China aposta no reforço da capacidade produtiva
Evolução da relação com o país asiático agrega dirigentes da comunidade lusófona em Macau
A Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa, que decorre em Macau, é tida como a de mais alto nível de todas já realizadas e representa a indicação da crescente importância e complexidade desta relação multilateral, reconheceu a organização.
A organização reconhece que a quebra do preço das matérias-primas, que se faz sentir nas economias brasileiras, angolana e moçambicana se traduz numa redução das trocas comerciais destes países com a China. Porém, refere a organização, “a crise global traduz-se também numa diversificação da relação, coincidindo com a nova política do Governo central da China para a África.”
O mais recente relatório da agência Moody´s sobre Angola, divulgado em Setembro, indica que, desde final de 2015, o país recebeu mais de oito mil milhões de dólares da China, dinheiro que tem permitido cobrir o défice orçamental resultante da baixa dos preços do petróleo. Em relação a Moçambique, a China tem-se comprometido a apoiar o país numa altura em que está suspenso o financiamento do FMI, afectando as finanças públicas e obrigando a restrições orçamentais e à paralisação de investimentos.
A secretária-geral do Fórum de Macau, Xu Yingzhen, afirmou recentemente que, nos últimos três anos, os países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste receberam da China empréstimos, com condições vantajosas, no montante de 270 milhões de dólares, conforme acordado no Plano de Acção 2013-2016 que saiu da quarta conferência ministerial do fórum, realizada em 2013.
O investimento da China nos países de língua portuguesa, adiantou, ascendia, no final de 2015, a 4,5 mil milhões de dólares, havendo actualmente cerca de 400 empresas chinesas com investimentos nestes países. O secretário-geral adjunto, Vicente de Jesus Manuel, acrescentou que estes créditos financiaram projectos em zonas económicas especiais em Moçambique (o de maior destaque) e Angola, um centro de formação técnico-profissional e outro de distribuição de energia e água. Vicente Manuel diz que os países de língua portuguesa têm hoje uma “expectativa maior” da cooperação económica com a China, como o apoio à industrialização.
“A conjuntura actual de todos os países de língua portuguesa não é das melhores, as trocas comerciais estão a declinar em cerca de 18 ou 19 por cento em relação aos anos anteriores, pelo que, uma das saídas para inverter esta situação é diversificar a economia dos países que são maiores exportadores de matérias-primas não processadas”, afirmou.
Duas componentes que integram o próximo plano de acção do fórum, da conferência ministerial que ontem terminou, são a estratégia “Uma faixa, uma rota” e o reforço da capacidade produtiva dos países de língua portuguesa. Outra nova vertente do relacionamento bilateral e multilateral é o da internacionalização do renminbi - a moeda chinesa -, facilitador do investimento e das trocas comerciais para as empresas e do financiamento para os Estados, que terá um pólo importante no sector financeiro de Macau, cujos bancos demonstram estar melhor apetrechados para estes serviços.
A quinta reunião ministerial do Fórum Macau, mais de uma década depois do início da instituição, conta com os primeiros-ministros de Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e China, tendo sido considerada a de mais alto nível de sempre. Angola, Brasil e Timor-Leste estão representados por ministros. A conferência conta ainda com a presença de empresários de vários países de língua portuguesa, prevendo-se a assinatura de múltiplos acordos empresariais.