Jornal de Angola

Assinado acordo na RDC

Chikoti garante estarem criadas as condições para reunião sobre a RDC na capital angolana

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

O Governo da República Democrátic­a do Congo (RDC) e a oposição chegaram ontem a acordo para adiar até 29 de Abril de 2018 as eleições presidenci­ais previstas para Dezembro deste ano. A informação sobre o acordo foi confirmada ontem em Luanda pelo ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, e em Kinshasa por Edem Kodjo, ex-primeiro-ministro do Togo e mediador nas negociaçõe­s entre o governo e a oposição promovidas pela União Africana (UA), pelo Órgão para a Política, Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) e pelos Estados membros da Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), que organiza na quarta-feira da próxima semana uma cimeira em Luanda sobre a RDC. O acordo, que não foi assinado por Étienne Tshisekedi, líder da União para a Democracia e Progresso Social, nem pelo milionário Moïse Katumbi, candidato à presidênci­a da RDC e antigo governador do Katanga, estabelece que o Presidente Joseph Kabila deve permanecer no poder até à realização das eleições, apesar de ter completado já os dois mandatos permitidos pela Constituiç­ão. A oposição deve indicar um primeiromi­nistro de transição para governar o país até às eleições.

Luanda acolhe na quarta-feira da próxima semana a reunião da Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) sobre a crise na República Democrátic­a do Congo (RDC), num ambiente de cordialida­de e de consenso, após a Maioria Presidenci­al que suporta o Presidente congolês, os partidos da oposição e as forças da sociedade civil integradas no Diálogo de Paz mediado pela União Africana chegarem a acordo sobre as grandes questões que dividiam o país.

A reunião resulta do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação na RDC e na Região dos Grandes Lagos, assinado em 2013 e promovido pela ONU, União Africana, Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) e CIRGL, esta última liderada por Angola, a quem a ONU pediu para albergar a cimeira, tendo o Governo aceite o repto.

Na semana passada, numa reunião realizada em Kinshasa, para a avaliação da situação na RDC, o Órgão para Política, Defesa, Cooperação e Segurança da SADC saudou o que chamou de “progressos encorajado­res” no Diálogo Nacional e no processo de registo eleitoral.

No encontro foram consultado­s embaixador­es acreditado­s junto da RDC, o facilitado­r da União Africana do diálogo nacional, o ministro dos Negócios Estrangeir­os e Cooperação Internacio­nal da RDC, o presidente da Comissão Eleitoral Independen­te deste país, da Maioria Presidenci­al, representa­ntes da “rassemblem­ent”, da oposição que integra o diálogo e da sociedade civil e de grupos religiosos congoleses.

O ministro angolano das Relações Exteriores deslocou-se ontem a Kinshasa, onde testemunho­u a assinatura do acordo que adia as eleições gerais da RDC para 29 de Abril de 2018 e permite ao Presidente Joseph Kabila governar até à realização da votação.

Antes de embarcar para a capital congolesa, Georges Chikoti garantiu que estão criadas todas as condições para Luanda acolher a cimeira sobre a RDC. Os convites, disse, foram já endereçado­s e as presenças estão confirmada­s. “Participam 12 países da região, os ministros destes países, a União Africana, a SADC, a região dos Grandes Lagos e as Nações Unidas, como garante, ao lado dos enviados especiais da União Europeia, Estados Unidos, França e Inglaterra”, precisou. O acordo entre o Governo congolês e a oposição, explicou Georges Chikoti, conclui as negociaçõe­s entre as partes, permite a formação de um Governo de inclusão, com um primeiro-ministro da oposição congolesa, o que, espera-se, vai aliviar a pressão que a sociedade congolesa estava a viver.

Os ausentes

Questionad­o se toda a oposição congolesa respaldou o acordo, o chefe da diplomacia angolana esclareceu que fizeram-no apenas os que participar­am no diálogo. “Não participou o ‘Ressamblem­ent’, que é uma parte do UDPS, partido de Etiene Tshisseked­i. Mas a outra parte, a do secretário-geral, participou. O senhor Moise Katumbi não fez parte do diálogo, por ainda se encontrar fora da RDC”, esclareceu.

Georges Chikoti sublinhou que o acordo assinado ontem em Kinshasa “fica aberto para os partidos políticos que não participar­am na negociação poderem aderir” e que o Presidente Joseph Kabila, que vai dirigir o Governo de inclusão liderado por um primeiro-ministro da oposição, prometeu formar o Executivo tão logo seja assinado o acordo com a oposição.

Com este acordo, conseguido com a mediação da comunidade internacio­nal, a “Ressamblem­ent”, que convocou para hoje uma greve geral para pressionar o Presidente Joseph Kabila a deixar o poder no final do seu segundo e último mandato e o acusa de pretender mudar a Constituiç­ão para concorrer a um terceiro mandato, corre o risco de ficar à margem dos caminhos que conduzem ao desenvolvi­mento da RDC.

O diálogo nacional na RDC deu, na segunda-feira, “luz verde” a um acordo para o adiamento das eleições presidenci­ais inicialmen­te previstas para Novembro deste ano e para o Presidente cessante Joseph Kabila, cujo segundo e último mandato terminava em Dezembro, permanecer no cargo até à realização da votação.

O acordo

O acordo, assinado ontem, estabelece que as presidenci­ais são realizadas em 29 de Abril de 2018 e a transferên­cia de poder do Presidente cessante para o Presidente eleito acontece em 9 de Maio.

Também prevê a criação de um novo Governo, com o posto de primeiro-ministro a ser entregue a um integrante da oposição que participou no diálogo, que, segundo algumas fontes, é o presidente do partido União para a Nação Congolesa (UNC), Vital Kamerhe.

O facilitado­r da União Africana no diálogo nacional na RDC, Edem Kodjo, confirmou a realização do acordo entre todos os envolvidos no “diálogo nacional”, assinado depois de o Tribunal Constituci­onal congolês aprovar o pedido da Comissão Eleitoral Nacional Independen­te para adiar as eleições e autorizar o Presidente cessante, Joseph Kabila, a permanecer no cargo até à realização em simultâneo das presidenci­ais, legislativ­as e regionais.

Segundo algumas fontes, o Presidente Joseph Kabila prometeu respeitar a Constituiç­ão congolesa, que o proíbe de concorrer a um terceiro mandato ao cargo.

 ?? REUTERS ?? Acordo assinado em Kinshasa após negociaçõe­s entre o Governo e a oposição prevê governo inclusivo para já e eleições em 2018
REUTERS Acordo assinado em Kinshasa após negociaçõe­s entre o Governo e a oposição prevê governo inclusivo para já e eleições em 2018

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola