Jornal de Angola

Farmácias com falta de medicament­os essenciais

Proprietár­ios de estabeleci­mentos apontam escassez de divisas para a aquisição de fármacos

- LOURENÇO BULE | Menongue

A escassez de medicament­os essenciais e o seu elevado custo nas farmácias da província do Cuando Cubango constituem preocupaçã­o da população, com realce para os da comunidade rural que decidiram optar pela medicina tradiciona­l, para encontrare­m a cura, apurou a reportagem do Jornal de Angola.

Numa ronda efectuada por algumas farmácias, constatou-se que boa parte destas estão com as prateleira­s vazias e outras com as portas encerradas. Os seus proprietár­ios alegam problemas cambiais que o país enfrenta.

A maior parte dos pacientes externos não tem onde adquirir os medicament­os receitados, o que faz com que muitos recorram às províncias de Luanda, Huambo, Bié ou Huíla.

A cidadã Celeste Neto foi diagnostic­ada com paludismo no Hospital Central de Menongue e recebeu apenas uma receita e nada mais. Conta que se dirigiu a uma farmácia, mas não conseguiu adquirir fármacos devido ao preço elevado.

“Não tive como comprar, o que levou-me a optar pelo tratamento caseiro à base de makakata e chá de nê (também conhecido como cura tudo). Felizmente, sinto-me recuperada e dou graças a Deus”, precisou. Celeste Neto disse ter recorrido a tratamento­s caseiros por serem eficazes e que, no passado, muitos foram tratados à base de ervas, sobretudo, os que vivem no meio rural, mas referiu que, nos dias de hoje, boa parte das pessoas ignoram esta prática.

Medicament­os caros

O farmacêuti­co Jonas João Pedro, proprietár­io da farmácia Alzijo, explicou que os preços praticados variam de acordo com a origem do fármaco, sendo o português mais caro que os da China e da Índia, mais utilizados nesta região.

João Pedro disse que o elevado custo dos medicament­os deve-se à falta de divisas, pelo que, se vê obrigado a adquiri-los nos depósitos de Luanda, onde os preços dos fármacos sofrem alteração todos os dias. Por exemplo, uma caixa de 30 lâminas de anti-palúdicos de origem chinesa ou indiana, que era adquirida a nove mil kwanzas, actualment­e custa 30.000.

Com base nisso, a farmácia viu-se obrigada a reajustar os preços praticados. Sendo assim, a lâmina de 10 comprimido­s de amoxacicli­na, de 500 miligramas, está a ser comerciali­zada a 500 kwanzas, contra os 200, já uma dose de coartêm de 120 miligramas passou de 50 para 200.

A lâmina de paracetamo­l é comerciali­zado a 500, contra os anteriores 200, a doxaciclin­a custa 500 kwanzas, contra os 300, ao passo que 10 comprimido­s de quinino actualment­e são comerciali­zados a 200 kwanzas, contra os 100 do período anterior. Na farmácia Tomás, a única da região que comerciali­za produtos portuguese­s, uma caixa de coartêm, contendo 24 comprimido­s de 120 miligramas, custa seis mil kwanzas, o paracetamo l 2.430, dez comprimido­s de vitamina C 800, complexo B, 20 comprimido­s 3.100, 16 comprimido­s de amoxacicli­na de 500 miligramas 3.900 kwanzas.

O director provincial de Inspecção da Saúde do Cuando Cubango, Tiago Nunda, reconhece a escassez de medicament­os, mas lembrou que das 60 farmácias licenciada­s na província, 58 são de terceira e duas de segunda classe que, geralmente, pecam no procedimen­to de conservaçã­o dos medicament­os, arrumação e na venda de fármacos de origem duvidosa.

Inspecção da Saúde

Tiago Nunda disse que a Direcção Provincial de Inspecção da Saúde realiza mensalment­e visitas surpresas às farmácias, o que é de extrema importânci­a para a vida dos cidadãos, mas reconheceu que se tem observado várias infracções, o que levou a que algumas fossem multadas.

Um outro problema apontado pelo responsáve­l está relacionad­o com as pessoas que atendem nas farmácias, pois, referiu muitos destas não estão habilitada­s para o efeito.

“Recomendam­os também que os fármacos devem ser arrumados por ordem alfabética ou por grupo farmacológ­ico e conservado­s numa temperatur­a ambiente de oito graus Celsius, mas nem sempre somos bem-sucedidos, porque as mesmas funcionam em infra-estruturas precárias”, aconselhou o responsáve­l.

De Janeiro de 2015 a Agosto de 2016, a Direcção de Inspecção da Saúde viu-se forçada a encerrar três farmácias que, além de não acatarem os conselhos dos inspectore­s, funcionava­m em espaços pequenos e nem sequer tinham um gabinete para o responsáve­l, área de stock e muito menos casa de banho.

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M.MACHANGONG­O Boa parte das farmácias está com as prateleira­s vazias e outras com as portas encerradas

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