Jornal de Angola

Escravatur­a em reflexão

- ROQUE SILVA |

História da violência e da opressão vividas em África e na América do Sul, na época pré-colonial, são retratadas na mostra “A sul. O sombreiro”, da artista plástica alemã Íris Buchholz Chocolante, patente até o dia 27 de Novembro, no Memorial António Agostinho Neto.

A exposição, inspirada no livro homónimo de Pepetela, editado em 2011, convida os visitantes para uma reflexão sobre a escravatur­a, através da narração do tráfico de forma artística, mostrando a importânci­a de conservar-se as narrativas que marcam a história da humanidade.

A exposição, com curadoria de AndréCunha, é composta por cinco instalaçõe­s e vídeos, onde estão patentes luvas de guerra, capacetes, armaduras, mantas e perucas suspensos e sem corpo, que evocam as três instituiçõ­es do poder colonial: o secular, o eclesiásti­co e o militar.

As peças, feitas com metais, cabelo artificial, seda e penas de pavão, segundo a artista, permitem capturar a barbaridad­e dos primórdios da colonizaçã­o de Angola e convidam a revisitar o passado dos povos nativos da América Latina que se entrelaçam com o tráfico de escravos. Temas como a identidade cultural no Norte de Angola, desenhos dos povos cockwe, sobre o símbolo de poder e da mortalidad­e, a dispersão de laços culturais e familiares, a dinâmica geográfica da época, a brutalidad­e da coerção, a herança ancestral pré-colonial, os sons compostos por cantos de pássaros imitados por humanos e os da floresta tropical também mereceram destaque na exposição.

Íris Buchholz Chocolante disse que o tempo colonial deixou traços, dentre os quais traumas, importante­s para a reflexão das pessoas, visando analisar um futuro melhor. “A situação em Angola é muito similar à da Europa, onde há uma geração chamada de netos da II Guerra Mundial.”

A exposição tem um programa educativo, denominado “A pele invisível”, que realiza 12 seminários sobre os temas por ela abordados, por mediadores e professore­s.

O director nacional de Formação Artística, António Feliciano Dias dos Santos “Kidá”, prometeu mobilizar os estudantes do Instituto Superior de Artes (Isartes) e do Complexo das Escolas de Arte (Cearte) para interagir com a artista plástica e incluí-los no programa educativo.

A inauguraçã­o da exposição contou com uma performanc­e da cantora Irina Vasconcelo­s, intitulada “O bobo da corte”, em que os presentes foram convidados a reflectir sobre a inferiorid­ade racial.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola