressam à comunidade, o que para ele não é correcto, porque a prática tradicional da região reza que a carne deve ser partilhada com os vizinhos.
Muitas vezes, os jovens não conseguem clientes nas matas, embalam a carne e viajam clandestinamente para a cidade de Mbanza Congo, onde vendem, fugindo assim à tradicional divisão comunitária.
Ao som dos tambores
A dança é uma das expressões culturais que sobreviveu ao tempo. O exemplo disso pode ser visto através do grupo “Mbanza Magina”, que já actuou noutras províncias do país. Quando os seus membros se reúnem para ensaiar, atraem muitos vizinhos e transeuntes, que não resistem ao som dos batuques.
Outras tradicionais vão sendo deixadas para trás com o tempo. A circuncisão antes era feita numa cerimónia realizada num local discreto e distante da aldeia, onde os mancebos permaneciam recolhidos durante dois meses a receber ensinamentos necessários para a vida adulta. Hoje, os jovens recorrem aos hospitais.