Assinado acordo histórico em Kigali para redução do aquecimento global
Mais de 150 países chegaram ontem a um acordo tido como “monumental” para eliminar progressivamente um dos gases que mais contribuem para o aquecimento global. Trata-se dos hidrofluorcarbonetos (HFC) que são usados em frigoríficos, nos aparelhos de ar-condicionado e nos aerossóis.
Reunidos na capital do Ruanda, Kigali, representantes daqueles países aceitaram fazer uma emenda ao Protocolo de Montreal, fixado em 1987 e que determinou a progressiva proibição de produtos que destroem o ozono na estratosfera – que obriga os países mais ricos a reduzirem o uso de HFC, já a partir de 2019.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que ajudou a alcançar este acordo, que os governos são obrigados a cumprir, considerou tratar-se de uma grande vitória para o planeta Terra. “É um monumental passo em frente, que atende às necessidades de cada nação, mas que nos dará a oportunidade de reduzir o aquecimento global”, enfatizou, em declarações à BBC.
As conversações que resultaram no estabelecimento deste novo acordo, em Kigali, não atraíram as mesmas atenções que o acordo sobre as mudanças climáticas estabelecido em Paris, no ano passado. Mas nem por isso o seu impacto promete ser menor na desaceleração do aquecimento do planeta. “É provavelmente o passo mais importante que podíamos ter dado para limitar o aquecimento global do nosso planeta e para as gerações vindouras”, insistiu Kerry.
Enquanto o acordo de Paris incluía promessas de quase todos os países para reduzir as emissões de dióxido de carbono, o novo acordo de Kigali tem um único alvo: os hidrofluorcarbonetos usados em aparelhos de arcondicionado, frigoríficos e aerossóis e outros dispositivos, e que são gases com efeito de estufa. Apesar de constituírem uma pequena percentagem dos gases libertados para a estratosfera, a sua potência é das mais elevadas, calculando-se que seja mil vezes mais potente do que o dióxido de carbono. A ideia será assim substituí-los com alternativas mais favoráveis ao planeta.
Por outro lado, enquanto as promessas de Paris são vagas e de adesão voluntária, como recorda a CNN, o acordo de Kigali inclui metas e calendários adaptados a cada grupo de países, prevendo sanções para os infractores. Por outro lado, os países mais ricos comprometeram-se a ajudar a financiar a transição dos países mais pobres para os produtos alternativos aos HFC. Pormenorizado como é, o acordo de Kigali oferece mais probabilidades de conseguir blindar a actuação da indústria contra o planeta, segundo os seus subscritores.
E, dado o poder de retenção de calor dos HFC, os cientistas acreditam que o acordo de Kigali vai evitar um aumento das temperaturas atmosféricas em quase um grau Fahrenheit. A ideia é evitar um aumento da temperatura atmosférica de 3,6 graus Fahrenheit - o ponto em que, segundo os estudos científicos, o planeta ficará comprometido pela subida das águas do mar, secas severas, inundações generalizadas e escassez de água e furações mais potentes.
Espera-se, por outro lado, que este acordo possa conduzir a uma redução dos gases com efeito de estufa equivalente a 70 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera – cerca de duas vezes a poluição de carbono produzida anualmente em todo o mundo.
O acordo de Kigali funciona como uma emenda ao protocolo de Montreal que foi curiosamente o que determinou, em 1987, que os HFC começassem a ser utilizados em substituição dos clorofluorcarbonetos (CFC), os quais, além de destruírem o ozono na estratosfera também aqueciam o planeta. Proibida de continuar a recorrer aos CFC, a indústria química respondeu com os HFC, os quais não agridem a camada de ozono mas retêm o calor na atmosfera.
Tal acordo não teria sido possível, se ao longo dos últimos sete anos Barack Obama não tivesse elevado os até então obscuros esforços para alterar o Protocolo de Montreal a prioridade da Casa Branca. Em 2013, o Presidente norte-americano reuniuse com o Presidente chinês, Xi Jinping, convencendo-o a reduzir a produção de HFC, sendo que a China era então o maior produtor mundial daquele químico.
Este acordo de Kigali estabelece metas diferentes para os diferentes países. As economias mais ricas, como a de alguns países da União Europeia e a dos Estados Unidos, vão começar a limitar o uso de HFC a partir de 2018 e comprometem-se a, tendo como referência os níveis de 2012, reduzir o seu uso em 15 por cento,até 2036, diz o “New York Times” – a agência francesa AFP, porém, diz que a meta para estes países é reduzir o uso de HFC em 10 por cento até 2019.
Alguns países em desenvolvimento, como a China, o Brasil e todos os países africanos, comprometem-se a diminuir o uso de HFC a partir de 2024. O objectivo é que, por volta de 2045, o seu uso tenha caído 20 por cento. Já o Paquistão, a Índia e o Irão avançarão a passo mais lento: a meta para estes que são dos mais quentes do mundo é reduzir o uso daquele químico só a partir de 2028, conseguindo uma diminuição de 10 por cento até 2032 em relação ao período 2024-2026.