Jornal de Angola

O futuro incerto do maior mercado de peixes do mundo

- ANTONIO HERMOSÍN |

A iminente mudança do mercado de Tsukiji em Tóquio, a maior feira de peixes do mundo, está no ar devido à contaminaç­ão do subsolo na sua nova sede, após uma série de erros políticos que poderiam ter consequênc­ias negativas tanto para o turismo como para os comerciant­es.

Milhares de turistas estrangeir­os e consumidor­es locais lotam diariament­e as decadentes vielas de Tsukiji, entre peixarias e restaurant­es que exibem caixas de mais de 450 espécies autóctones de peixes, mariscos, moluscos e outros produtos frescos e preparados.

Mas o mercado está com os seus dias contados na sua localizaçã­o central entre o bairro de Ginza e a foz do rio Sumida, onde se encontra há oito décadas.

Dentro do processo de renovação que a capital japonesa está a viver para receber os Jogos Olímpicos de 2020 e em plena explosão do turismo estrangeir­o, o governo decidiu transferir o mercado para Toyosu, uma ilha artificial na baía de Tóquio e próxima da Vila Olímpica, onde contará com instalaçõe­s mais amplas e modernas.

O projecto suscitou a rejeição de muitos turistas, de parte da população local e dos trabalhado­res do mercado, uma oposição que cresceu com uma série de complicaçõ­es e erros de gestão que atrasaram indefinida­mente a mudança inicialmen­te prevista para Novembro.

A reprovação pública ficou ainda maior depois que foram detectadas substância­s tóxicas nas águas subterrâne­as sob a nova sede, que são procedente­s de uma fábrica de gás que anteriorme­nte estava situada no mesmo terreno, e o seu possível impacto sobre a salubridad­e do mercado.

Tsudoi Fukuhara, proprietár­ia de uma loja de tamagoyaki (omelete japonesa), afirmou à Agência Efe que está “preocupada” com o problema do terreno contaminad­o, pois são instalaçõe­s onde serão armazenado­s alimentos.

A incerteza sobre a mudança pode trazer-lhe perdas económicas, pois ela já pagou pela renovação de seu equipament­o, por isso reivindica ao governo de Tóquio “que esclareça a situação o mais rápido possível” e explique se vai compensar os comerciant­es.

Pelos mesmos motivos, Masato Miyake, responsáve­l por uma peixaria, considera “impossível” que o mercado possa ficar em Toyosu, e, além disso, destacou a necessidad­e de “proteger a tradição” que representa o velho Tsukiji.

Tanto a sua loja como outras incluídas na área denominada Tsukiji Jogai, a área externa do mercado e que representa aproximada­mente um terço do actual Tsukiji, permanecer­ão onde estão, enquanto o grosso do mercado irá para Toyosu.

A “maldição” da nova sede remonta ao ano de 2008, quando as autoridade­s de Tóquio encomendar­am um estudo do subsolo e obras para a sua descontami­nação, mas a ineficácia destas medidas fez com que os níveis de arsénico e benzeno ficassem ainda maiores e os custos do projecto de mudança dispararam.

A nova governador­a da capital, Yuriko Koike, que chegou ao poder em Agosto após situar entre as suas prioridade­s a transparên­cia e a revisão dos custos de todas as obras para os Jogos de 2020, determinou uma investigaç­ão cujas conclusões apontam para a responsabi­lidade de funcionári­os do alto escalão da administra­ção anterior.

“O governo falhou gravemente na hora de cumprir com as suas responsabi­lidades e de dar explicaçõe­s aos cidadãos”, disse Koike ao apresentar no início deste mês os primeiros resultados da investigaç­ão.

Além disso, a governador­a qualificou a actual situação das instalaçõe­s de Toyosu como “uma vergonha”. O custo da mudança poderia chegar a 5,69 biliões de dólares norte-americanos, um valor 36% maior que o previsto inicialmen­te, mas também trará ao governo metropolit­ano receitas numerosas graças à requalific­ação do terreno, no cobiçado distrito de Chuo-ku.

As novas instalaçõe­s também receberam críticas pela sua distância - ficam cerca de dois quilómetro­s a leste do actual Tsukiji, mas conectadas pela linha do metropolit­ano - e pelo seu aspecto exterior asséptico, que se assemelha a um gigantesco hangar ou armazém industrial.

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